À mesa em Riade. Estados Unidos e Rússia discutem a paz com a Ucrânia à distância

por Joana Raposo Santos - RTP
A Ucrânia, que não está a participar nas conversações, já alertou que nenhum acordo pode ser feito em seu nome nesta reunião em Riade Evelyn Hockstein - Reuters

Altos funcionários norte-americanos e russos iniciaram esta terça-feira, em Riade, as conversações mais significativas entre os dois antigos inimigos desde a Guerra Fria, com o fim da guerra na Ucrânia em cima da mesa. A aproximação entre Washington e Moscovo e os planos que poderão determinar sem o conhecimento de Kiev estão a deixar Ucrânia e Europa em sobressalto.

Para além de discutirem formas de pôr fim ao conflito na Ucrânia, Rússia e Estados Unidos deverão refletir sobre a restauração das suas relações e poderão abrir caminho a uma cimeira entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo russo, Vladimir Putin.

A Ucrânia, que não está a participar nas conversações, já alertou que nenhum acordo pode ser feito em seu nome nesta reunião em Riade. Entretanto, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, é esperado na Arábia Saudita na quarta-feira, um dia depois da reunião entre norte-americanos e russos.

A reunião, a primeira a este nível e neste formato desde a invasão russa da Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022, começou por volta das 10h30 locais no Palácio Diriyah, na capital saudita.

Do lado norte-americano, participam o secretário de Estado Marco Rubio, que chegou a Riade na segunda-feira para conversações com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, assim como o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, Mike Waltz, e o enviado especial para o Médio Oriente, Steve Witkoff.

A Rússia está, por sua vez, representada pelo seu chefe da diplomacia, Sergei Lavrov, e por Yuri Ushakov, conselheiro diplomático de Vladimir Putin.

As autoridades norte-americanas referiram-se às conversações desta terça-feira como um contacto inicial para determinar se Moscovo pretende realmente o fim da guerra na Ucrânia.

O porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, transmitiu aos jornalistas em Riade que "esta é uma continuação da conversa inicial entre Putin e o presidente Trump sobre se o primeiro passo é possível, quais são os interesses, se isto pode ser gerido".

Já o Kremlin sugeriu que as discussões vão abordar "toda a complexidade das relações russo-americanas", assim como preparar conversas sobre um possível acordo em relação à Ucrânia e planear uma reunião entre os dois presidentes.Trump, um “solucionador de problemas”?
Antes do encontro desta terça-feira, o chefe do fundo soberano da Rússia descreveu Donald Trump como um solucionador de problemas.

"Vemos que o presidente Trump e a sua equipa são uma equipa de solucionadores de problemas, pessoas que já abordaram uma série de grandes desafios de forma muito rápida, muito eficiente e com muito sucesso", disse Kirill Dmitriev aos jornalistas em Riade.

Na semana passada, o presidente norte-americano, Donald Trump, e o seu homólogo russo tiveram uma longa conversa telefónica em que, entre outros assuntos, discutiram a guerra na Ucrânia e comprometeram-se a iniciar “de imediato” negociações.

O telefonema levantou preocupações na Europa, com vários líderes a alertarem que nenhuma decisão sobre a Ucrânia pode ser tomada sem Kiev e sem os parceiros europeus. O representante da China na ONU, Fu Cong, saudou esta terça-feira as conversações entre Estados Unidos e Rússia sobre a paz na Ucrânia, mas considerou imperativo que a Europa participe.

Na segunda-feira, os líderes europeus reuniram-se em Paris para uma cimeira de emergência na qual determinaram um maior investimento na defesa, combinando também assumir a liderança na prestação de garantias de segurança para a Ucrânia.

"Todos sentem o grande sentido de urgência", afirmou o primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof, na rede social X após a cimeira. "Neste momento crucial para a segurança da Europa, devemos continuar a apoiar a Ucrânia".

"A Europa terá de contribuir para a salvaguarda de qualquer acordo, e a cooperação com os americanos é essencial", acrescentou.

Entretanto, uma fonte russa transmitiu esta manhã à agência France Press que os negociadores russos presentes nas conversações diplomáticas estão convencidos de que vão ocorrer progressos económicos em breve. Moscovo tem sido alvo de sanções devido à invasão militar da Ucrânia.

c/ agências
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