Gás indicador de vida encontrado em Vénus

por RTP

Uma cientista portuguesa faz parte da equipa que descobriu um composto gasoso constituído por fósforo e hidrogénio - a fosfina - na atmosfera de Vénus e que costuma estar associado à existência de vida.

A descoberta foi feita por uma equipa internacional da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, e do MIT, nos Estados Unidos, liderada pela investigadora Jane Greaves. Entre os astrofisicos está a portuguesa Clara Sousa-Silva, que, ouvida pela agência Lusa, afirma que a existência de fosfina na atmosfera do planeta Vénus, a cerca de 50 quilómetros da superficie, "constitui um verdadeiro bónus".
Sousa-Silva destaca que "a descoberta levanta muitas questões, tais como é que os organismos poderão sobreviver na atmosfera do planeta vizinho. Na Terra, alguns micróbios conseguem suportar até cerca de cinco por cento de ácido no seu meio, mas as nuvens em Vénus são praticamente só constituídas por ácido".
Dada a quantidade deste gás ser maior que o esperado, a descoberta leva os cientistas a acreditarem na potencial existência de vida microbiana no planeta, embora diferente daquela que habita a Terra.

Vénus é o segundo planeta a partir do Sol e aproxima-se das dimensões da Terra. Atinge uma temperatura média de 460ºC e a sua atmosfera é das mais densas do sistema solar.

O astro vermelho está envolvido por nuvens de ácido sulfúrico e dióxido de carbono, não apresentando quaisquer indícios de processos biológicos, mas não foi sempre assim. Há dois mil milhões de anos terá existido um oceano e o clima era temperado.

Para Jane Greaves, “é surpreendente que exista vida cercada por tanto ácido sulfúrico” e os dados reunidos também não permitem explicar a origem de uma quantidade tão elevada de gás.


A nova química observada em Vénus corresponde à combinação de um átomo de fósforo com três de hidrogénio. Na Terra, esta molécula denominada de fosfina ou hidreto de fósforo é produzida por micro-organismos que vivem em ambientes pobres em oxigénio, como por exemplo sedimentos de lagos ou vísceras de animais.

Trata-se de um composto gasoso que normalmente é visto como um marcador de presença de vida, mas no caso de Vénus os cientistas não conseguem identificar a sua proveniência.

Em busca de vida fora da Terra, Greaves observou Vénus em 2017 com o telescópio James Clerk Maxwell, no Hawai, e em 2019 com o telescópio Alma, no Chile. Ambas as investigações revelaram traços do gás hidreto de fósforo na camada superior das nuvens de Vénus.

 


Entre a comunidade científica debate-se esta nova equação e nascem possíveis cenários.

Charles Cockell, astrobiólogo da Universidade de Edimburgo, discorda da sugestão da vida em Vénus e questiona o papel da fosfina como um “biomarcador”.

“Uma explicação biológica deve ser sempre a explicação de último recurso e há boas razões para pensar que as nuvens de Vénus estão mortas. As concentrações de ácido sulfúrico nessas nuvens são mais extremas do que em qualquer habitat conhecido na Terra”, afirma Cockell.

Para Lewis Dartnell, astrobiólogo da Universidade de Westminster, as descobertas estimulam mais trabalhos: “Esta é uma grande oportunidade para observações posteriores de telescópios baseados na Terra e, idealmente, para examinar essas gotículas na atmosfera venusiana com uma sonda de balão navegando pelas nuvens ácidas”.

c/ Lusa
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