Guterres alerta para “mundo cada vez mais caótico”

por RTP
"Precisamos ser mais ambiciosos e mais urgentes" no combate às alterações climáticas, apelou António Guterres Shannon Stapleton - Reuters

O secretário-geral das Nações Unidas lamenta a escalada do populismo e as posições cada vez mais polarizadas num mundo que apresenta “uma forma grave de perturbação do défice de confiança”. Na abertura da 73ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, António Guterres sublinha que o “multilateralismo está sob fogo precisamente quando mais precisamos dele”.

O mundo está “cada vez mais caótico”, os princípios democráticos estão "sob cerco" e o Estado de Direito está "minado”. É esta a leitura que o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) faz do momento político internacional.

Na abertura da reunião anual dos 193 chefes de Estado e de Governo, António Guterres notou que, “entre os países, a cooperação é menos certa e mais difícil”, admitindo que “as divisões no seio do Conselho de Segurança são graves”.

Os 15 Estados membros do Conselho de Segurança estão divididos sobre questões como o nuclear iraniano e o Acordo do Clima.

Por um lado, os Estados europeus criticam os Estados Unidos por rasgarem o acordo para o nuclear iraniano, assinado em 2015, enquanto defendem a redução da influência iraniana no Médio Oriente.

“Hoje, a ordem mundial está cada vez mais caótica, as relações de poder são menos claras, os valores universais estão a ser erodidos”, insistiu o secretário-geral português. Com “os princípios democráticos atacados, o Estado de Direito minado, a impunidade em desenvolvimento”, António Guterres conclui que “o mundo sofre de uma forma grave de perturbação do défice de confiança”.

Este contexto faz com que o mundo se torne "multipolar", mas de um modo que não "é garantia de paz ou de solução global para os problemas", porque, com "as alterações nos equilíbrios de poder (...) os riscos de confrontação podem aumentar".
Guterres pede mais ambição para combater alterações climáticas
Um dos temas que reflete a divisão dos líderes políticos é a política para combater as alterações climáticas. Em junho de 2017, o atual Presidente dos Estados Unidos tomou a decisão de abandonar o Acordo de Paris sobre as alterações climáticas, delineado e assinado pelo seu antecessor, Barack Obama.

O secretário-geral da ONU aproveitou a oportunidade para alertar para o "momento decisivo" que o mundo enfrenta no combate às alterações climáticas.

Os esforços para limitar o aquecimento global - "uma ameaça direta à nossa existência" - eram em grande parte inadequados, admitiu o antigo primeiro-ministro português. "Precisamos ser mais ambiciosos e mais urgentes", apelou.

Se os líderes políticos não agirem nos próximos dois anos, as alterações podem ser descontroladas, alertou António Guterres.

Na Assembleia-Geral, o secretário-geral da ONU sublinhou a importância de “garantir a implementação do Acordo de Paris”, em que os países se comprometem a reduzir até 2025 as emissões de gases com efeito de estufa entre 26% e 28% em relação aos níveis de 2005.

“As últimas duas décadas incluíram os 18 Verões mais quentes desde que há registo”, notou o secretário-geral, para depois fazer a defesa das energias renováveis, “mais acessíveis e competitivas do que nunca”.
Incapacidade de por fim a guerras “é um escândalo”
António Guterres defende o compromisso com uma ordem mundial que tenha “as Nações Unidas no centro".

"A nossa incapacidade de por termo às guerras na Síria, Iémen e noutros lugares é um escândalo", reconheceu o secretário-geral, para depois enumerar alguns dos conflitos. “O povo Rohingya é exilado (...), palestinianos e israelitas continuam num conflito sem fim, com uma solução de dois Estados cada vez mais longínqua”, declarou.

António Guterres advertiu ainda que os avanços tecnológicos são um dos "desafios históricos" que o mundo enfrenta, apontando os "riscos graves" da inteligência artificial ou a biotecnologia.

O secretário-geral alertou que a tecnologia é uma ferramenta nas mãos de terroristas, cibercriminosos e criadores de campanhas de desinformação. António Guterres manifestou preocupação com a aplicação de inteligência artificial a armas que escolham os seus próprios alvos.

"A perspetiva de máquinas com a capacidade e o poder de eliminar vida humana é moralmente repugnante", afirmou.
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