Ex-ministro dos Assuntos Europeus alerta que Governo extremista ameaça pertença à UE

por Lusa

O ex-ministro dos Assuntos Europeus Clément Beaune considera que um Governo extremista saído das legislativas francesas ameaçaria a própria pertença do país à União Europeia, acusando em particular a extrema-direita de defender "um `Frexit` escondido".

Em declarações à agência Lusa à margem de uma ação de campanha no centro de Paris, Clément Beaune afirmou que a constituição de um Governo extremista seria "uma ameaça para a França, que é um país fundador da União Europeia (UE), a sua segunda potência económica e primeira potência política".

"Um Governo extremista faria com que a França, no plano político e económico, ficasse lesada e, portanto, fosse uma potência europeia mais fraca", disse Clément Beaune, que, em 2022, integrou o Governo de Emmanuel Macron como ministro dos Assuntos Europeus, depois de ter tutelado a pasta durante dois anos enquanto secretário de Estado.

Os franceses são chamados no domingo a votar nas legislativas antecipadas, numas eleições que serão marcadas pela subida da extrema-direita e que podem mergulhar França num cenário de instabilidade.

Nestas eleições estão em causa os 577 lugares da Assembleia Nacional (parlamento). Caso nenhum partido consiga mais de 50% dos votos (ou seja, pelo menos 289 eleitos) -- um cenário provável -, haverá uma segunda volta, já marcada para o próximo domingo, dia 07 de julho.

Beaune considerou que os "partidos extremistas", à esquerda e à direita - numa alusão à União Nacional (Rassemblement National, em francês) e à França Insubmissa (France Insoumise) -, se tocam no que se refere à "rejeição da Europa" e põem em causa a própria pertença do país à UE.

"Propõem um `Frexit`, deliberadamente ou não, escondido", advertiu.

Clément Beaune referiu-se em particular às declarações do líder da União Nacional, Jordan Bardella, que disse que iria cortar em dois a três mil milhões de euros a contribuição da França para o orçamento da UE.

Para Beaune, esse corte só poderia ser feito "ou reduzindo o valor geral do orçamento europeu - e eliminando, por exemplo, a Política Agrícola Comum (PAC) -, ou então através da abertura de uma negociação com todos os Estados-membros, onde se poria em causa a própria pertença à UE".

"Portanto, não é um projeto sério a nível europeu e é um `Frexit` que não se assume", reforçou, acrescentando que o partido de extrema-direita propõe também "alianças perigosas".

"São alianças mais para leste do que para oeste, mais para Moscovo do que para Washington, e eu não quero que o interesse nacional da França [a nível internacional] - que tem sido partilhado pelos principais partidos políticos desde o general De Gaulle - seja posto em causa", salientou.

Questionado se considera que um eventual Governo extremista poderia bloquear a ação diplomática da França a nível internacional, Beaune respondeu: "A França é forte, nunca se desmoronará".

"No entanto, ter pessoas que não respeitam as instituições - vimos Marine Le Pen a pôr em causa o papel do Presidente da República enquanto chefe supremo das Forças Armadas - mostra às potências estrangeiras que estamos divididos, o que pode levar a um enfraquecimento real", disse, advertindo que seria um cenário "muito perigoso".

Nestas declarações à Lusa, Beaune, que é candidato a estas eleições legislativas no sétimo círculo eleitoral de Paris, integrando a coligação presidencial Juntos (Ensemble, em francês), recusou, contudo, fazer uma equiparação entre o partido de esquerda radical França Insubmissa e a União Nacional.

"Não faço essa equivalência: não têm a mesma história, nem as mesmas alianças, mas, de qualquer forma, são ambos um perigo. O perigo maior, no entanto, é o da União Nacional, porque é o único que pode ter a maioria no país", defendeu.

O candidato pediu assim aos eleitores do centro para que, na segunda volta, em caso de duelo entre a União Nacional e a coligação de esquerda Nova Frente Popular (Nouveau Front Populaire, em francês), votem na esquerda.

"Os eleitores são livres, mas eu já disse que a minha convicção, enquanto cidadão e responsável político, é que a prioridade seja de bloquear a União Nacional e, portanto, votar contra", disse.

Clément Beaune, conotado com a ala esquerda do partido de Emmanuel Macron, foi ministro dos Assuntos Europeus e, entre 2022 e 2024, ministro dos Transportes. Em fevereiro deste ano, saiu do Governo de Macron por se ter oposto à lei da imigração implementada pelo executivo.

Agora, candidata-se a estas legislativas no sétimo círculo eleitoral de Paris, à semelhança do que tinha feito em 2022, onde tinha conseguido ser eleito à risca, com 50,73% dos votos, contra 49,27% para a candidata da coligação de esquerda.

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