O deputado federal brasileiro Guilherme Boulos apelou hoje à unidade da esquerda para combater o crescimento da extrema-direita mas sem diluição, alertando que "frentes amplas pela democracia são importantes para vencer mas não são suficientes para governar".
Guilherme Boulos apela a unidade da esquerda contra extrema-direita mas sem diluição
Falando em Lisboa, numa sessão internacional organizada pelo Bloco de Esquerda na véspera do arranque da XIII Convenção Nacional, o antigo candidato à Presidência do Brasil (2018) afirmou que os movimentos de extrema-direita não são apenas "um fenómeno brasileiro".
"Aqui chama-se Chega, em Espanha Vox, em França Frente Nacional. Mundo fora, o que vemos é uma ascensão da extrema-direita valendo-se das insatisfações populares, assim como foi a ascensão dos fascismos na década de 30 na Europa, não só de insatisfações económicas, como de desalento político", afirmou.
E, perante militantes e dirigentes do Bloco de Esquerda deixou um apelo: "Da mesma forma que eles se organizam internacionalmente, com os mesmos métodos, o uso das redes digitais, com a mesma retórica de `fake news`, nós temos que nos articular internacionalmente, cada vez mais estreitar os nossos laços de solidariedade internacional e de cooperação, troca de experiências".
Guilherme Boulos considerou que a ascensão da extrema-direita pelo mundo "impõe unidade" à esquerda, defendendo que não tinha sido possível "destronar Bolsonaro sem unidade em torno de Lula", mas ressalvou que "unidade não é diluição".
"Até porque frentes amplas pela democracia são importantes para vencer, mas não são suficientes para governar", considerou, apontando que a luta pela democracia "não é só por manter eleições livres e evitar golpes, não é simplesmente por manter a liberdade democrática conquistada, é por democracia social, económica, porque nenhuma democracia política se sustenta calçada em abismos sociais".
"Se eles globalizam o ódio, é o nosso papel globalizar a esperança, valorizar a coragem", salientou.
O deputado federal defendeu igualmente que, "para além da necessária unidade na luta democrática", os partidos de esquerda têm de estar "firmes na económica e social, de combate às desigualdades" e defender a "agenda socioambiental", lutando não apenas no parlamento como também nas ruas.
E salientou "o quanto o BE é imprescindível em Portugal".
O dirigente do PSOL considerou que a vitória de Lula da Silva nas últimas eleições presidenciais daquele país "foi libertadora" mas apontou que, ainda que o ex-Presidente Jair Bolsonaro tenha sido "derrotado nas urnas, não foi derrotado o bolsonarismo".
No mesmo sentido, o eurodeputado francês Younous Omarjee defendeu que "coligações da esquerda na Europa são muito importantes" na luta "contra o crescimento da extrema-direita e dos nacionalismos".
O dirigente considerou que o Presidente do seu país, Emmanuel Macron, tem adotado "os mesmos discursos, a mesma linguagem" que Marine Le Pen, afirmando que vão beber "os dois ao mesmo poço ideológico".
E alertou para o "risco imenso que a extrema-direita possa passar as suas ideias, que já estão presentes nas políticas implementadas por Macron e que servem interesses fascistas".