François Hollande condecora o mandante das decapitações sauditas

por RTP
Philippe Wojazer, Reuters

O ministro do Interior e príncipe herdeiro saudita, Mohammed ben Nayef, foi agraciado pelo presidente francês com a Legião de Honra, máxima condecoração atribuída no Hexágono. Os partidos tradicionais calam-se - e só a Frente Nacional, de extrema-direita, protesta.

Fora do leque partidário, é conhecida até agora a indignada reacção de Bénédicte Jeannerod, que tuitou a pergunta: "Queixa-se [François] Hollande sobre a massiva violação de direitos humanos por ibn Naif? Não: ele atribui-lhe a Legião de Honra".

Pelos vistos consciente do melindre da condecoração, o Palácio do Eliseu manteve-a secreta até depois de ser atribuída. Só no domingo a Agência France Press conseguiu obter a confirmação do que era rumorejado a esse respeito: segundo o diário francês Le Monde, o príncipe saudita já estava condecorado, no maior segredo, desde sexta feira.

O vice-presidente da Frente Nacional Florian Philippot foi até agora o único político dos partidos parlamentares a criticar Hollande: "Deveremos falar de Legião da Desonra?"

Com efeito, a desonrosa condecoração pode estar relacionada com o caderno de encomendas da indústria de armamento francesa, que conta a Casa Real saudita entre os seus maiores clientes. Mas nem por isso passa despercebido o curriculum do príncipe saudita como um dos mais febris mandantes de execuções capitais no planeta: a Arábia Saudita só é ultrapassada, nessa matéria, pela China e pelo Irão.

Desde o início do ano, foram executadas na Arábia Saudita 70 pessoas, 47 das quais num só dia, 2 de janeiro. A maioria são criminosos de delito comum, mas também há opositores políticos executados, como foi o caso do líder chiita Nimr al-Nimr. Geralmente são decapitados a golpe de sabre.

No ano passado o número de execuções capitais na Arábia Saudita quase duplicou: 153 pessoas, contra 87 no ano anterior. Nas três décadas que transcorreram entre 1985 e 2015, houve 2 208 execuções. As vítimas foram em grande número estrangeiros - cerca de um milhar. Entre elas contavam-se diversos menores de idade ou pessoas com deficiência mental.

A Amnistia Internacional denunciou a ausência de garantias de defesa em tribunal para as pessoas passíveis de condenação capital e, em Agosto de 2015, referiu uma intensificação do ritmo de execuções, realizadas invocando a "lei islâmica", por crimes como assassínio, violação ou tráfico de droga, mas também como forma de perseguição religiosa contra pessoas que renunciassem à religião islâmica.

Outros castigos corporais especialmente pesados têm estado também sob o foco da crítica: foi o caso do blogger Raïf Badaoui, condenado a sofrer mil chicotadas, por ter pedido uma reforma da estrutura teocrática do Estado saudita.

Também as mulheres sofrem uma clara discriminação na Arábia Saudita. Desde o ano passado, podem votar e, em teoria, ser eleitas a nível municipal. Mas até hoje continuam proibidas de conduzir.

A campanha de expulsão dos imigrantes levada a cabo desde 2013 envolveu uma massiva pilhagem das parcas poupanças dos deportados por parte da burocracia saudita. Segundo a Human Rights Watch, "muitos deles voltaram aos seus países sem nada, impossibilitados de comprarem alimentos ou de pagarem o transporte para as suas regiões de origem, em certos casos porque funcionários sauditas les confiscaram arbitrariamente os seus haveres pessoais".
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