O eixo terrestre está a deslocar-se e a culpa é das alterações climáticas

por Mariana Ribeiro Soares
Lucas Jackson - Reuters

Um estudo científico publicado em março observou que os pólos terrestres moveram-se cerca de quatro metros na direção leste desde 1995, sendo que a deslocação foi 17 vezes mais rápida desde esse ano até 2020 do que nos 15 anos anteriores. Após uma análise dos dados disponíveis, os cientistas concluíram que o degelo, impulsionado pelas alterações climáticas, foi “a causa mais provável” para esta deslocação observada no eixo terrestre.

A ligeira deslocação do eixo terrestre – a linha imaginária na qual a Terra gira sobre si própria – é normal e natural, segundo explicam os cientistas. Mudanças na distribuição da massa do planeta, na atmosfera e hidrosfera, alteram a distribuição do peso na Terra que, por sua vez, oscila e muda a posição do eixo e dos pólos, que consistem nos dois pontos (a norte e a sul) onde o eixo de rotação cruza a superfície terrestre.

Tal como explica Vincent Humphrey, um cientista do clima da Universidade de Zurique que não esteve envolvido neste estudo, a Terra gira em torno de um eixo como um pião. Se o peso do pião se alterar, este começará a inclinar-se e a oscilar, conforme muda o seu eixo de rotação. A mesma coisa acontece com a Terra, quando o peso se altera e há uma redistribuição da massa.

No entanto, os cientistas observaram uma mudança significativa na posição dos pólos em meados da década de noventa. Segundo um estudo publicado em março deste ano, os pólos moveram-se cerca de quatro metros na direção leste desde 1995, sendo que a deslocação foi 17 vezes mais rápida desde esse ano até 2020 do que nos 15 anos anteriores.

Uma vez que a água, que constitui quase três quartos da superfície do planeta Terra, tem um grande peso na alteração da localização dos pólos, os cienstitas envolvidos no estudo, publicado pela União de Geofísica dos Estados Unidos (AGU, na sigla inglesa), analisaram as oscilações no armazenamento de água na superfície terrestre, incluindo neve, gelo, água subterrânea e superficial.

O estudo concluiu que o degelo dos glaciares, nomeadamente no Alasca, Gronelândia e Antártida, foi particularmente notório e mais rápido a partir da década de 90, tendo-se registado uma perda acrescida de 48 milímetros de gelo por ano em comparação com o período anterior a 1990.


O degelo, impulsionado pelas alterações climáticas, é, assim, apontado pelo estudo como “a causa mais provável” para a deslocação observada do eixo terrestre, ao ter alterado a massa terrestre. “Isto mostra o quão forte é essa mudança de massa. É tão grande que consegue mudar o eixo da Terra”, explica Vincent Humphrey.

O movimento de rotação da Terra e a posição do eixo em relação ao Sol é o que determina o dia e a noite. Desta forma, o movimento do eixo pode ter implicações no dia-a-dia.

Humphrey afirma, no entanto, que esta mudança registada no eixo terrestre não é suficientemente grande para afetar a rotina diária. O cientista explica que a deslocação pode alterar a duração do dia, mas apenas em milissegundos.

Os dados recentes apontam para que este problema apenas se intensifique nos próximos anos.

Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), entre 1992 e 2017, a Gronelândia e a Antártida perderam 6,4 mil milhões de toneladas de gelo, o que foi suficiente para elevar em 17,8 milímetros o nível do mar. Em 2010, a perda média anual de gelo na Gronelândia e na Antártida foi de 475 mil milhões de toneladas, seis vezes maior do que os 81 mil milhões de toneladas perdidas por ano nos anos 90.

O estudo refere ainda que entre as restantes causas plausíveis para a deslocação do eixo da Terra estão também as alterações do armazenamento de água na superfície terrestre em áreas não glaciares, o que é justificado pelas alterações climáticas e pelo “consumo insustentável de água subterrânea para irrigação e outras atividades antrópicas”.

Especialistas estimam que, nos últimos 50 anos, o ser humano tenha extraído 18 biliões de toneladas de água de reservatórios subterrâneos profundos, que nunca foram repostas.
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