Futuro apoio de EUA a guerra em Gaza depende de novas medidas para proteger civis - Biden

por Lusa

O Presidente norte-americano, Joe Biden, disse hoje ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, que o futuro apoio dos Estados Unidos à guerra de Israel em Gaza depende da adoção de novas medidas para proteger civis e trabalhadores humanitários.

Biden e Netanyahu falaram por telefone poucos dias depois de ataques aéreos israelitas terem matado sete trabalhadores humanitários na Faixa de Gaza e acrescentado um novo nível de complicação à cada vez mais tensa relação entre os dois líderes.

"Ele (Biden) deixou clara a necessidade de Israel anunciar e aplicar uma série de medidas específicas, concretas e mensuráveis para lidar com o problema dos danos a civis, do sofrimento humanitário e da segurança dos trabalhadores humanitários", afirmou a Casa Branca num comunicado, após a chamada telefónica dos dois dirigentes.

"Ele deixou claro que a política dos Estados Unidos em relação a Gaza será determinada pela nossa avaliação da ação imediata de Israel em relação a tais medidas", acrescentou.

Biden, um Democrata, também frisou a Netanyahu que um "cessar-fogo imediato é essencial" e exortou Israel a chegar a um acordo "sem demora", indicou a Casa Branca.

A conversa entre os líderes norte-americano e israelita ocorreu na altura em que a organização não-governamental World Central Kitchen (WCK), fundada pelo empresário da restauração José Andrés para fornecer ajuda alimentar imediata a áreas afetadas por catástrofes, apelou para uma investigação independente aos ataques israelitas que mataram elementos da equipa da ONG, entre os quais um cidadão de dupla nacionalidade norte-americana e canadiana.

A Casa Branca afirmou que os Estados Unidos não tencionam realizar a sua própria investigação, mas instaram Israel a que faça mais para impedir que civis inocentes e trabalhadores humanitários sejam mortos e feridos durante as suas operações na Faixa de Gaza.

Separadamente, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse à imprensa em Bruxelas que o apoio dos Estados será reduzido se Israel não fizer ajustes significativos na forma como está a conduzir a guerra na Faixa de Gaza.

"Se não virmos as mudanças que precisamos de ver, haverá mudanças na nossa política", declarou.

Esperava-se também que Biden reiterasse as suas preocupações quanto ao plano de Netanyahu de realizar uma ofensiva à cidade de Rafah, no sul do país, onde cerca de 1,5 milhões de palestinianos deslocados estão abrigados, enquanto Israel tenta eliminar o Movimento de Resistência Islâmica (Hamas), após o ataque mortal daquele grupo islamita palestiniano a território israelita, a 07 de outubro de 2023.

Apesar das crescentes divisões, o Governo Biden tem realizado a bom ritmo os abastecimentos de armamento a Israel, muitos dos quais foram aprovados há anos, mas só tinham sido parcialmente cumpridos ou estavam por cumprir.

A 07 de outubro do ano passado, combatentes do Hamas -- desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel -- realizaram em território israelita um ataque de proporções sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1.163 mortos, na maioria civis, e 250 reféns, cerca de 130 dos quais permanecem em cativeiro e 34 terão entretanto morrido, segundo o mais recente balanço das autoridades israelitas.

Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre ao norte do território, que depois se estendeu ao sul, estando agora iminente uma ofensiva à cidade meridional de Rafah, onde se concentra cerca de 1,5 milhões de deslocados.

A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 181.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza mais de 33.000 mortos, quase 76.000 feridos e cerca de 7.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com o último balanço das autoridades locais.

O conflito fez também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que já está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

Segundo especialistas, a campanha militar israelita na Faixa de Gaza é uma das mais mortíferas e destrutivas da história recente.

Em dois meses, indicam investigadores, a ofensiva já tinha causado mais destruição que o arrasamento de Alepo, na Síria, entre 2012 e 2016, de Mariupol, na Ucrânia, ou, proporcionalmente, que os bombardeamentos aliados à Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. E matou mais civis que a coligação liderada pelos Estados Unidos na sua campanha de três anos contra o grupo `jihadista` Estado Islâmico (EI).

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