Fumo branco na Alemanha. Angela Merkel e social-democratas alcançam acordo

por Andreia Martins - RTP
Com o acordo firmado, a imprensa alemã foi revelando ao longo da manhã os primeiros nomes que deverão formar o Governo de Angela Merkel Hannibal Hanschke - Reuters

Mais de quatro meses depois das eleições na Alemanha, a CDU de Angela Merkel e o SPD de Martin Schulz chegaram finalmente a um acordo para constituir uma coligação governativa. A imprensa germânica avança esta quarta-feira que os dois partidos chegaram a um entendimento "de princípio" ao início da manhã, após uma maratona de 24 horas de negociações.

Foram necessários 136 dias para resolver o impasse político na Alemanha após as eleições de setembro. Por fim, os partidos de Merkel e Schulz chegaram a acordo para uma grande coligação governativa, com a chanceler a um passo de garantir um executivo para mais quatro anos.

Segundo avançam os media alemães, os social-democratas conseguiram assegurar pastas de enorme importância no novo Governo de Merkel, incluindo os Negócios Estrangeiros, Finanças, Trabalho, Família e ainda o Ministério dos Assuntos Sociais e o Ministério da Justiça. Já a CDU fica com as pastas da Defesa, Economia, Agricultura, Saúde e Educação.

Pouco depois das 10h00 na Alemanha (menos uma hora em Lisboa), vários jornais online confirmavam os primeiros detalhes de um acordo com alguns detalhes ainda por afinar. O jornal Bild confirmava, no entanto, que o acordo "de princípio" foi alcançado.
Schulz com os Negócios Estrangeiros
Com o acordo firmado, a imprensa alemã foi revelando ao longo da manhã os primeiros nomes que deverão formar o Governo de Angela Merkel. Martin Schulz, presidente do SPD, é o nome escolhido para liderar a diplomacia alemã, avança o Sueddeutsche Zeitung, com a líder parlamentar e antiga minista do Trabalho, Andrea Nahles, a assumir a liderança do partido.

Olaf Scholz, mayor da cidade de Hamburgo, deverá ser o próximo ministro alemão das Finanças, avança Die Welt. Trata-se de uma enorme cedência por parte da CDU, já que este constitui um cargo da maior importância a nível nacional mas também europeu. Foi liderado pelo todo-poderoso Wolfgang Schaüble entre 2009 e 2017, desde outubro com o cargo de presidente do Bundestag. 

A CSU, partido aliado de Merkel na Baviera, assegura o cargo de ministro do Interior.

Na terça-feira, antes da nova ronda de negociações, Angela Merkel tinha garantido que o bloco CDU/CSU estava pronto a fazer "concessões dolorosas" de forma a desbloquear as conversações. Durante as últimas semanas, vários assuntos dividiram os dois partidos, sobretudo nas políticas no setor da Saúde e do Trabalho.

Os social-democratas pretendiam uma ampla reforma do sistema de saúde alemão com o objetivo de aproximar o nível de oferta e qualidade entre os setores público e privado. Na política sobre o Trabalho, o SPD exigia mudanças nos contratos a curto-prazo.
"Reavaliação" ao fim de dois anos
Finda a batalha das negociações entre os dois partidos, o acordo alcançado esta quarta-feira terá agora de ser aprovado pelos mais de 460 mil membros do SPD, numa votação interna que deverá acontecer até ao final de fevereiro. Não se avizinha uma tarefa fácil, uma vez que grande parte dos militantes está contra uma nova coligação com os conservadores, depois do resultado obtido pelo partido nas eleições de setembro.

Desde o início do ano increveram-se no partido 24 mil novos militantes, em resposta ao apelo deixado pela juventude social-democrata, que pretende ver a nova coligação chumbada pelo voto interno e precipitar novas eleições na Alemanha.

Para responder às incertezas dos militantes, o programa negociado nas últimas semanas prevê a possibilidade de "reavaliação intercalar" da coligação ao fim de dois anos. Esta cláusula dá ao SPD a possibilidade de abandonar o Governo a meio da legislatura e desencadear eleições antecipadas.

No final da manhã, mais detalhes sobre o acordo citados pela France-Presse revelam a grande prioridade dada aos assuntos europeus por ambos os partidos. O capítulo "Um novo impulso para a Europa" prevê o aumento da contribuição europeia da Alemanha para o orçamento da União Europeia.

O documento vê França como grande aliada na reforma e reforço da zona euro e declara apoio à polémica iniciativa de Emmanuel Macron em criar um orçamento de investimento entre os países da moeda única e da criação de um Fundo Monetário Europeu, sem esclarecer se irá apoiar a criação do cargo de ministro europeu das Finanças.
Mais de quatro meses sem governo
Nas eleições legislativas de setembro, a CDU não conseguiu obter uma maioria estável no Bundestag, num escrutínio que ficou marcado pela ascensão da extrema-direita e pelo pior resultado dos social-democratas do SPD no pós-guerra, com apenas 20,5 por cento de votos.

Perante o resultado catastrófico, o antigo presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, assegurou que o SPD ocuparia o lugar de principal partido de oposição a Angela Merkel, mostrando-se indisponível para renovar a coligação que governara o país desde 2013.

Com a recusa veemente do anterior parceiro de Governo logo na noite eleitoral, a chanceler alemã tentou alcançar uma coligação inédita com os liberais do FDP e os ecologistas dos Verdes. As negociações para constituir a coligação Jamaica - numa alusão às cores partidárias - acabariam por falhar logo em novembro.

Neste cenário, restavam a Merkel duas opções: liderar o Governo numa posição minoritária e instável ou convocar novas eleições, soluções nunca antes vistas na Alemanha pós-guerra.

Em janeiro a chanceler iniciou negociações com Martin Schulz. Se o antigo presidente do Parlamento Europeu mudou de ideias, o mesmo não se pode dizer do partido que lidera. Entre os social-democratas, sobretudo nas camadas mais jovens, existe o receio de avançar para uma nova coligação com os conservadores que possa vir a fragilizar ainda mais os resultados do partido.

Uma sondagem recente atribuia apenas 17 por cento de intenções de voto para os social-democratas, ligeiramente acima da extrema-direita, com 15 por cento.
Tópicos
pub