Golpe falhado na Venezuela. Mercenários norte-americanos não foram enviados por Trump

por RTP
Miraflores press - EP

Acusado por Nicolás Maduro, Juan Guaidó nega qualquer "ligação, compromisso ou responsabilidade" com a empresa que o Governo acusou de duas tentativas de ataque falhadas. Donald Trump também nega que os Estados Unidos estejam por trás da operação que levou à detenção de dois norte-americanos, advertindo que se intervierem será uma verdadeira "invasão". Mas por que falhou o plano para derrubar o governo de Maduro?

O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro, afirma que estava a ser preparada "uma tentativa de invasão pelo mar" e que deveria, depois, ser seguida por um "golpe de Estado", liderado pelo opositor político Juan Guaidó.

Maduro acusa mesmo o líder da opisição de ter preparado o seu homicídio com os participantes na tentativa de invasão marítima de domingo.

"É um ladrão, um narcotraficante, capaz de assinar um contrato para que matem o seu adversário político. É um criminoso e fez isto. Preparou o meu assassínio. É um fracassado e alguém terá de reconhecer isso", disse o presidente na quinta-feira à imprensa estatal venezuelana.

Estendendo as acusações também aos EUA, o chefe de Estado venezuelano adiantou que "neste momento não há um diálogo político entre a Venezuela e os Estados Unidos" e que após os recentes acontecimentos Washington rompeu os canais de comunicação com Caracas.

"Depois do dia 3 de maio as relações foram cortadas, mas sempre houve canais de informação. Eles aplicaram o ‘mute’, o silêncio total, e não respondem às nossas mensagens", acrescentou.

Mas o presidente dos EUA nega também o envolvimento na operação e garante que "se quiser ir à Venezuela" não fará "disso um segredo".

Segundo se sabe, o plano era derrubar Nicolás Maduro e levá-lo para a Flórida para responder pelas acusações de tráfico de droga.

Jordan Goudreau, um ex-militar dos "boinas verdes" (uma força especial do exército dos EUA) assumiu, entretanto, estar à frente desta incursão falhada na Venezuela. Mas o ex-militar de operações especiais norte-americanas diz que organizou um pequeno grupo de pessoas para essa invasão, sob ordens de Juan Guaidó.

As autoridades dos EUA dizem que Goudreau, que tem uma empresa de segurança na Flórida, não agiu a mando da Administração Trump, acrescentando que este ex-militar está a ser investigado por tráfico de armas, numa fase ainda inicial do processo judicial.
Por que falhou o plano de invasão?

O Governo venezuelano anunciou, no domingo, que oito pessoas morreram e duas foram detidas numa primeira tentativa de ataque marítimo que ocorreu no distrito de La Guaira, vizinho de Caracas. No dia seguinte, dois norte-americanos e 11 pessoas foram detidas numa segunda embarcação que se aproximava de uma área costeira do distrito central de Arágua.

As falhas do plano foram reveladas por dois soldados das forças especiais norte-americanas que foram detidos. Airan Berry e Luke Denman foram capturados no mar antes mesmo de pisarem solo venezuelano.

Um dos norte-americanos detidos, Luke Denman, ex-integrante das forças especializadas em operações táticas, afirmou em interrogatório que pretendia assumir o controlo do aeroporto de Maiquetía e levar o presidente venezuelano para os Estados Unidos.

"Havia três pequenos grupos. Ao todo eram entre 60 ou 70 homens, 20 pessoas por grupo", disse Denman.

"Eu devia garantir o controlo do aeroporto para que pudéssemos fazer uma transferência segura de Maduro até ao avião", acrescenta.

Uma investigação da Associated Press detalhou como Goudreau, através da sua empresa de segurança privada da Flórida, se uniu a um oficial do exército venezuelano reformado para treinar em campos secretos na Colômbia dezenas de desertores das forças de segurança da Venezuela para uma missão que visava Maduro. Segundo essa mesma investigação, os EUA ofereciam uma recompensa de 15 milhões de dólares pela captura de Maduro.

A verdade é que Trump nega qualquer envolvimento e Goudreau garante que nunca conseguiu convencer a Administração Trump a apoiar o seu plano ousado de golpe de Estado na Venezuela.

De acordo com o Guardian, alguns representantes de Juan Guaidó assinaram um grande contrato com Goudreau para derrubar Maduro. Mas em entrevista com ao jornal britânico, uma figura importante da oposição disse que começaram a duvidar de Goudreau, acabando por abortar a missão e terminar o acordo meses antes da invasão deste fim-de-semana.

Embora Goudreau tenha levado o plano avante e tenha tentado, ingloriamente, no domingo invadir a Venezuela, o plano já estava destinado ao falhanço.

Dois dias antes a Associated Press já tinha publicado uma longa investigação na qual expunha o plano. Provavelmente o Governo venezuelano teve conhecimento e preparou-se atempadamente para o ataque.
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