Facebook admite risco das redes sociais para a democracia e promete soluções

por Christopher Marques - RTP
Ralph Orlowski - Reuters

O Facebook renova a promessa deixada por Mark Zuckerberg de corrigir os erros da maior rede social do mundo em 2018. Um dos gestores de produto da empresa insiste que a rede social traz riscos para a democracia e admite mesmo que a empresa demorou a reconhecê-los. Samidh Chakrabarti apresenta as soluções da empresa tecnológica contra a ingerência externa, as notícias falsas e o acesso desigual às potencialidades da rede.

No texto publicado numa área do Facebook destinada ao diálogo com os órgãos de comunicação social, o gestor de produto responsável pelos assuntos políticos e eleitorais reconhece a demora da empresa de Menlo Park em responder aos problemas da rede social.

“Em 2016 demorámos demasiado tempo a reconhecer como agentes nocivos estavam a abusar da nossa plataforma. Estamos agora a trabalhar para neutralizar estes riscos”, escreve Samidh Chakrabarti. Apesar de se classificar como um “otimista”, o responsável esclarece não ser “cego” ao ponto de não ver o “perigo que a internet pode representar até para uma democracia que funciona corretamente”.

A empresa reconhece ainda que não pode resolver o problema sozinha e pretende abrir uma discussão para este tipo de questões. No texto redigido por Chakrabarti, são apontadas aquelas que o Facebook considera serem as próximas batalhas, nomeadamente o combate às notícias falsas e à interferência externa.

Este texto assinado por Samidh Chakrabarti vem na sequência da promessa deixada no início de janeiro por Mark Zuckerberg. Em jeito de resolução de ano novo, o fundador do Facebook tinha estabelecido como grande desafio pessoal a correção dos erros da rede social e a prevenção contra o uso errático das suas ferramentas.
Combates do Facebook
O primeiro problema referido pelo responsável do Facebook pelos assuntos políticos e eleitorais é precisamente a interferência externa. Chakrabarti recorda o papel de Moscovo nas Presidenciais norte-americanas de 2016 com a criação de 80 mil publicações que chegaram a cerca de 126 milhões de norte-americanos em dois anos.

A empresa denuncia uma utilização “abominável” da rede social numa “ciberguerra que pretende dividir a sociedade”. “É um novo tipo de ameaça que não podíamos prever facilmente mas tínhamos a obrigação de ter feito melhor”, volta a admitir.

O Facebook pretende agora tornar mais transparentes as páginas de conteúdo político. “Iremos exigir que as organizações com publicidade relacionada com eleições confirmem as suas identidades para que possamos mostrar a quem visualiza estes anúncios quem está a pagar por eles”, explica Chakrabarti.

Apesar de reconhecer que um maior controlo poderá por em risco “atividades legítimas” nomeadamente ligadas a organizações que promovem os direitos humanos, a empresa promete manter a aposta na transparência.

“Estamos comprometidos com a questão da transparência porque ela vai para além da Rússia. Sem transparência, será difícil tornar os políticos responsáveis perante as suas próprias palavras”, assinala o gestor.

O segundo cavalo de guerra de Menlo Park são as notícias falsas. A empresa reconhece que “as mesmas ferramentas que dão mais voz às pessoas podem às vezes ser usadas, por qualquer um, para espalhar boatos e desinformar” mas recusa ser responsável por eliminar este tipo de conteúdo para “não ser um árbitro da verdade”.
"Esta luta nunca acabará"
A aposta da empresa passa por facilitar o processo de denúncia de conteúdos falsos e parcerias com outras entidades que verifiquem os factos. O Facebook quer também evitar que os produtores de notícias falsas consigam beneficiar economicamente das mesmas, reduzindo assim os incentivos à sua produção.

Apesar da declaração de guerra, o funcionário de Mark Zuckerberg reconhece que “esta luta nunca acabará”: “as campanhas de desinformação não são operações amadoras. São ações profissionais que tentam constantemente derrotar o sistema. Teremos sempre mais trabalho para fazer”.

A empresa reconhece ainda que o Facebook pode funcionar como uma “câmara de eco”. Ou seja, uma rede social onde cada utilizador tem acesso apenas aos seus próprios pontos de vista.

A rede social sublinha que problema é mais complexo do que parece e deriva da própria natureza humana: “é natural que se procure informação que confirme aquilo em que já acreditamos”, escreve Chakrabarti. O responsável explica que este é um combate difícil contra “instintos humanos profundamente enraizados”. Uma das soluções apresentadas é a inclusão de artigos relacionados que apresentem diferentes pontos de vista sobre o mesmo tema.

O Facebook pretende ainda lutar contra a “perseguição política”, ou seja, tornar esta rede social num espaço em que os utilizadores se sintam à vontade para apresentar os seus ideais sem recear serem ameaçados ou intimidados. A empresa alerta ainda para a perceção errada que o Facebook pode deixar aos decisores políticos quanto à opinião dos cidadãos.

“Os utilizadores do Facebook tendem a representar todas as etapas da vida, mas nem todos usam a sua voz de forma igual. Tenhamos em conta as mulheres, por exemplo. Elas representam a maioria da população mas estão sub-representadas no diálogo político público no Facebook”, justifica Chakrabarti.

O responsável da rede social para os assuntos políticos e eleitorais termina o texto por reconhecer que não pode garantir que os aspetos positivos do Facebook superem os negativos mas promete trabalhar nesse sentido.
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