Gigantes do Agronegócio tentam encurralar plano destinado a travar desflorestação

por RTP
Reuters

Cinco das maiores empresas do agronegócio no mundo tentaram enfraquecer o plano da União Europeia para travar a desflorestação, depois da cimeira em Glasgow, o COP 26. A informação é avançada pelo The Guardian, que revela que, apesar de concordarem com o plano numa primeira instância, as empresas alertaram para a subida dos preços e falta de mantimentos na União.

A agricultura é responsável por perto de um quarto das emissões de gases de estufa e as empresas prometeram reformar as cadeias de abastecimento para conseguir alcançar o objetivo de travar o aquecimento em mais de 1,5 graus celcius.

No entanto, a 10 de novembro, associações ligadas a cinco destas empresas que concordaram com o primeiro plano avisaram a União Europeia, em concreto Frans Timmermans, vice-presidente da Comissão Europeia, de que o rascunho dos 27 levaria à subida de preços caso não fosse alterado.

Este é um plano europeu agora considerado pelos ministros dos Estados-membros que poderá ter impacto na produção de soja, café, carne ou cacau, atividades que se pensa ligadas à desflorestação.

No entanto, de acordo com a indústria, o plano não é “fazível”, palavras escritas numa carta que a Greenpeace teve acesso e foi partilhada com The Guardian. A carta diz que o plano da União Europeia levaria a aumentos de preços e problemas de disponibilidade de alguns alimentos, o que levaria à redução da oferta de comida disponível e barata.

Para mais, três grandes empresas pediram o estabelecimento de um sistema para monitorizar e certificar “volumes sustentáveis” de produtos dentro das cadeias de abastecimento.

Apesar do pedido, a Greenpeace disse que esta é uma medida sem relevo, já que o novo sistema vai levar misturados produtos certificados com outros que foram proibidos.

Anna Cavazzini, dos Verdes alemães e deputada do Parlamento Europeu, disse ao Guardian que é uma desilusão verificar que grandes empresas que concordaram com o primeiro plano estejam agora a tentar esfraquecê-lo.

“Mudança real só pode acontecer casos as empresas façam na esfera privada aquilo que dizem que vão fazer em público”.

Apesar da carta, os subscritores asseguram continuar a defender o esforço para parar a desflorestação.

Um porta-voz da Viterra, uma das grandes empresas do agronegócio, disse que a carta pretende alertar para os efeitos maus que podem vir a ser sentidos nas importações para a Europa.

Bunde, uma outra empresa do ramo, afirmou que a missiva se destina a um processo de consulta aberta que pretende a criação de um rascunho que leve à transformação sustentável.

Uma segunda carta, de outras associações agrícolas, declarara que estas medidas iriam afetar negativamente os pequenos produtores. Os mesmos alegaram, por exemplo, que a “geolocalização” para seguir produtos sustentáveis seria um problema, apesar de um grupo representante de mais de 30 mil produtores de cacau na Costa do Marfim rejeitar o argumento.

“A rastreabilidade digital oferece uma oportunidade única de atacar problemas de equidade como o respeito pelos preços do cacau, a falta de pagamento sobre produtos sustentáveis e terminar com as cadeias de abastecimento e cooperativas ilegais a trabalhar em florestas protegidas”.

“Os intervenientes da indústria que tentam parar a rastreabilidade e a geolocalização que leva à identificação de cada produtor estão, na realidade, a fazer campanha para que nada mude”.

Bakary Traoré, diretor de uma ONG da Costa do Marfim, acrescentou ainda que a indústria está apenas a fazer lobby para proteger as grandes empresas e não para ajudar os pequenos produtores.
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