Gases de efeito de estufa encolheram a estratosfera em 400 metros em quatro décadas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
A estratosfera estende-se desde cerca de 20 quilómetros a 60 quilómetros acima da superfície da Terra Reuters

Um estudo publicado na semana passada revela que a estratosfera encolheu 400 metros entre 1980 e 2018 e os gases de efeito de estufa são apontados como os maiores responsáveis por esse estreitamento. Caso não se consiga diminuir a emissão destas substâncias gasosas, os cientistas preveem que a estratosfera contraia até 1,3 quilómetros até 2080. Esta diminuição poderá ter consequências para os satélites e GPS.

O crescimento da troposfera era um fenómeno já conhecido pelos cientistas, à medida que as emissões de dióxido de carbono aumentam e expandem o ar. Como consequência, o limite inferior da estratosfera é empurrado, diminuindo a dimensão desta segunda maior camada da atmosfera.

Apesar disso, nenhum estudo tinha ainda demonstrado a verdadeira dimensão deste fenómeno. A análise publicada na revista Environmental Research Letters é a primeira a revelar o quanto a estratosfera diminuiu nas últimas décadas, ao estudar um conjunto de observações de satélite desde 1980 em combinação com vários modelos climáticos.

Segundo este estudo, a estratosfera encolheu 400 metros entre 1980 e 2018 devido aos gases de efeito de estufa. Se não existir uma diminuição na emissão destas substâncias gasosas, os cientistas preveem que a estratosfera contraia até 1,3 quilómetros até 2080, o que corresponde a uma diminuição de 3,7 por cento em comparação com a espessura média da estratosfera nos últimos 40 anos. A estratosfera estende-se desde cerca de 20 quilómetros a 60 quilómetros acima da superfície da Terra. Abaixo desta camada está a troposfera, a camada mais baixa da atmosfera terrestre e onde vivem os seres humanos.

Uma vez que a camada de ozono se encontra na estratosfera, os cientistas atribuíram inicialmente as causas para o encolhimento desta camada da atmosfera às perdas de ozono nas últimas décadas. No entanto, os cientistas comprovaram agora que é o aumento dos níveis de dióxido de carbono (o maior responsável pelo efeito de estufa) que está a provocar a diminuição da estratosfera.

Este estudo encontra a primeira evidência observacional da contração da estratosfera e demonstra que a causa são as nossas emissões de gases de efeito de estufa e não o ozono”, explica o professor universitário Paul Williams ao jornal The Guardian.
“Isto é chocante”
Segundo explicam os cientistas, as crescentes emissões de gases com efeito de estufa levaram ao aquecimento troposférico e, por sua vez, ao arrefecimento estratosférico nas últimas décadas, uma vez que o CO2 quando entra na estratosfera provoca um arrefecimento do ar, fazendo com que se contraia. Como consequência termodinâmica, a troposfera expandiu e empurrou a tropopausa, a camada intermediária entre a troposfera e a estratosfera.

“Isto é chocante”, afirma Juan Añel, cientista da Universidade de Vigo, em Espanha, que faz parte da equipa de investigação do estudo em causa. “Isto prova que estamos a causar problemas até 60 quilómetros da atmosfera”, acrescenta o cientista, citado pelo jornal britânico The Guardian.

O estreitamento da estratosfera é mais um sinal da emergência climática e das consequências da ação humana e tal pode afetar os satélites e GPS. “Pode afetar as trajetórias dos satélites, os tempos de vida orbitais e recolhas, a propagação das ondas de rádio e, mais tarde, o desempenho geral do Sistema de Posicionamento Global (GPS) e de outros sistemas de navegação baseados no espaço”, lê-se no estudo.

“É notável que ainda estejamos a descobrir novos aspetos das alterações climáticas após décadas de pesquisa”, afirma Williams. “Isto faz-me pensar nas outras mudanças que as nossas emissões estão a provocar na atmosfera que ainda não descobrimos”, conclui.
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