Gaza. Hamas adia próxima libertação de reféns "até novo aviso"

por RTP
A chegada a Israel de um helicóptero com reféns a bordo, dia 8 de fevereiro de 2025 Itay Cohen - Reuters

O braço armado do Hamas anunciou esta segunda-feira que iria adiar "até novo aviso" a próxima libertação de reféns israelitas mantidos em cativeiro em Gaza, em troca da libertação de palestinianos detidos por Israel, no âmbito da trégua que entrou em vigor em 19 de janeiro.

“A libertação dos prisioneiros que estava marcada para o próximo sábado, 15 de fevereiro de 2025, é adiada até novo aviso enquanto se espera que a ocupação [israelita] cumpra as suas obrigações”, declarou Abou Obeida, porta-voz das Brigadas Ezzedine al-Qassam, num comunicado de imprensa. Israel reagiu de imediato, com o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, a classificar o anúncio do Hamas como uma violação do acordo de cessar-fogo de Gaza.

Israel Katz ordenou ao exército que elevasse o nível de prontidão em Gaza para o nível máximo.

“Dei ordens aos militares para adotar o mais alto nível de prontidão em Gaza para defenderem as nossas comunidades”, afirmou o ministro de Defesa de Israel.

“O anúncio do Hamas de que deixará de libertar reféns é uma violação completa do acordo de cessar-fogo”, acrescentou.

O grupo islamita palestiniano considera que Israel não está a cumprir os termos do cessar-fogo iniciado a 19 de janeiro, que já permitiu a libertação de diversos reféns israelitas retidos em Gaza, em troca de centenas de prisioneiros palestinanos.

O anúncio do porta-voz das Brigadas Qassam é um desenvolvimento significativo, numa altura em que o regresso dos civis ao norte do enclave tem estado atrasado alguns dias. 

A circulação entre o norte e o sul de Gaza tem estado a ser lenta devido às inspeções minuciosas dos veículos que circulam nos dois sentidos no cruzamento de Netzarim, na estrada de Salahedine.

As inspeções, "de cerca de 20 minutos por veículo", de acordo com testemunhas, estão a ser realizadas por agentes americanos e egípcios, armados e envergando uniformes militares, referem jornalistas da Agência France Presse no local. Israel retirou da área durante o fim-de-semana.
Tensão agravada
O grupo acusa os militares israelitas de disparar sobre civis que têm tentado regressar a Rafah e zonas orientais de Gaza. Afirma ainda que o número de pacientes palestinianos feridos que foram evacuados, bem como os camiões de ajuda humanitária que entraram em Gaza, foram menores do que o prometido no acordo de cessar-fogo.

"Durante as últimas três semanas, a liderança da resistência monitorizou as violações do inimigo e o seu incumprimento dos termos do acordo", disse Abu Obeida.

"Estas violações incluem atrasar o regresso das pessoas deslocadas ao norte de Gaza, atingi-las com bombardeamentos e tiros em várias áreas da Faixa de Gaza e não permitir a entrada de materiais de socorro sob todas as formas, conforme acordado. Entretanto, a resistência cumpriu todas as suas obrigações."

O porta-voz das Brigadas Qassam acrescentou que a decisão de adiar a libertação dos cativos "permanecerá em vigor até que a entidade ocupante cumpra as obrigações anteriores e compense retroativamente. Afirmamos o nosso compromisso com os termos do acordo, desde que a ocupação os cumpra."

As declarações de Obeida agravam ainda mais a tensão no território e podem significar o fim das tréguas, numa altura em que o presidente norte-americano, Donald Trump, insiste no seu plano de evacuar a Faixa de Gaza para ali construir um resort.

De acordo com a agência da ONU para os refugiados palestinianos, o número de deslocados dentro de Gaza ronda atualmente os 40.000. Um número que “está a aumentar a um ritmo alarmante”, acrescentou a UNRWA.
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