EUA. Demitido o polícia que agrediu médico militar com gás pimenta

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

Caron Nazario admite que temeu pela vida quando, a 5 de dezembro de 2020, foi mandado parar por dois polícias, que sem razão aparente lhe apontavam armas e o pulverizaram com gás pimenta. O advogado do segundo-tenente do Exército dos Estados Unidos afirma que o militar estava "apavorado" e com medo de ser "assassinado" pelos agentes policiais.

"Ele estava apavorado e com medo de que, ao mover as mãos abaixo do campo de visão do polícia Gutierrez para soltar o cinto de segurança, os polícias o assassinassem", disse num comunicado Jonathan Arthur, advogado do segundo-tenente e médico militar, Caron Nazario, que é negro e latino.

O advogado sustentou que Nazario tinha razões para ter medo, visto que os dois agentes não hesitaram em dirigir-se ao seu carro, após ter parado numa bomba de combustível, com as armas apontadas ao militar, e começaram a gritar e a gerar confusão enquanto exigiam que saísse da viatura.

Além disso, no vídeo captado pela câmara incorporada no equipamento policial ouve-se Joe Gutierrez a dizer a Nazario que devia "mesmo ter medo" e a ameaçá-lo, com uma gíria norte-americana, de que ia ser executado numa cadeira elétrica.

"Está a fazer tudo bem, desacelera, submete-se à autoridade e faz o correto, encontra uma zona bem iluminada para parar porque está numa estrada escura - para evitar que alguém se magoe - e os agentes chegam e retribuem a sua cortesia desta forma", alegou Jonathan Arthur.

Após a divulgação do vídeo que mostra o incidente, Jonathan Arthur afirmou, na segunda-feira, que o militar negro estava "satisfeito com a demonstração de apoio" que recebeu. No domingo, o polícia que aparece nas imagens a atingir Nazario com gás pimenta foi demitido.

Embora a demissão de Joe Gutierrez tenha sido "adequada", considerou o advogado, "devemos considerar medidas para cancelar a certificação dos polícias que apresentem este tipo de comportamento, de modo a impedi-los de conseguir emprego noutros departamentos da Polícia". Além disso, as instituições e departamentos policiais também devem "considerar seriamente" a falha dos agentes "ao envolverem-se em incidentes injustificados entre polícias e civis".

Entretanto, o procurador-geral do Estado de Virgínia, Mark Herring, pediu mais informações ao Departamento de Polícia de Windsor sobre o caso, afirmando que está "profundamente preocupado" com a atuação dos agentes nas operações de trânsito.

Numa carta enviada na segunda-feira, Herring descreveu a ação dos polícias como "perigosa, desnecessária, inaceitável e evitável".

O Gabinete de Direitos Civis de Herring está a solicitar registos e outros documentos que o Departamento de Polícia de Windsor tenha sobre o incidente ocorrido entre os dois agentes e o militar a 5 de dezembro de 2020 - registos de identidade dos dois polícias envolvidos no caso, políticas e protocolos do departamento da Polícia sobre o uso de força, operações de trânsito, reclamações devido ao uso de força policial, entre outros.

Em entrevista à CNN, Herring afirmou ainda que "a conduta dos policias que vimos nos vídeos foi terrível, perigosa e inaceitável".

"E as pessoas de cor continuam a sofrer com a violência e a ser pulverizadas com gás pimenta, ou até mesmo assassinadas às mãos das autoridades, e isto tem de acabar", afirmou.

Recorde-se que Caron Nazario, médico militar e segundo-tenente das Forças Armadas norte-americanas, foi perseguido, mandado parar por agentes policiais e pulverizado com gás pimenta. Após a divulgação de um vídeo do incidente, o agente Joe Gutierrez foi demitido e o governador do Estado de Virgínia ordenou uma investigação independente do caso.
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