Estudo atribui 94% de eficácia à vacina da Pfizer no "mundo real"

por Inês Moreira Santos - RTP
Wael Hamzeh - EPA

Um estudo israelita, divulgado esta semana, revela que a vacina da Pfizer/BioNTech tem uma eficácia de 94 por cento contra os casos sintomáticos de Covid-19 em todas as faixas etárias. As conclusões, baseadas em dados de 1,2 milhões de pessoas, mostram também que esta vacina é eficaz logo com a primeira dose. Mas a eficácia aumenta com a segunda injeção.

É o primeiro grande estudo realizado no "mundo real" e de forma independente com a vacina da Pfizer e da BioNTech e as conclusões são que a injeção é altamente eficaz na prevenção contra a Covid-19. Num momento em que vários países anseiam por pôr fim aos confinamentos e reabrir as economias, esta investigação israelita soa a boas notícias.

Até agora, a maioria dos dados sobre as vacinas contra o SARS-CoV-2 eram avaliados em condições controladas em testes clínicos, deixando algumas incertezas sobre como os resultados se traduziriam no mundo real, em condições reais - o que envolve uma maior variedade de pessoas e comportamentos e desafios logísticos, como a manutenção da rede de frio.

"Esta é a primeira prova validada por pares da eficácia de uma vacina em condições do mundo real", disse à France Press Ben Reis, um dos co-autores do estudo publicado na quarta-feira, no New England Journal of Medicine.

Realizado em Israel, dois meses depois de o país ter iniciado um dos planos de vacinação mais ambiciosos do mundo, este estudo é uma fonte de dados e revela que duas doses da vacina da Pfizer fizeram diminuir os casos sintomáticos de Covid-19 em 94 por cento em todas as faixas etárias.

A investigação, baseada em dados de cerca de 1,2 milhão de pessoas tratados por uma das maiores organizações de saúde de Israel (Clalit Health Services), entre 20 de dezembro de 2020 e 1 de fevereiro de 2021, mostrou também que uma única injeção era 57 por cento eficaz na proteção contra infeções sintomáticas após duas semanas.

"Ficamos suspreendidos porque esperávamos que no cenário do mundo real, onde a rede de frio não é mantida perfeitamente e a população é mais velha e mais doente, não obtivessemos resultados tão bons como nos ensaios clínicos controlados", afirmou Ran Balicer à Reuters. "Mas nós fizemos e a vacina funcionou bem no mundo real".

De facto, os resultados deste estudo foram semelhantes aos dos ensaios clínicos da vacina, que indicavam que duas doses eram 95 por cento eficazes.

"Mostramos que a vacina é eficaz em subgrupos muito diferentes, em jovens e idosos, naqueles sem comorbidades e naqueles com poucas comorbidades", acrescentou.
Vacina eficaz contra variantes?

A investigação israelita também sugere que a vacina, desenvolvida pela farmacêutica norte-americana Pfizer e pela alemã BioNTech, é eficaz contra a variante identificada pela primeira vez no Reino Unido. Os autores do estudo afirmam não poder indicar um nível específico de eficácia, mas a variante britânica era dominante do vírus em Israel na altura em que decorria a investigação.

Quanto à nova variante indentificada na África do Sul, os investigadores referem que ainda não há dados suficientes para comprovar a eficácia da vacina.

Mas, uma vez que no período em que se realizou o estudo a variante britânica do coronavírus era a dominante no país, a equipa de investigação considera os resultados mais interessantes.

De acordo com os dados em análise, quase 600 mil pessoas que receberam a vacina foram "associadas" com muito rigor a cerca de 600 mil outras que não receberam a injeção, e apresentando características muito semelhantes em termos de sexo, idade, mas também comorbidades e localização. Ao comparar os dois grupos, os autores concluiram que a vacinação reduziu os casos sintomáticos de Covid-19 em 94 por cento, os casos graves da doença em 92 por cento e as hospitalizações em 87 por cento.

Essas taxas aplicam-se à proteção obtida pelo menos sete dias após a toma da segunda dose.

"Esta é uma grande notícia, confirmando que a vacina é cerca de 90 por cento eficaz na prevenção de infeção documentada de qualquer grau de gravidade a partir de sete dias após a segunda dose", disse ao Guardian Peter English, consultor do governo britânico no controlo de doenças transmissíveis.

"Estudos recentes também realizados em Israel eram estudos observacionais. Este usou um desenho experimental conhecido como estudo de caso-controlo, dando maior confiança de que as diferenças entre os grupos são devido ao seu estado de vacinação, e não a algum outro fator".
Metade da população vacinada

Dos nove milhões de cidadãos de Israel, uma nação com um sistema de saúde universal, quase metade já recebeu a primeira dose e um terço recebeu as duas doses da vacina desde o início do lançamento do plano de vacinação, a 19 de Dezembro. Estes números tornaram Israel o local ideal para testar a verdadeira capacidade da vacina e, consequentemente, a sua capacidade para conter a pandemia.

O estudo, realizado em colaboração com investigadores da Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan, da Escola de Medicina de Harvard e do Hospital Pediátrico de Boston, analisou cerca de 600 mil pessoas vacinadas e outras 600 mil do grupo de controlo não vacinadas, e revelou também "um efeito bastante significativo" mesmo "antes da segunda dose", com uma eficácia de 57 por cento para os casos de Covid-19 com sintomas e 62 por cento para os casos graves.

Segundo observou à France Press Noam Barda, um dos dois principais autores do estudo, a vacina também foi 72 eficaz na prevenção de mortes por Covid-19 após a primeira dose, mas seu baixo número neste estudo torna este resultado menos confiável.

A eficácia foi relativamente consistente para todas as faixas etárias, "incluindo pessoas com mais de 70 anos", disse Ben Reis. Por outro lado, "temos indicações de que para pessoas com muitas doenças (anteriores), a vacina funciona um pouco menos bem".

Além disso, o estudo relata uma eficácia de 92 por cento contra a própria possibilidade de ser infetado (e não apenas de desenvolver sintomas). Esse é um dado crucial, pois, se for confirmado, pode indicar que as pessoas vacinadas não podem mais transmitir o vírus. Mas esse resultado deve ser visto com cautela, como os próprios autores admitem.

"É encorajador, mas ao mesmo tempo este estudo não pode garantir que detetamos todas as infeções assintomáticas", alertou Noam Barda.

Para isso, seria necessário que todos os participantes fossem testados com muita regularidade, de forma proativa, o que não era o caso aqui. Contudo, já está em andamento outro estudo da Clalit nesse sentido.

Outros centros de investigação de Israel, incluindo o Instituto Weizmann de Ciência e o Instituto de Tecnologia de Israel, compartilharam já vários estudos nas últimas semanas que mostram também que a vacina é eficaz. Pelo menos três investigações israelitas também sugeriram que a vacina pode reduzir a transmissão do SARS-CoV-2, mas os investigadores alertaram de que são necessários estudos mais amplos para ter conclusões mais claras.

Os dados mais recentes do Instituto Weizmann mostram também uma queda acentuada da circulação da doença desde que a população começou a ser vacinada, o que permitiu aligeirar as regras do terceiro confinamento nacional e reabrir alguns setores da economia. Enquanto alguns locais estão abertos a todos, outros são acessíveis apenas a pessoas com o "passe verde", significando que receberam a segunda dose da vacina há pelo menos uma semana ou que recuperaram da infeção da Covid-19.
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