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Helicóptero de presidente iraniano obrigado a aterragem forçada no norte do país

por Graça Andrade Ramos - RTP
Iranianos procuram informação na internet Atta Kenare / AFP

Um de três helicópteros que transportavam o presidente iraniano e a sua comitiva sofreu uma "forte queda" este domingo, quando regressava da fronteira com o Azerbaijão, anunciou a televisão estatal do Irão.

A delegação percorria uma região montanhosa entre forte nevoeiro, rumo à cidade de Tabriz. O aparelho terá caído de forma "descontrolada", referiu a televisão pública, acrescentando depois que o mau tempo terá estado na origem do acidente.

O ministro do Interior confirmou que o helicóptero afetado transportava o presidente iraniano, assim como o ministro dos Negócios Estrangeiros, Hossein Amir Abdollahian, e Ali Ale-Hashem, o representante provincial do Líder Supremo do Irão, além do governador da província. 

Pelas 19h00 em Portugal, a Agência Reuters indicou que a televisão estatal confirmava que tinha sido identificado o local da queda, após mais de quatro horas de buscas. A informação foi depois desmentida pelo Crescente Vermelho do Irão.

O supremo líder do país, Ali Khamenei, reconheceu-se preocupado com o acidente, durante um encontro com famílias iranianas, garantindo contudo que o funcionamento do país não vai ser afetado.

"Esperamos que Deus devolva o honorável presidente e os seus companheiros aos braços da nação", afirmou. "Todos devem rezar pela saúde deste grupo de servidores públicos. A nação iraniana não deve estar preocupada, não heverá perturbação no funcionamento do país", acrescentou.

A televisão estatal tem estado a emitir orações pelo bem estar do presidente e a apelar os iranianos a rezar.

Dois outros helicópteros, que transportavam o ministro da Energia, Ali Akbar Mehrabian, e o ministro da Habitação e Transportes, Mehrdad Bazrpash, chegaram em segurança a Tabriz, a maior cidade do nordeste do Irão.

Um alto responsável iraniano afirmou sob anonimato à Agência Reuters que "mantemos a esperança, mas a informação vinda do local da queda é muito preocupante", admitindo que as vidas de Raisi e de Abdollahian "estão em risco".

O acidente ocorreu perto de Jofa, uma cidade na fronteira com o Azerbaijão a cerca de 600 kms a noroeste da capital Teerão.

O primeiro vice-presidente, Mohammas Mokhber, deixou Teerão no final da tarde rumo a Tabriz, acompanhado de vários membros do governo, de acordo com o porta-voz do executivo.

Em caso de morte súbita do presidente, a Constituição iraniana dispõe que o primeiro vice-presidente - agora Mohammas Mokhber - assume a presidência, sob aprovação do supremo líder.

Na hiereraquia política do Irão, o líder do Estado é o supremo líder, Ali Khamenei, sendo o presidente considerado o chefe do governo e segunda-figura de comando.

Quando este morre, é substituido pelo primeiro vice-presidente. O país deve realizar novas eleições presidenciais num prazo de 50 dias.

A falta de notícias e a incerteza está a afetar os iranianos, referiu já o analista Abas Aslani à Al Jazeera.

"Ninguém sabe exatamente o que sucedeu e o que se passa com o presidente e outros responsáveis, porque a situação é muito complicada", afirmou. "À medida que o tempo passa, a esperança diminui porque as condições estão a piorar muito e está a escurecer".

A falta de luz levou à suspensão das buscas aéreas por volta das 18h00 portuguesas.
Socorro a caminho
O ministro do Interior, Amir Vahidi, afirmou que as equipas de socorro estão a tentar chegar ao local do acidente, sublinhando que condições meteorológicas adversas dificultavam o acesso. É ainda necessário determinar o local exato da queda.

"Podemos demorar a chegar à zona", reconheceu, referindo que esta se situa em princípio na floresta de Dizmar, perto da cidade de Vargazhan.

A televisão do Catar, Al Jazeera, referiu que o helicóptero caiu perto da mina de cobre de Sungun, entre Jolfa e Varzaqan, na província Azerbaijão Leste do Irão, entre 70 a 100 quilómetros de Tabriz, o destino da comitiva.

Disse ainda que o Crescente Vermelho mobilizou 40 equipas para a região, muitas das quais estão na área e procuram agora o aparelho.

"Após o anúncio da queda do helicóptero que transportava o presidente, foram enviadas equipas de salvamento", avançou entretanto o presidente do Crescente Vermelho, Babak Mahmoud, aos meios de comunicação social iranianos, sem adiantar números.

A agência estatal IRNA revelou que "mais de 20 equipas de socorro, completamente equipadas, nomeadamente com drones e cães de salvamento" foram "enviadas ao local". O Iraque, a Turquia e a Rússia ofereceram ajuda para as buscas e socorro, tal como a Arábia Saudita e o Azerbaijão.

O presidente azeri, que esteve com Raisi na manhã de domingo, afirmou em comunicado que o Azerbaijão, "enquanto vizinho, amigo e país irmão, se mantém pronto a oferecer toda a assistência necessária".

Aliev assumiu-se "profundamente perturbado" com a notícia do acidente, ocorrido depois de uma despedida "amigável", e afirmou que os seus pensamentos e orações estão com Raisi e a delegação iraniana.

A União Europeia ativou o sistema de satélites Copernicus, para ajudar as equipas iranianas.
A agência noticiosa semi-oficial Tasnim referiu que pessoas que viajavam com o presidente tinham conseguido efetuar chamadas de emergência.

Amir Vahidi confirmou a realização de contacto via rádio, sem fornecer mais detalhes e sugerindo que as comunicações sofreram um corte. A falta de contacto posterior pode dever-se tanto à destruição do helicóptero como à fraca cobertura de rede na área.

Imagens televisivas que circulam nas redes sociais testemunham o forte nevoeiro e a fraca visibilidade que se verificavam na região na altura.
A televisão estatal difundiu imagens de vários membros do Crescente Vermelho iraniano a caminhar entre um espesso nevoeiro. 

Mostrou ainda fiéis a rezar pelo presidente em várias mesquitas, incluindo na cidade santa de Mashhad, no nordeste do país.
EUA acompanham
Um porta-voz do Departamento de Estado afirmou que os Estados Unidos estão a acompanhar as informações sobre a queda do helicóptero que transportava o presidente iraniano e o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão.

A Casa Branca acrescentou que o presidente Joe Biden foi informado do acidente.

As relações entre o Irão e os Estados Unidos são extremamente tensas desde a ascensão do regime dos aiatolas e agravaram-se depois de 2018, quando a Administração Trump denunciou um acordo nuclear com Teerão subscrito pelo anterior presidente norte-americano, Barack Obama.

Os Estados Unidos são igualmente apoiantes de Israel. particularmente no combate contra os grupos armados e guerrilhas do Hamas, em Gaza, e do Hezbollah, no Líbano, ambas apoiadas por Teerão. No mês passado, as forças norte-americanas na área interferiram diretamente num ataque de drones iranianos lançados contra Israel.

A agência de notícias da Arábia Saudita referiu que o governo do país segue com grande atenção as notícias sobre o acidente e o destino do presidente iraniano. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Arménia expressou a sua "amizade" com o Irão e garantiu orações e apoio às buscas.

Narendra Modi, primeiro ministro da Índia, expressou na rede X a sua solidariedade e preocupação.

Raisi tinha estado no Azerbaijão no início de domingo para inaugurar uma barragem com o homólogo azeri, Ilham Aliyev, naquela que é a terceira barragem construída pelos dois países no rio Aras.

O Irão possui uma variedade de helicópteros no país, mas as sanções internacionais dificultam a obtenção de peças para os mesmos. A sua frota aérea militar também remonta, em grande parte, ao período anterior à Revolução Islâmica de 1979.
Quem é o presidente do Irão
Ebrahim Raisi, de 63 anos, é um homem de linha dura que anteriormente dirigiu o poder judicial do país e é caracterizado como um protegido e possível sucessor do líder supremo do Irão, o aiatola Ali Khamenei.

Raisi venceu as eleições presidenciais iranianas de 2021, sucedendo a Hassan Rohani, um moderado que o tinha vencido em 2017 e que não podia recandidatar-se, após dois mandatos sucessivos. 

Apresentou-se como defensor das classes desfavorecidas e da luta contra a corrupção. A eleição ficou marcada pela ausência de concorrentes de peso e por uma abstenção recorde para uma presidencial.

Raisi é alvo de sanções dos EUA dado o seu envolvimento na execução em massa de milhares de prisioneiros políticos em 1988, no final da guerra Irão-Iraque.

Sob o comando de Raisi, o Irão tem enriquecido urânio a níveis próximos do grau de armamento e dificulta as inspeções internacionais. 

O país forneceu armamento à Rússia na sua guerra contra a Ucrânia e lançou um ataque maciço com drones e mísseis contra Israel no âmbito da investida militar contra os islamitas palestinianos do Hamas na Faixa de Gaza.

O Irão também tem apoiado os rebeldes Huthis do Iémen e o Hezbollah do Líbano.

com Lusa
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