Hamas acusa EUA de hipocrisia, enquanto continuam ataques israelitas a Gaza

por Inês Moreira Santos - RTP
Mohammed Saber - EPA

As forças israelitas confirmaram que lançaram novos ataques no norte, no centro e no sul de Gaza nas últimas horas, que causaram mortos e a destruição de infraestruturas e armas. O Hamas, por outro lado, admite estar a estudar a proposta de trégua negociada em Paris e acusa o presidente norte-americano de hipocrisia. Em reação às declarações de Joe Biden sobre um possível cessar-fogo, o movimento palestiniano considera que a proposta de Washington visa "salvar a face de Israel".

“As forças [israelitas] localizaram uma instalação para o fabrico de armas, lançadores de foguetes e sistemas usados pelo Hamas em combate", indicou o Exército de Israel num comunicado, acrescentando que um número desconhecido de supostos combatentes islâmicos tinham sido mortos e que um túnel foi destruído.

De acordo com o mesmo comunicado, citado pelas agências internacionais, as forças israelitas bombardearam locais no bairro de Zaytun, na Cidade de Gaza, além de avançarem com incursões terrestres.

As tropas israelitas afirmaram ainda ter eliminado combatentes no centro de Gaza e destruído, com a ajuda do corpo de engenharia, "dezenas de locais estratégicos pertencentes ao Hamas", enquanto no Oeste de Khan Yunis (no sul do enclave) ocorreram novos combates, na área "adjacente às comunidades israelitas" próximas de Gaza.

Enquanto os ataques israelita continuam, o grupo islâmico Hamas diz estar a estudar o último plano de trégua. Segundo fontes palestinianas confirmaram à agência de notícias EFE, este plano duraria cerca de 42 dias - coincidindo com o mês sagrado do Ramadão, período sagrado de paz para os muçulmanos - e durante a qual seriam libertados cerca de 40 civis israelitas em troca de cerca de 400 prisioneiros palestinianos. Entre os palestinianos podiam estar prisioneiros com penas de prisão perpétua, que estavam em iminência de serem deportados, segundo a mesma fonte.

Esta primeira fase da trégua estaria condicionada a novas negociações subsequentes, para libertar os soldados israelitas, e incluiria também o regresso gradual dos habitantes de Gaza deslocados do norte de Gaza.
Comentários de Biden sobre cessar-fogo são “prematuros"
Na madrugada desta terça-feira e no decorrer das negociações para um acordo, Joe Biden manifestou ter esperança de que seja alcançado um cessar-fogo em Gaza “até à próxima segunda-feira”.

“O meu conselheiro de segurança nacional diz-me que estamos perto, ainda não está feito. Tenho esperança de que na próxima segunda-feira teremos um cessar-fogo”, realçou o chefe de Estado norte-americano, em declarações aos jornalistas durante uma viagem a Nova Iorque.

Já o representante do Hamas no Líbano, Osama Hamdan, reiterou que "a menos que a fome em Gaza seja interrompida e a agressão seja encerrada" não haverá trégua, durante uma entrevista televisiva, apontando ainda como cúmplice da guerra a Casa Branca, que acusou de “pressionar” e querer “enfraquecer” as exigências do grupo palestiniano.

“Biden pratica a hipocrisia política e participa na morte de palestinianos”, disse Osama Hamdan, um membro sénior da ala política do Hamas, citado pelo diário Filastin, ligado ao grupo islamita.

Hamdan afirmou ainda que a fuga de informação sobre os pormenores da proposta de acordo tinha como objetivo “criar fraqueza entre os palestinianos”.

“O projeto dos Estados Unidos visa salvar a face de Israel” e dar mais tempo ao primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, “para preparar um novo ataque” contra a Faixa de Gaza.

Segundo Hamdan, a divulgação da proposta “é um caso de propaganda que não atinge o que o Hamas procura”.

“A prioridade é parar a agressão [israelita], acabar com o cerco e entregar ajuda, enquanto a troca de prisioneiros virá mais tarde”
, referiu, segundo a agência espanhola Europa Press.

De acordo com a Reuters, um militante do movimento islâmico Hamas afirmou que as declarações de Biden sobre a suspensão dos combates em Gaza "são prematuras" e não correspondem à situação no terreno.

A mesma fonte, não identificada pela agência de notícias, disse que ainda há "grandes lacunas que têm de ser colmatadas".

Fontes citadas pela Al Jazeera disseram, na segunda-feira, que o acordo de cessar-fogo que está a ser negociado incluiria uma trégua de seis semanas em Gaza. A trégua seria acompanhada pela libertação de 40 reféns israelitas, bem como a libertação de cerca de 400 prisioneiros palestinianos.

Segundo as mesmas fontes, Israel teria concordado com o regresso gradual ao norte de Gaza dos palestinianos deslocados pela ofensiva militar, excluindo os que têm idade militar, bem como com a entrada de mais ajuda humanitária.

c/ agências
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