Estados Unidos reprovam demora da Hungria a aprovar adesão da Suécia à NATO

por Inês Moreira Santos - RTP
Szilard Koszticsak - EPA

O presidente do Parlamento húngaro considerou, na quinta-feira, que a ratificação da adesão da Suécia à NATO não era urgente e admitiu não ter pressa. Em reação, os Estados Unidos lamentam e criticam esta posição, acusando a Hungria de seguir uma "política externa fantasiosa" que serve os interesses da Rússia e prejudica a unidade da Aliança Atlântica.

"Não creio que haja urgência e não creio que seja uma situação excecional", declarou o presidente do Parlamento, László Kövér, que é tido como um próximo do primeiro-ministro ultranacionalista da Hungria, Viktor Orbán, ao jornal online Index.hu.

Apesar das promessas do Governo, a Hungria é o único país membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO) que ainda não ratificou a adesão da Suécia à Aliança Atlântica, depois de a Turquia a ter aprovado terça-feira passada. O governo de Viktor Orbán apoia formalmente a adesão sueca e tem justificado o atraso, entre outras questões, com as críticas da Suécia à deriva autoritária da Hungria.

O Governo húngaro critica frequentemente os aliados ocidentais e mantido relações próximas com Moscovo e Pequi. Garante, contudo, que “a Hungria não será o último país a ratificar a entrada da Suécia” na NATO.

O embaixador norte-americano em Washington criticou a abordagem do Governo de Orbán no que toca aos assuntos internacionais, baseando-se em “invasores imaginários” e numa “hungarofobia fantasiada”. Para David Pressman, a política externa da Hungria serve os interesses políticos do primeiro-ministro e mesmo os da Rússia.

“Mas no final das contas, é uma fantasia”, afirmou o diplomata dos Estados Unidos em Budapeste, numa entrevista ao Financial Times.

“Uma aliança é tão forte quanto os compromissos que assumimos uns com os outros e os compromissos que mantemos”, continuou, numa crítica aos constantes adiamentos de ratificação. “Penso que é importante que o Governo húngaro cumpra o seu compromisso, e o seu compromisso tem sido o de não ser o último aliado a ratificar a adesão da Suécia”.
"Estamos desapontados"
Internamente, as autoridades húngaras argumentam que a candidatura da Suécia não foi submetida a votação parlamentar porque o país tem criticado o estado da democracia húngara. No entanto, diplomatas que estão inteirados do processo de candidatura à NATO dizem que a Hungria nunca levantou formalmente quaisquer objeções à adesão da Suécia.

“Os Estados Unidos não têm conhecimento do que está a levar ao atraso por parte do Governo húngaro”, declarou. “Estamos desapontados por isso ter demorado tanto. E esperamos que a Hungria cumpra o compromisso que assumiu com os Estados Unidos e com os outros aliados”.

O embaixador norte-americano sublinhou também o isolamento diplomático de Budapeste, para além da questão da adesão da Suécia à NATO.

“A Hungria está realmente sozinha – e não precisa de estar”, disse Pressman, citando decisões do Governo húngaro, como o bloqueio do financiamento da UE à Ucrânia, as reuniões com Vladimir Putin e a resistência aos esforços de diversificação, afastando-se da energia russa, como “sinais preocupantes”.

Estas escolhas políticas são, na opinião do embaixador, "úteis para Putin e prejudiciais aos esforços cuidadosos para manter a aliança e os nossos parceiros unidos na resistência face à agressão” contra a Ucrânia. Pressman confirmou ainda que “propaganda e desinformação do Kremlin” estavam a ser “frequentemente” difundidas pelos meios de comunicação húngaros controlados ou apoiados pelo Governo.

Pressman acusou ainda Orbán de “participar ativamente” na campanha eleitoral dos EUA, apoiando abertamente Donald Trump, o que na opinião do diplomata não é o que se espera dos países aliados.

“A relação bilateral entre os EUA e a Hungria é extremamente difícil”, disse ainda o embaixador.

“Os húngaros têm esta ideia de que têm um dispositivo de comunicação política onde estão constantemente a falar sobre imperialismo e colonialismo e Bruxelas e George Soros – e todas estas entidades que estão a tentar ‘interferir’ na sua política interna – e é realmente uma fantasia", continuou. “E é uma fantasia que serve algum propósito político neste país, mas também distrai alguns dos desafios e oportunidades reais que a Hungria tem".
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