Filha do presidente dos Camarões assume relação homossexual nas redes sociais

No passado domingo, 30 de junho, Brenda Biya, filha do presidente dos Camarões, partilhou uma publicação no Instagram em que surge a beijar a sua companheira, a modelo brasileira Layyons Valença. "Sou louca por ti e quero que o mundo inteiro o saiba", declarou a jovem. O anúncio está a causar controvérsia no país onde a homossexualidade é ilegal, mas o Governo e o seu chefe de Estado não fizeram qualquer declaração.

Rachel Mestre Mesquita - RTP /
"Sou louca por ti e quero que o mundo inteiro o saiba", declarou a filha do presidente camaronês, Benda Biya, também conhecida como King Nasty, através de uma publicação sua conta de Instagram. @kingnastyy - Instagram

Benda Biya, a jovem rapper de 26 anos, também conhecida pelo seu nome artístico King Nasty, assumiu abertamente a sua homossexualidade nas redes sociais perante os seus 300 mil seguidores, no último dia do Mês do Orgulho para a comunidade LGBTQ+.

Apesar de não ser a primeira vez que aparecem juntas nas redes sociais, é a primeira vez que a jovem, que vive na Suíça, aparece a beijar a sua companheira, a modelo brasileira Layyons Valença, e faz uma declaração que põe fim aos rumores. "Sou louca por ti e quero que o mundo inteiro o saiba", desvenda Benda Biya.

A fotografia e o anúncio poderiam passar despercebidos, não fosse a jovem filha do presidente camaronês, Paul Biya, de 91 anos, no poder dos Camarões desde 1982, país que criminaliza a homossexualidade.

Desde 2016, que um novo artigo do Código Penal do país prevê "uma pena de prisão até cinco anos e uma coima de 305 mil euros de multa por relações sexuais entre duas pessoas do mesmo sexo", escreve o jornal Le Monde.




Apesar de ter desativado os comentários na sua conta do Instagram, a publicação de Brenda Biya valeu-lhe uma série de reações contraditórias e voltou a despertar o debate nacional. 

Enquanto organizações de direitos humanos dos Camarões elogiaram a sua revelação e aplaudiram a sua coragem. Outros dirigiram-lhe comentários homofóbicos e criticaram o privilégio que permite apenas a alguns assumir-se nos Camarões.

A ativista camaronesa Shakiro, que vive atualmente na Bélgica, depois de ter pedido asilo por ter sido condenada por "tentativa de homossexualidade" nos Camarões, foi uma das que elogiaram Biya, considerando a sua publicação como "um ponto de viragem a comunidade LGBTQ+ nos Camarões".

"Biya está agora a posicionar-se como uma voz para a mudança social num país onde os tabus estão profundamente enraizados", afirmou Shakiro, escreve a BBC.

Já a advogada Alice Nkom, conhecida pela defesa dos Direitos LGBTQ+ nos Camarões, disse ao jornal Le Monde que Brenda Biya é um "modelo de coragem" que "está a aceitar o seu direito fundamental a amar e a ser amada".

"As leis anti-LGBT dos Camarões visam desproporcionadamente os pobres. A riqueza e as ligações criam um escudo para alguns, enquanto outros enfrentam sérias consequências", criticou a ativista LGBT Bandy Kiki na rede social X, depois de saudar a revelação de Brenda Biya.


A revelação da filha do presidente não mereceu cobertura por parte dos meios de comunicação do país, de acordo com a BBC, que explica que a Autoridade Reguladora dos Media dos Camarões "é conhecida por sancionar as publicações e os canais de televisão que abordam a homossexualidade".

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