Estratega de Trump quer novo partido para governar "durante 50 anos"

por RTP
Carlo Allegri, Reuters

Steve Bannon pretende criar um movimento político. Espera que este cumpra as suas promessas e possa nesse caso governar os Estados Unidos durante o próximo meio século.

O jornalista Michael Wolff cita as bombásticas declarações de Bannon no relato de duas conversas que ambos mantiveram, uma no final do verão, a outra já depois das eleições. O relato vem publicado na revista e plataforma digital The Hollywood Reporter e começa com a recusa, por parte de Bannon, do rótulo de supremacista branco que traz colado: "Eu não sou um nacionalista branco. Sou um nacionalista. Um nacionalista económico".

Wolff lembra que, na conversa de final do verão, Bannon profetizara que Trump teria votações inesperadamente boas entre as mulheres, os hispânicos e os afroamericanos, para além da já esperada hegemonia no eleitorado operário branco e masculino. Profetizou também que Trump ganharia os Estados de Florida, Ohio, Pennsylvania e Michigan, o que implicava tornar-se o próximo inquilino da Casa Branca.

Na segunda conversa, em 15 de novembro na Trump Tower, Bannon era já o homem mais influente designado para a futura Administração e começou o encontro com um "Eu bem lhe dizia".
Elogio da Idade das Trevas
Wolff observa que Bannon, com o seu curriculum de extrema-direita, é agora a personificação mesma dos "dias negros" e do "buraco negro" que os democratas estão a viver. O visado, Bannon, troça de tanta negrura e comenta: "A escuridão é boa. Dick Cheney. Darth Vader. Satanás. Tudo isso é poder. Só nos ajuda que eles [os liberais] entendam mal. Que eles sejam cegos sobre quem nós somoes e sobre o que estamos a fazer".

O colunista de The Hollywood Reporter descreve Bannon como "um filho da classe operária,  que se alistou na Marinha depois da escola secundária, se formou em Virginia Tech, então Georgetown, depois na Harvard Business School. Depois esteve no Goldman Sachs, depois fez negócios e foi empresário em Hollywood".

Mais tarde viria a estar na Breitbart News Network, onde ganhou a fama e o proveito do seu posicionamento na extrema-direita. Embora deteste os Clinton, marido e mulher, observa atentamente o que foi a estratégia do ex-presidente: "A força de Clinton foi apostar nas pessoas com educação, pessoas com formação universitária. É assim que se ganha eleições".

Como, segundo Bannon, os republicanos quiseram competir com ele nesse terreno, acabaram por trair o eleitorado operário que tinha garantido a eleição de Reagan. Assimilaram a linguagem clintoniana para a classe média e deixaram livre curso à hegemonia dessa linguagem na comunicação social.

Por isso, diz Bannon, a imprensa hoje é incapaz de entender o que ele próprio diz. "Se nós cumprirmos, diz Bannon, vamos obter 60 por cento do voto branco, e 40 por cento do voto negro e hispânico e vamos governar durante 50 anos. Foi aí que os democratas falharam. Estavam a falar para estas pessoas com empresas com uma quota de mercado de 9 mil milhões que empregam nove pessoas. Perderam de vista o que é o mundo real".
Projecto de um novo partido
O Partido Republicano, que emprestou a Trump a chancela para concorrer, não parece continuar no centro dos planos de Bannon, que explica deste modo a sua afirmação sobre o "nós" que poderá governar durante 50 anos: "Tal como o populismo [Andrew] Jackson, nós vamos construir um movimento político inteiramente novo".

A chave para o sucesso do novo partido "está totalmente relacionada com os empregos. Os conservadores vão ficar loucos. Eu sou o tipo que impulsiona um plano de infraestruturas no valor de um bilião de dólares. Com taxas de juro negativas em todo o mundo, é a grande oportunidade para reconstruir tudo". O plano é construir autoestradas, siderurgias, estaleiros.

As comparações históricas de Bannon são reveladoras: "Vai ser tão eletrizante como nos anos 1930, maior do que a revolução reaganiana - conservadores e populistas, juntos num movimento económico nacionalista".
pub