Governo ruandês retirou sexta-feira último diplomata na RDCongo 

por Lusa

O Ruanda retirou na sexta-feira o seu último diplomata em Kinshasa, que anunciou uma retirada semelhante num contexto de intensificação dos combates na região fronteiriça de Goma, no leste da República Democrática do Congo (RDCongo).

"Retiramos na sexta-feira, via Brazzaville, o nosso último diplomata, que era alvo de ameaças regulares de responsáveis congoleses", declarou Olivier Nduhungirehe, acrescentando que esta retirada ocorreu "antes da chamada nota verbal congolesa", datada do mesmo dia.

A RDCongo cortou relações diplomáticas com o Ruanda enquanto os combates entre rebeldes apoiados por Kigali e forças governamentais se intensificavam ao redor da importante cidade oriental de Goma, deixando pelo menos 13 soldados estrangeiros mortos e deslocando milhares de civis.

O grupo rebelde M23 tem feito avanços territoriais significativos ao longo da fronteira com o Ruanda nas últimas semanas, aproximando-se de Goma, a capital provincial com cerca de dois milhões de habitantes e um centro regional de segurança e esforços humanitários.

A RDCongo, os Estados Unidos e especialistas da ONU acusam o Ruanda de apoiar o M23, um grupo composto maioritariamente por membros da etnia tutsi que se separaram do exército congolês há mais de uma década. 

O M23 é um dos cerca de 100 grupos armados que lutam por controlo na região rica em minerais, onde um conflito prolongado criou uma das maiores crises humanitárias do mundo.

O governo do Ruanda nega apoiar os rebeldes, mas reconheceu no ano passado que tem tropas e sistemas de mísseis no leste do Congo para salvaguardar a sua segurança, apontando para a mobilização de forças congolesas perto da fronteira. 

Especialistas da ONU estimam que haja até 4.000 soldados ruandeses no Congo.

Na noite de sábado, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da RDCongo anunciou o corte de relações diplomáticas com o Ruanda, ordenando a retirada imediata de todo o pessoal diplomático. 

Hoje, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Ruanda, Olivier Nduhungirehe, disse à Associated Press que a decisão de Kinshasa de cortar as relações diplomáticas foi "unilateral" e que foi publicada nas redes sociais antes de ser enviada à embaixada.

"Pela nossa parte, tomámos as medidas adequadas para retirar o nosso diplomata remanescente em Kinshasa, que estava sob ameaça permanente por parte de responsáveis congoleses. Isso foi concluído na sexta-feira, um dia antes da publicação desta nota verbal nas redes sociais", afirmou.

O Conselho de Segurança da ONU antecipou para hoje uma reunião de emergência sobre a escalada de violência no leste da RDCongo, a pedido do governo congolês, que tinha inicialmente solicitado o encontro para segunda-feira.

Hoje de manhã soaram tiros intensos em Goma, a poucos quilómetros da linha da frente, enquanto dezenas de crianças e adultos deslocados fugiam do campo de Kanyaruchinya, um dos maiores no leste do Congo, localizado perto da fronteira com o Ruanda, e dirigiam-se para o sul, rumo a Goma.

Centenas de pessoas estão hoje a tentar atravessar a fronteira para o Ruanda através das passagens a leste de Goma.

No início da semana, os rebeldes capturaram Sake, a 27 quilómetros de Goma, aumentando os receios de que a cidade pudesse cair em breve.

O exército congolês afirmou no sábado ter repelido uma ofensiva do M23 com a ajuda de forças aliadas, incluindo tropas da ONU e soldados da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral na RDCongo (SAMIDRC).

Segundo a ONU, nove soldados sul-africanos das forças de paz foram mortos na sexta-feira, enquanto um militar uruguaio foi morto no sábado. Além disso, três soldados do Malawi que integravam as forças de paz foram mortos no leste da RDCongo 

Desde 2021, o governo da RDCongo e as forças aliadas, incluindo a SAMIDRC e tropas da ONU, têm trabalhado para manter o M23 afastado de Goma.

A missão das Nações Unidas na RDCongo está no país há mais de duas décadas e conta atualmente com cerca de 14.000 `capacetes azuis` no terreno.

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