França festeja o 14 de Julho em clima pré-eleitoral

O feriado nacional de França, assinalado esta quinta-feira, marca o culminar de um ano agitado para François Hollande - atentados terroristas, um estado de emergência em vigor desde novembro, o contexto social adverso devido à polémica lei do trabalho e ainda a aproximação das decisivas eleições de 2017.

Andreia Martins - RTP /
Thibault Camus - Reuters

Nem a derrota perante a seleção portuguesa na final do Europeu de futebol, do qual a França foi anfitriã, deverá estragar a fête nationale que decorre esta quinta-feira com toda a pompa e circunstância em Paris. 

As celebrações começam nos Campos Elísios, com um desfile militar e várias homenagens. Serão mais de três mil homens e mulheres a percorrer uma das principais avenidas de Paris.

Com o país em estado de emergência desde os atentados terroristas de 13 de novembro - e que ficará ativo até 26 de julho -, a prefeitura da polícia de Paris destacou mais de 11 mil polícias, de forma a garantir a segurança nas ruas.  

Entre os momentos de festa e celebração no dia em que se assinala a Tomada da Bastilha – o evento que despoletou a Revolução Francesa de 1789, - será também recordada a Batalha do Somme, uma das mais sangrentas da I Guerra Mundial, sobre a qual passam 100 anos. 
Balanço do mandato
O dia só termina com uma entrevista de Hollande à televisão francesa, onde os temas mais delicados deverão surgir. É que, ao quinto ano do seu mandato, este poderá ser o seu derradeiro 14 de Julho como Presidente da República francesa. 

O jornal Le Monde arrisca uma previsão dos temas incómodos que poderão surgir durante os 45 minutos de entrevista: o Brexit e a tomada de posse de Theresa May, a segurança e o terrorismo, a polémica lei do trabalho que será votada em definitivo na próxima semana e, claro, as eleições presidenciais de 2017.
 
É esperado que François Hollande, eleito em maio de 2012, aproveite a oportunidade para recordar e fazer uma espécie de balanço dos principais pontos que marcaram o seu mandato. 

Em matéria económica, o Presidente tem algumas cartas a seu favor: a ligeira recuperação no crescimento, os números do desemprego em baixa e a previsão do défice para 2017, que se mantém nos 2,7 por cento. 
Macron-mania
No fim de junho, Jean-Christophe Cambadélis, secretário-geral do PS francês, confirmou a marcação eleições primárias no partido, que têm em vista escolher o candidato socialista no início do próximo ano. É mais um sinal de reconhecimento, pela própria estrutura partidária, dos baixos índices de popularidade, que atingiram o patamar mínimo para um Chefe de Estado.  
Hollande tem os índices de popularidade mais baixos de um Presidente da República em mais de 50 anos. Prometeu anunciar “até ao fim do ano” se tenciona recandidatar-se ao Eliseu. 
O mais recente problema do Presidente francês surgiu dentro do próprio Governo: o atual ministro da Economia, Emmanuel Macron, prepara-se a passos largos para anunciar a sua candidatura às eleições de 2017.

Num comício que decorreu na última terça-feira em Paris, o atual detentor da pasta da Economia lançou o movimento En Marche e prometeu uma “vitória” no próximo ano, apesar de ainda não ter feito qualquer anúncio oficial. 

Este é outro assunto que deverá pairar sobre o debate, até porque falta compreender porque é que François Hollande e Manuel Valls optam por manter no Governo um ministro pronto a desafiar a autoridade presidencial.

AAs candidaturas às eleições primárias acontecem na primeira quinzena de dezembro. A eleição deverá ocorrer entre 22 e 29 de janeiro de 2017.  verdade é que Macron, o ministro mais jovem do Governo francês, com apenas 38 anos, terá melhores possibilidades de chegar a uma segunda volta nas eleições presidenciais.

Nas sondagens publicadas desde abril deste ano, o atual Presidente francês tem registado apenas 15 por cento nas intenções de voto, atrás de Marine Le Pen, da Frente Nacional, e Nicolas Sarkozy, líder do partido Les Républicains – antiga UMP – ambos com mais de 25 por cento. 

O ministro da Economia poderá ser uma nova aposta para os socialistas, num cenário em que Hollande dificilmente conseguirá manter o seu lugar no Palácio do Eliseu. Trata-se de um Presidente que tem visto a sua autoridade e reputação beliscadas ao longo dos últimos anos por várias polémicas, a mais recente conhecida ainda esta quarta-feira, em torno do ordenado auferido pelo cabelereiro.

Macron é, em contraste, um dos ministros mais populares em França. Uma sondagem publicada em abril pelo Libération indicava que 38 por cento dos franceses considera que Macron seria um bom Presidente. 
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