Guiné-Bissau. Mentiras e medo não substituirão debate político sério diz assessoria de imprensa de Dias da Costa

 A assessoria de imprensa do candidato presidencial guineeense Fernando Dias da Costa declarou hoje, em Lisboa, que não aceitarão que a mentira e o medo substituam o debate político sério, em resposta a afirmações do Alto Comando Militar.

Lusa /

"Começo por dizer-vos que não aceitaremos que a mentira, o medo e a insinuação criminosa substituam o debate político sério", declarou o ativista Mariano Quadé, assessor de imprensa da candidatura independente de Fernando Dias da Costa às eleições presidenciais da Guiné-Bissau do passado mês de novembro.

"Foi afirmado que as eleições não constituem solução para os problemas do nosso país. Esta afirmação não é apenas errada, é perigosa. As eleições não são uma opinião, são um direito inquestionável", acrescentou o representante do candidato que está exilado na embaixada da Nigéria em Bissau.

As eleições podem não resolver todos os problemas, mas sem eleições não há legitimidade, não há estabilidade e não há Estado de Direito, declarou Quadé aos jornalistas.

Por outro lado, negou que a campanha de Dias da Costa tenha sido financiada por narcotraficantes, uma afirmação também dada pelo Alto Comando Militar da Guiné-Bissau.

O representante do histórico PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde) presente da conferência, Iafai Sani, explicou que durante a campanha de apoio ao candidato Dias da Costa não tiveram financiamento e cada pessoa teve de pagar individualmente o material usado.

"A campanha de Fernando Dias da Costa foi financiada de forma lícita, transparente e de acordo com a lei. Quem afirma o contrário tem a obrigação de apresentar provas concretas. Até hoje, nenhuma foi apresentada", rematou Quadé dizendo ainda que "repetir uma mentira não a transforma em verdade".

Por fim, referiu ainda que qualquer insinuação de que a vontade popular pode ou deve ser condicionada por ameaças constitui uma violação aos princípios do Estado de direito e da separação de poderes. 

"Rejeitamos totalmente a tentativa de criar um clima de medo para justificar a negação da soberania popular", concluiu.

Esta conferência de imprensa em Lisboa é uma resposta às afirmações do chefe do Alto Comando Militar que, a 19 de dezembro: "As eleições não são solução para a Guiné-Bissau enquanto não falarmos a verdade uns aos outros" e as Forças Armadas "não vão entregar o país a nenhum bandido ou vendedor de droga".

Em 26 de novembro, um dia antes do anúncio dos resultados provisórios das eleições presidenciais e legislativas na Guiné-Bissau, os militares depuseram o então Presidente, Umaro Sissoco Embaló, no poder desde 2020, e suspenderam o processo eleitoral em curso.

O candidato da oposição Fernando Dias da Costa, que reclama a vitória, refugiou-se na embaixada da Nigéria, que lhe concedeu asilo.

Já o líder da oposição, Domingos Simões Pereira, foi detido no dia do golpe, juntamente com outros opositores.

Na noite de 23 de dezembro, seis pessoas próximas de Simões Pereira, líder do histórico PAIGC, foram libertadas.

Simões Pereira continua detido.

Inicialmente detido pelos militares na altura do golpe, o Presidente abandonou o país.

A junta nomeou o general Horta Inta-A, um aliado próximo de Umaro Sissoco Embaló, Presidente de um Governo de transição com a duração máxima prevista de um ano.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) ameaçou, em meados de dezembro, impor "sanções direcionadas" a qualquer pessoa que tente obstruir o regresso ao Governo civil na Guiné-Bissau.

O país está suspenso da CEDEAO, da União Africana e da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), organização na qual detinha a presidência rotativa.

A oposição e figuras internacionais têm afirmado que o golpe de Estado foi uma encenação orquestrada por Embaló, por alegadamente ter sido derrotado nas urnas.

 

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