Hollande fala em dia de reflexão para prometer resposta a pirataria

por Carlos Santos Neves - RTP
“É preciso deixar que os inquéritos decorram”, sublinhou o ainda Presidente francês durante uma visita ao Instituto do Mundo Árabe, em Paris Christophe Petit Tesson - EPA

“Nada será deixado sem resposta”. O ainda Presidente francês reagiu assim este sábado, véspera da segunda volta da eleição presidencial, às notícias de uma operação de pirataria informática “em massa e coordenada” contra Emmanuel Macron, adversário de Marine Le Pen. Antes desta tomada de posição de François Hollande, a autoridade eleitoral do país advertira os média contra a republicação de milhares de documentos da campanha do ex-ministro da Economia.

“Sabíamos que haveria riscos durante a campanha presidencial, dado que isto ocorreu noutros locais. Nada será deixado sem resposta”, assegurou François Hollande em declarações à France Presse.A Comissão Nacional de Controlo da Campanha Presidencial esteve reunida na manhã de sábado.

“Se houve efetivamente um determinado número de parasitagens ou captações, haverá procedimentos que vão entrar em vigor”, acrescentou o Presidente cessante, sem avançar com mais detalhes.

Ainda segundo Hollande, que se pronunciava em Paris à margem de uma visita a uma exposição no Instituto do Mundo Árabe, a par do Rei de Marrocos, Mohammed VI, “é preciso deixar que os inquéritos decorram”.

A campanha presidencial do centrista Emmanuel Macron saiu a público na noite de sexta-feira para denunciar o que descreveu como uma “ação de pirataria em massa e coordenada”, depois da difusão, na internet, de dados “internos”.

“Operação de desestabilização” foi a fórmula empregue pela equipa do antigo governante, que se bate este domingo pelo Eliseu com Marine Le Pen, líder da Frente Nacional e rosto da extrema-direita francesa.“Espírito de responsabilidade”

O novo caso a envolver a campanha de Macron esteve este sábado sobre a mesa de uma reunião da Comissão Nacional de Controlo da Campanha Presidencial. O órgão apelou mesmo aos órgãos de comunicação social para que fizessem “prova de espírito de responsabilidade”, abstendo-se de difundir os “conteúdos” em causa. Isto para que não se “altere a sinceridade do escrutínio”.

“A difusão ou a republicação de tais dados, obtidos fraudulentamente, e aos quais puderam, com toda a verosimilhança, ser misturadas falsas informações, é suscetível de receber uma qualificação penal”, sublinhou a autoridade eleitoral.O dispositivo de segurança para a segunda volta da eleição presidencial francesa mobiliza mais de 50 mil operacionais, entre polícias, gendarmes e militares.

Os documentos oficiais terão sido misturados com “falsos documentos, a fim de semear a dúvida e a desinformação”, alegou a equipa de Emmanuel Macron, estabelecendo uma comparação com “o que se viu nos Estados Unidos durante a última campanha presidencial”.

Logo após a fuga, no Twitter, o campo de Le Pen, nomeadamente o seu braço-direito, Florian Philippot, saiu a terreiro para falar de um “naufrágio democrático” e questionar o papel do “jornalismo de investigação” perante o conteúdo dos “#Macronleaks”. 

O WikiLeaks, que publicou na mesma rede social links para os documentos, garante não estar na origem desta operação. Trata-se, segundo o portal fundado por Julian Assange, de “dezenas de milhares de emails, fotografias e anexos de até 24 de abril”.

De recordar que o movimento En Marche, de Macron, havia já sido alvo de tentativas de phishing atribuídas a um grupo russo, de acordo com a empresa japonesa de ciber-segurança Trend Micro.

À luz das derradeiras sondagens, publicadas na sexta-feira, Emmanuel Macron é o candidato melhor posicionado para conquistar a Presidência, reunindo 61,5 a 63 por cento das intenções de voto, contra 37 a 38,5 por cento de Marine Le Pen.

c/ agências internacionais
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