Fora do hospital. Bolsonaro publica e depois apaga vídeo a alegar fraude eleitoral

por Inês Moreira Santos - RTP
Sebastião Moreira - EPA

Contra recomendação médica, o ex-presidente brasileiro recebeu alta de um hospital na Florida, no sudeste dos Estados Unidos, onde estava internado por problemas intestinais. Esta quarta-feira, Jair Bolsonaro publicou um vídeo alegando a fraude eleitoral no Brasil, tendo posteriormente apagado a publicação.

Ao fim da tarde de terça-feira, Jair Bolsonaro deixou o hospital Advent Health Celebration, na periferia da cidade norte-americana de Orlando, dirigindo-se para “de forma apressada” para a casa de um ex-atleta de artes marciais, onde está hospedado desde 30 de dezembro. O antigo chefe de Estado do Brasil saiu do hospital contra a indicação da equipa médica que o seguia, segundo o jornal brasileiro O Globo.

Um médico disse ao jornal que Bolsonaro foi aconselhado a permanecer internado por mais três ou quatro dias por ainda não conseguir ingerir alimentos sólidos.
Na segunda-feira, o ex-presidente brasileiro tinha confirmado, através das redes sociais, que estava internado devido a uma “obstrução intestinal”. Horas antes, Bolsonaro tinha admitido antecipar o regresso ao Brasil, no meio de uma crise provocada pela invasão das sedes dos três poderes em Brasília, que classificou de "infeliz episódio".

"Esta é já a minha terceira admissão por obstrução intestinal grave. Vim para passar algum tempo fora com a família, mas não tive nenhum dia calmo. Primeiro, houve aquele infeliz episódio no Brasil e depois a minha admissão no hospital", lamentou, a partir do hospital na Florida.

Bolsonaro explicou que, embora a intenção inicial fosse permanecer nos Estados Unidos até ao final de janeiro, os problemas de saúde levaram a uma antecipação do regresso ao Brasil, no meio de uma crise política causada pela violência de apoiantes do ex-chefe de Estado na capital brasileira.

"No Brasil, os médicos já sabem do meu problema de obstrução intestinal devido ao esfaqueamento. Aqui, os médicos não vão dar seguimento", disse Bolsonaro, à cadeia de televisão CNN.

Bolsonaro foi internado, na segunda-feira, pelos efeitos secundários de um esfaqueamento que sofreu em 2018, durante a campanha eleitoral e que, desde então, o levou a ser várias vezes hospitalizado.

O ex-chefe de Estado demarcou-se da violência dos seus apoiantes, que no domingo invadiram e vandalizaram o Palácio do Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal, sedes dos três poderes do Estado brasileiro, e repudiou as acusações de ter estimulado os ataques.

Jair Bolsonaro deixou o Brasil rumo à Florida dois dias antes da posse de Lula da Silva, recusando-se a entregar a faixa presidencial ao sucessor, estando desde então hospedado na casa do ex-lutador brasileiro de MMA, José Aldo.
Justiça receia novos protestos, enquanto Bolsonaro reassume discurso golpista
Na terça-feira à noite, o ex-presidente divulgou no Facebook um vídeo no qual voltava a alegar, sem provas, que Lula da Silva não foi eleito, mas “escolhido por ministros do STF e TSE”. A informação foi confirmada pela imprensa brasileira, que adianta ainda que Bolsonaro acabou por apagar a publicação na madrugada desta quarta-feira, horas depois da partilha.

Segundo o site noticioso Poder 360, o vídeo é uma pequena parte de uma entrevista de Felipe Gimenez, procurador de Mato Grosso do Sul e foi, primeiramente, publicado por uma apoiante de Jair Bolsonaro. Apesar de o ex-presidente ter apagado a publicação, a página tem mais de 15 milhões de seguidores e o vídeo continua a ser partilhado.

“Lula não foi eleito pelo povo brasileiro. Lula foi escolhido pelo serviço eleitoral. E digo isso, insisto, vou repetir: Lula não foi eleito pelo povo brasileiro. Lula foi escolhido pelo serviço eleitoral, pelos ministros do STF, pelo ministros do Tribunal Superior Eleitoral. Porque se fosse uma escolha do povo, haveria poder do povo sobre essa escolha, poder do povo sobre o processo de apuração dos votos”, ouve-se no vídeo.

Para a Justiça brasileira, em alerta desde a invasão às sedes dos três poderes, esta publicação foi considerada como um estímulo a novos atos golpistas. As autoridades brasileiras continuam a procurar os organizadores do ataque em Brasília no domingo, depois de emitidos os mandados de prisão para dois ex-funionários e aliados de Jair Bolsonaro.

O ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal e ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, que se encontra nos Estados Unidos, anunciou entretanto que vai regressar ao Brasil para se apresentar à justiça.

“Tomei a decisão de interromper minhas férias e retornar ao Brasil. Irei-me apresentar à justiça e cuidar da minha defesa”, escreveu no Twitter.

Sempre pautei minhas ações pela ética e pela legalidade. Acredito na justiça brasileira e na força das instituições. Estou certo de que a verdade prevalecerá”, acrescentou.

Segundo as autoridades brasileiras, há indicios de que pode haver novas manifestações e atos violentos como os de domingo, por parte dos apoiantes de Bolsonaro que não aceitam a eleição de Lula da Silva.

"Uma 'Mega Manifestação Nacional pela Retomada do Poder' está prevista para ocorrer em todas as capitais nesta quarta-feira, incluindo em Brasília", alertou, no Twitter, o deputado André Janones.


Também o ministro da Advocacia-Geral da União, Jorge Messias, disse ter informações de que há grupos extremistas a convocar, para esta quarta-feira, manifestações de cariz golpista “com potencial de violar direitos fundamentais dos demais cidadãos, tais como a liberdade de locomoção, os direitos à propriedade, à segurança pública e ao abastecimento de itens de primeira necessidade como alimentação, combustíveis e medicamentos”.
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