Etiópia expulsa sete responsáveis de agências da ONU

por Lusa

O Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) da Etiópia anunciou hoje que vai expulsar do território sete responsáveis de agências das Nações Unidas, acusando-os de ingerência nos assuntos internos, nomeadamente sobre o Tigray.

"O Ministério dos Negócios Estrangeiros etíope, em cartas emitidas hoje, declarou sete pessoas que trabalham para várias ONG internacionais na Etiópia `persona non grata` por interferirem nos assuntos internos do país", lê-se na página do Facebook do MNE, citada pela agência francesa de notícias, AFP.

"Em virtude das cartas dirigidas a cada um dos sete indivíduos abaixo indicados, todos eles devem abandonar o território da Etiópia nas próximas 72 horas", acrescentou ainda o Governo etíope, apresentando os nomes de sete funcionários de agências da ONU, incluindo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e o Gabinete de Coordenação dos Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).

A guerra dura há mais de dez meses na região nortenha de Tigray, para onde o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, enviou o exército para derrubar as autoridades regionais da Frente Popular de Libertação do Tigray (TPLF), que acusa de orquestrar ataques aos campos militares federais.

O comunicado do MNE etíope surge no dia seguinte à divulgação de uma entrevista do chefe humanitário das Nações Unidas à agência noticiosa Associated Press (AP), na qual classificou a crise na Etiópia, onde crianças e adultos morrem à fome na região de Tigray devido a um bloqueio governamental de alimentos, material médico e combustível, como uma "mancha" na consciência.

Numa entrevista à AP, Martin Griffiths fez uma das mais severas críticas até agora formuladas sobre a pior crise mundial da fome numa década, após quase um ano de guerra.

Griffiths descreveu um cenário de privação em Tigray, onde a taxa de desnutrição é agora superior a 22% - "aproximadamente a mesma que na Somália em 2011, no início da fome" neste país, que matou mais de um quarto de milhão de pessoas.

A guerra na Etiópia começou em novembro passado, perto da época da colheita em Tigray e a ONU disse que pelo menos metade da próxima colheita irá falhar. Testemunhas disseram que as forças etíopes e aliadas destruíram ou saquearam as fontes de alimentos.

A crise da Etiópia levou a ONU, os Estados Unidos e outros a instar as partes beligerantes a parar os combates e a tomar medidas para a paz, mas Griffiths advertiu que "a guerra não parece estar a terminar tão cedo".

Pelo contrário, nas últimas semanas espalhou-se pela vizinha região de Amhara. Griffiths disse que as linhas de batalha ativas estão a fazer com que seja um desafio conseguir ajuda para centenas de milhares de pessoas a mais.

A Etiópia vai assistir à formação de um novo Governo na próxima semana com mais cinco anos de mandato para o primeiro-ministro. Griffiths, que disse ter falado pela última vez com o chefe do executivo, Abiy Ahmed, há três ou quatro semanas, manifestou a esperança de uma mudança de direção.

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