Hungria investe mais de 10 ME em projeto cultural em Bruxelas contra "má reputação"

por Lusa

O governo húngaro investiu mais de 10 milhões de euros num projeto cultural em Bruxelas para contrariar a reputação "predominantemente negativa" que o país tem na União Europeia (UE), uma Casa Húngara que será inaugurada em julho.

A menos de dois meses de a Hungria assumir a presidência rotativa do Conselho da UE, o embaixador húngaro para a Bélgica, Tamás Iván Kovács, explica em entrevista à Lusa que, em 2021 e já a pensar nesta liderança europeia de julho a dezembro de 2024, o Estado húngaro comprou um edifício com "uma história muito importante e muito interessante" em Bruxelas, que chegou a alojar o Ministério das Finanças belga.

"Vivendo na cidade há mais de uma década e meia, é claro que tenho conhecimento que a reputação do meu país, especialmente junto dos principais meios de comunicação social, é predominantemente negativa, especialmente desde 2010", acrescenta o diplomata húngaro, numa alusão ao período de governação do nacionalista-conservador Viktor Órban, no poder há 14 anos.

É este contexto que a Hungria quer contrariar aproveitando a presidência rotativa do Conselho, de acordo com Tamás Iván Kovács,: "Uma vez que é muito difícil transmitir algumas mensagens [...] e porque nos orgulhamos de muitos feitos, quisemos ter uma Casa Húngara num local central que mostrasse o que temos para oferecer [...] à cultura universal europeia".

"E que melhor altura para o fazer do que durante a presidência da UE?", questiona.

O embaixador húngaro indica à Lusa que este edifício, localizado na Rue de La Loi, situado junto à sede de organizações internacionais e de representações diplomáticas, "correspondesse aos dois mundos", juntando "a `bolha` de Bruxelas por causa da UE", mas também a Bélgica, país com o qual "a Hungria goza atualmente de mais de 100 anos de relações diplomáticas".

Entre julho e dezembro deste ano, a Hungria vai assumir a presidência do Conselho da UE com foco no reforço da competitividade, na resposta aos desafios demográficos, no avanço do alargamento da UE aos Balcãs Ocidentais e no desenvolvimento das capacidades de defesa.

Previsto está que, durante este período, a Casa Húngara aloje "alguns dos eventos mais exclusivos e mais interessantes da presidência", sendo por isso inaugurada em julho, adianta Tamás Iván Kovács à Lusa.

Após 20 anos de adesão à União Europeia, a Hungria é hoje dos Estados-membros que mais recebe verbas comunitárias, embora tenha fundos suspensos por violação das regras europeias, e onde metade da população tem imagem positiva do projeto europeu.

De momento, registam-se porém tensões entre Budapeste e Bruxelas pelo bloqueio de verbas europeias para exigir o cumprimento das normas europeias.

A Hungria tem cerca de 21 mil milhões de euros congelados em fundos comunitários (coesão, marítimos e assuntos internos), no âmbito da ativação pela Comissão Europeia, em 2022, do mecanismo de condicionalidade do Estado de Direito, criado para proteger os interesses orçamentais e financeiros da UE.

Bruxelas exige, desta forma, mudanças nas políticas húngaras relacionadas com a independência do sistema judicial e dos media, liberdades académicas, sistema de asilo e direitos dos homossexuais.

Além disso, a Hungria tem, desde 2018, um processo aberto por degradação do Estado de direito causada pelo governo do primeiro-ministro Viktor Orbán.

 

Tópicos
pub