EUA revelam imagens de manobra perigosa de navio chinês no Estreito de Taiwan

por Inês Moreira Santos - RTP
Reuters

As autoridades norte-americanas divulgaram um vídeo que revela uma alegada manobra "perigosa" de um navio chinês, no Estreito de Taiwan. O incidente terá ocorrido no fim de semana, tendo a embarcação da Marinha chinesa intercetado bruscamente o trajeto de um navio de guerra dos Estados Unidos. Washington alega que a Marinha norte-americana evitou uma colisão e acusa a China de violar as regras marítimas em águas internacionais.

O incidente ocorreu no sábado, segundo as autoridades dos EUA, quando o contratorpedeiro norte-americano USS Chung-Hoon e a fragata canadiana HCS Montreal realizavam o que Washington designa como “operação de liberdade de navegação”, entre a ilha de Taiwan e a China continental.

O encontro entre as embarcações acontece numa altura em que os dois países se acusam mutúamente por não manterem as negociações militares e aumenta os receios internacionais de potenciais tensões e confrontos. A China reivindica Taiwan como uma província sua e defende que o Estreito é parte da sua zona económica exclusiva, enquanto os EUA e os países aliados navegam regularmente e sobrevoam o espaço aéreo, para enfatizar a sua noção de que se trata de águas internacionais.

No vídeo, divulgado pela Marinha dos EUA na noite de domingo, vê-se um navio de guerra chinês a navegar na rota do Chung-Hoon, que não altera o trajeto. Ouve-se uma voz, em inglês, numa aparente mensagem de rádio a apelar aos tripulantes do navio chinês para não limitarem "a liberdade de navegação", embora não sejam claras as palavras citadas devido ao ruído do vento.


Uma equipa de reportagem da estação televisiva canadiana Global News, que viajava a bordo da fragata HMCS Montreal, que acompanhava USS Chung-Hoon, conseguiu registar o momento do incidente em vídeo.

O contratorpedeiro chinês de mísseis guiados ultrapassou o Chung-Hoon a bombordo e desviou-se a uma distância de cerca de 137 metros, de acordo com o Comando para o Indo-Pacífico dos EUA. O navio norte-americano manteve o seu curso, mas reduziu a velocidade para 10 nós “para evitar uma colisão”, disseram os militares.

As imagens divulgadas mostram ainda o navio chinês a cortar o curso do contratorpedeiro norte-americano e a endireitar-se, para começar a navegar numa direção paralela. O Comando para o Indo-Pacífico considerou as ações das autoridades chinesas como uma violçaação das regras marítimas de passagem segura em águas internacionais.

O navio chinês não tentou, contudo, uma manobra semelhante na fragata canadiana, que navegava atrás do contratorpedeiro norte-americano.

“O trânsito do Chung-Hoon e do Montreal pelo Estreito de Taiwan demonstra o compromisso conjunto dos EUA e do Canadá com um Indo-Pacífico livre e aberto”, afirmou o Exército norte-americano, em comunicado. “Os militares dos EUA voam, navegam e operam com segurança e responsabilidade em qualquer lugar permitido pela lei internacional”.
China acusa EUA de prejudicar "paz e estabilidade regional"
As Forças Terrestres do Exército de Libertação Popular emitiram um comunicado argumentando que o exército chinês "agiu em conformidade com as leis e regulamentos" e acusam "países relevantes" de "provocarem deliberadamente problemas no Estreito de Taiwan", "prejudicando a paz e a estabilidade regional e enviando sinais errados às forças da independência de Taiwan".

Entretanto, também o ministro chinês da Defesa disse, numa conferência de segurança a decorrer em Singapura, que os EUA tentaram desestabilizar o Indo-Pacífico, "provocando confrontos em bloco para seu próprio interesse".

"Eles não estão aqui para uma passagem inocente. Eles estão aqui para provocar", declarou Li Shangfu, num discurso no Diálogo de Shangri-La.

Já o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou que as "medidas tomadas pelos militares chineses são completamente razoáveis, legítimas, profissionais e seguras".

"Os EUA causaram problemas e provocaram primeiro, enquanto a China lidou com isso de acordo com a lei e os regulamentos depois", disse Wang Wenbin aos jornalistas, citado pela Reuters.

Este incidente ocorreu no mesmo dia em que o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, e o ministro da Defesa da China, o general Li Shangfu, participavam em Singapura no mais importante evento sobre segurança da região Ásia – Pacífico, o Diálogo de Shangri-La. No domingo, Li acusou os EUA e os seus aliados de criarem perigos e de tentarem provocar a China, com as suas operações.

“O melhor é que os países, especialmente as suas embarcações de guerra e caças, não realizem operações de aproximação em torno dos territórios de outros países”, disse Li. “Qual é o sentido de irem para lá? Na China, dizemos sempre: ‘ Trata da tua vida que eu trato da minha’”.

Recorde-se que os EUA recentemente acusaram a China de realizar também uma “manobra desnecessariamente agressiva” no ar, sobre o Mar do Sul da China.

Um caça chinês, modelo J-16, é visto num vídeo difundido pelo Pentágono a voar nas proximidades de um avião norte-americano, um RC-135, que é normalmente utilizado para vigilância. O piloto chinês posicionou-se então bem à frente do RC-135, que foi forçado a voar através da turbulência provocada pelo caça chinês.

A China reivindica quase todo o Mar do Sul da China, apesar dos protestos dos países vizinhos. Os EUA também não reconhecem as reivindicações de Pequim sobre um território marítimo estratégico, através do qual passam cerca de cinco biliões de dólares (cerca de 4,68 biliões de euros) em comércio internacional todos os anos.

c/ agências
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