HRW teme "outra Faixa de Gaza" na Cisjordânia devido a restrições de Israel

por Lusa

A organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) defendeu hoje que as novas diretivas israelitas sobre a entrada de estrangeiros na Cisjordânia isolam mais ainda os palestinianos ali residentes e poderão transformar aquele território ocupado "noutra Faixa de Gaza".

Publicados em fevereiro de 2022, os novos procedimentos de entrada na Cisjordânia (excluindo Jerusalém oriental, anexada por Israel) para os estrangeiros que ali queiram residir, trabalhar, fazer voluntariado ou estudar foram veementemente condenados pela União Europeia, os Estados Unidos e diversas organizações de defesa dos direitos humanos.

A data de entrada em vigor das novas normas foi adiada na sequência de contestação na Justiça, e o Cogat, organismo do Ministério da Defesa israelita que supervisiona as atividades civis nos territórios palestinianos, publicou em setembro do ano passado uma versão revista dessas medidas, também ela amplamente criticada.

A nova regulamentação deve agora ser aplicada por um período experimental de dois anos, mas uma grande incerteza ensombra a sua implementação.

"Ao tornar mais difícil para as pessoas passar tempo na Cisjordânia, Israel dá mais um passo para a transformação da Cisjordânia noutra Faixa de Gaza, onde dois milhões de palestinianos vivem praticamente isolados do mundo exterior há mais de 15 anos", sustentou a HRW num comunicado.

"Esta política foi concebida para enfraquecer as relações sociais, culturais e intelectuais que os palestinianos tentaram manter com o mundo exterior" e ameaça "isolar ainda mais os palestinianos, afastando-os dos seus entes queridos e da sociedade civil global", acrescenta a ONG norte-americana de defesa dos direitos humanos.

Israel ocupa a Cisjordânia desde 1967 e impõe um bloqueio à Faixa de Gaza desde que o movimento islâmico Hamas assumiu o controlo daquele território, em 2007.

Entre as medidas mais controversas do novo regulamento para a Cisjordânia estão as que se aplicam aos cidadãos estrangeiros que desejem juntar-se aos seus cônjuges palestinianos.

Israel pode assim rejeitar os pedidos de reunificação familiar deste tipo se eles forem contra "diretivas de natureza política".

As novas restrições impostas aos estrangeiros que querem estudar, ensinar ou fazer voluntariado na Cisjordânia "dão às autoridades militares israelitas um amplo poder discricionário", lamentou a HRW.

Hoje questionado pela agência de notícias francesa AFP, o Cogat não respondeu às questões sobre a aplicação das novas diretivas, nem sobre as críticas da Human Rights Watch.

Cerca de 2,9 milhões de palestinianos residem atualmente na Cisjordânia, onde habitam também 475.000 israelitas, em colonatos judeus -- ilegais, segundo o direito internacional -- espalhados por todo o território.

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