O Sonho Georgiano, partido no poder na Geórgia, iniciou um processo para a destituição da presidente pró-europeia e crítica da Rússia, Salomé Zourabichvili. Em causa estão as intenções desta líder de adesão do país à União Europeia e as suas observações em relação à proximidade do partido, que se identifica como de centro-esquerda, com Moscovo.
Salomé Zurabichvili, ex-diplomata francesa, foi eleita em 2018 com o apoio do partido que agora a quer destituir. As tensões começaram depois de a presidente ter vindo a público opor-se à política de proximidade do Sonho Georgiano com a Rússia.
“É do conhecimento do público que a presidente da Geórgia tem uma atitude radicalmente diferente da do Governo da Geórgia em relação aos processos relacionados com a aceitação do estatuto de candidato à adesão à UE”, esclarece o Sonho Georgiano.
O partido pretende, por estas razões, “iniciar um processo de destituição”, recolhendo, nesse sentido, as assinaturas dos membros da maioria parlamentar ao longo dos próximos dias. Com 90 assentos no Parlamento, o Sonho Georgiano precisa ainda de convencer dez deputados da oposição, o que poderá não ser simples.
Mesmo que consiga todas as assinaturas, o processo terá ainda de ser submetido ao Tribunal Constitucional da Geórgia, sendo necessário o apoio de pelo menos dois terços dos seus membros para que possa avançar.
“Tomamos esta decisão porque fechar os olhos às violações flagrantes da Constituição destrói o Estado de direito”, justificou o presidente do partido Sonho Georgiano, Irakli Kobakhidze, aos jornalistas.
Geórgia na UE seria “oportunidade histórica”
Ainda esta sexta-feira, a presidente Zourabichvili reuniu-se em Bruxelas com Charles Michel, presidente do Conselho Europeu. Este aproveitou a ocasião para sublinhar que a eventual decisão dessa instituição de conceder à Geórgia a adesão à UE seria “uma oportunidade histórica a não perder”.
O responsável europeu reafirmou ainda o compromisso da UE de “ajudar a Geórgia a avançar no caminho europeu” e sublinhou “a necessidade de o país aprofundar as reformas necessárias, nomeadamente nas áreas da justiça, da desoligarquização, da luta contra a corrupção e do pluralismo dos órgãos de comunicação social”.Charles Michel elogiou também o “compromisso pessoal da presidente da Geórgia de promover a perspetiva europeia”.
Numa aparente retaliação e tentativa de travar Salomé Zourabichvili, o partido Sonho Georgiano tinha já avançado que ia proibir a presidente de visitar dez países, incluindo a Ucrânia. Ainda assim, aquela que é a primeira mulher chefe de Estado na Geórgia foi a Berlim na quinta-feira, onde se encontrou com o seu homólogo alemão, Frank-Walter Steinmeier.
É a primeira vez que um partido no poder na Geórgia, país com cerca de quatro milhões de habitantes, inicia um processo de destituição de um presidente.
c/ agências