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Força Aérea Portuguesa dá passo histórico com a aquisição e operação de satélite
A Força Aérea comprou um satélite para uso exclusivo, representando este um marco extremamente significativo nas capacidades de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento a partir do espaço.
Este avanço representa uma transformação profunda nas capacidades nacionais de Inteligência, Vigilância e Reconhecimento (IVR) a partir do espaço, permitindo observação em todas as condições meteorológicas, de dia e de noite, com taxas de revisita rápidas.
Com esta tecnologia, Portugal reforça a sua autonomia operacional, garantindo vigilância persistente e consciência situacional sobre o território nacional, incluindo a proteção da Zona Económica Exclusiva (ZEE) e dos recursos naturais. A posse direta do satélite assegura total controlo sobre a aquisição de dados e planeamento de missões, permitindo respostas rápidas a desafios militares, segurança marítima, monitorização ambiental e gestão de emergências.
Imagem da base militar das Lages, Açores, captada por o satélite sob gestão da FAP. Créditos: ICEYE/FAP
O Chefe do Estado-Maior da Força Aérea, General João Cartaxo Alves, esclarece que “este é um momento histórico para Portugal em geral e para a Força Aérea Portuguesa em particular. Ao adquirir capacidades próprias para operar no espaço, a Força Aérea entra numa nova dimensão, onde o Espaço substituiu o céu como a nova fronteira operacional. Esta inovação tecnológica reforça a capacidade autónoma da Força Aérea para garantir a vigilância permanente do território nacional – em terra, no mar e no ar – sob quaisquer condições meteorológicas. Este novo equipamento vai aumentar a capacidade da Força Aérea de conduzir operações militares com maior precisão e eficácia, apoiando também a gestão de emergências e a utilização sustentável dos recursos.”
Este será o primeiro satélite totalmente detido pela Força Aérea Portuguesa e o segundo a ser operado pela Instituição. Recorde-se que em 12 de junho, o CTI Aeroespacial – um centro português de tecnologia e inovação – assinou um acordo com a ICEYE para a aquisição de um satélite SAR a ser operado pela Força Aérea Portuguesa.Estes dois satélites são os primeiros da futura Constelação do Atlântico, um projeto de Portugal e Espanha, que contará com um conjunto de satélites, capazes de fornecer imagens de alta e muito alta resolução, com revisita intradiária, permitindo uma observação e monitorização do nosso planeta a partir do Espaço.
Importância estratégica do satélite para Portugal e o mundo
A relevância deste satélite vai muito além da componente militar. Ele é um instrumento essencial para consolidar a soberania nacional no domínio espacial e para apoiar projetos estratégicos como a futura Constelação do Atlântico, desenvolvida em parceria com Espanha. Esta constelação contará com vários satélites capazes de fornecer imagens de alta e muito alta resolução, com revisita intradiária, permitindo uma monitorização detalhada do planeta.
Portugal junta-se agora a um grupo restrito de países que investem em capacidades espaciais soberanas, num cenário global marcado por uma verdadeira corrida tecnológica. Exemplos recentes incluem:
- União Europeia: lançou o programa IRIS, uma constelação multi-orbital para comunicações seguras e defesa, com 290 satélites previstos até 2030, reforçando a autonomia europeia em tempos de crise.
- Estados Unidos: o Pentágono colocou em órbita 21 satélites para rastreamento de mísseis e comunicações táticas, parte de uma rede resiliente de baixo custo que substitui sistemas tradicionais vulneráveis.
- Japão e ICEYE: parceria para criar uma constelação SAR com até 24 satélites, garantindo monitoramento ininterrupto para defesa, gestão ambiental e resposta a desastres.
- Brasil e China: desenvolvimento conjunto do satélite CBERS-6, equipado com radar SAR, para monitoramento ambiental e vigilância estratégica, com lançamento previsto para 2028.
- Agência Espacial Europeia (ESA): expansão da missão Sentinel-1, que integra o programa Copernicus, fornecendo imagens SAR para emergências e monitorização climática global.
Esta tendência confirma que o espaço é hoje um domínio crítico de defesa e segurança, onde a tecnologia SAR se destaca pela capacidade de operar sob quaisquer condições, garantindo dados estratégicos para operações militares, gestão de crises e proteção ambiental.