Gabinete de guerra israelita volta a reunir-se. EUA e aliados planeiam mais ações contra Irão

por Cristina Sambado - RTP
Autoridades israelitas exibem o que dizem ser um míssil balístico iraniano no Mar Morto Amir Cohen - Reuters

Os Estados Unidos e aliados planearam novas sanções contra o Irão, depois do ataque sem precedentes a Israel, procurando, em simultâneo, dissuadir Telavive de avançar com uma retaliação em larga escala. O gabinete de guerra israelita reúne-se esta quarta-feira, pela terceira vez, para delinear uma resposta.

Apesar de o ataque de sábado à noite não ter provocado vítimas mortais, graças às defesas aéreas e às contramedidas de Israel e dos seus aliados, aumentou o receio de que a violência enraizada na guerra de Gaza, que dura há seis meses, esteja a alastrar, com o risco de uma guerra aberta entre os adversários de longa data Irão e Israel.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, Herzi Halevi, prometeu que o lançamento pelo Irão de mais de 300 mísseis, mísseis de cruzeiro e drones sobre território israelita "será objeto de uma resposta", mas não revelou pormenores.

Uma fonte do Governo israelita adiantou à Reuters que a sessão do gabinete de guerra agendada para terça-feira tinha sido adiada para esta quarta-feira.

Na esperança de afastar Israel de uma retaliação em massa, os Estados Unidos e a Europa anunciaram um endurecimento das sanções económicas e políticas contra o Irão.

Os EUA estão a planear impor novas sanções contra o programa de mísseis e drones do Irão nos próximos dias e esperam que os liados sigam o exemplo, afirmou Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, na terça-feira.

A embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas, Linda Thomas-Greenfield, afirmou esta quarta-feira, em Seul, que não vê que o projeto de resolução da Autoridade Palestiniana, a recomendar que a Palestina se torne membro de pleno direito da ONU, ajude a encontrar uma solução de dois Estados. Antes, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, afirmou que os Estados Unidos usariam as sanções e trabalhariam com os seus aliados para continuar a impedir a "atividade maligna e desestabilizadora" do Irão.

Em conferência de imprensa em Washington, Janet Yellen afirmou que todas as opções para interromper o "financiamento do terrorismo" por parte do Irão estavam em cima da mesa e que esperava que fossem anunciadas em breve novas sanções contra o Irão.

Josep Borrell, alto representante para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança da União Europeia, revelou que alguns Estados-Membros pediram que as sanções contra o Irão fossem alargadas e que os serviços diplomáticos da UE iriam começar a trabalhar na proposta.

O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel Katz, considera que a proposta de alargamento das sanções contra o Irão, que visa travar o fornecimento de drones iranianos à Rússia, incluiria também o fornecimento de mísseis e poderia abranger as entregas a representantes iranianos no Médio Oriente.

Israel Katz acrescentou disse que estava a "liderar um ataque diplomático", escrevendo a 32 países para lhes pedir que impusessem sanções ao programa de mísseis do Irão e que seguissem Washington na classificação da sua força militar dominante, os Guardas da Revolução, como um grupo terrorista.
Israel aconselhado a não retaliar
O Irão lançou o ataque em retaliação a um ataque aéreo ao complexo da sua embaixada em Damasco, a 1 de abril, atribuído a Israel, mas já deu a entender que considera o assunto encerrado.

O presidente Joe Biden disse ao primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, no fim de semana, que os Estados Unidos, principais aliados de Israel, não participariam num contra-ataque israelita.

Já o primeiro-ministro britânico, Rishi Sunak, disse a Netanyahu, numa chamada na terça-feira, que a escalada no Médio Oriente não era do interesse de ninguém e só iria piorar a insegurança na região. Pelo que era "um momento para que as cabeças calmas prevalecessem", frisou o gabinete de Sunak.

A ministra japonesa dos Negócios Estrangeiros do Japão, Yoko Kamikawa, "exortou Israel a usar de contenção" durante uma chamada telefónica com o seu homólogo israelita, Israel Kantz, na terça-feira à noite, de acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Japão.

A perspetiva de uma retaliação israelita alarmou muitos iranianos, que já sofrem dores económicas e controlos sociais e políticos mais apertados desde os grandes protestos de 2022 e 2023. Desde o início da guerra em Gaza, em outubro, eclodiram confrontos entre Israel e grupos alinhados com o Irão sediados no Líbano, Síria, Iémen e Iraque.

Israel avançou que quatro dos seus soldados foram feridos a centenas de metros do território libanês durante a noite de terça-feira, na primeira incursão terrestre israelita conhecida no Líbano desde a guerra de Gaza, embora tenha trocado regularmente tiros com a milícia libanesa Hezbollah, fortemente armada.

Na Faixa de Gaza, onde mais de 33 mil palestinianos foram mortos na ofensiva israelita, segundo os dados do Ministério da Saúde local, a ação do Irão foi aplaudida.

Israel iniciou a sua campanha contra o Hamas, o movimento radical palestiniano apoiado pelo Irão que governa Gaza, depois de os militantes terem atacado Israel a 7 de outubro, matando 1.200 pessoas e fazendo 253 reféns, segundo os dados israelitas.

c/ agências
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