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Idlib. Turquia reage a pressão russa e adverte grupos islamitas

por Graça Andrade Ramos - RTP
A Turquia ordenou o reforço das suas tropas na província síria de Idlib, após confrontos com forças sírias naquela área Reuters

Ancara prometeu esta quinta-feira bombardear os grupos armados islamitas que não respeitem o cessar-fogo oficialmente declarado na província de idlib, no noroeste da Síria. Uma correção do discurso, um dia depois do Presidente turco Recep Tayyip Erdogan ameaçar estender a guerra a toda a Síria.

O aviso assumiu um tom mais abrangente, após um telefonema do CEMFA russo, o general Valery Gerasimov, ao seu homólogo turco, o general Yasar Guler, esta quinta-feira.

"A força será usada em Idlib contra aqueles que não respeitarem o cessar-fogo, incluindo os radicais", declarou horas depois o ministro turco da Defesa, Hulusi Akar, citado pela agência oficial turca, Anadolu. O aviso de Ancara deverá levar os combatentes islamitas a reduzirem as suas atividades nos próximos dias ou semanas, mas a sua prevalência a longo prazo é mais duvidosa.

"Vamos enviar unidades suplementares para restabelecer o cessar-fogo e garantirmos que ele irá perdurar", acrescentou Akar.

Quarta-feira, o Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan prometera atingir o "regime sírio" em toda a parte se as suas tropas fossem de novo atingidas, depois de mais cinco baixas registadas entre as forças turcas estacionadas em Idlib, no início da semana.

Erdogan anunciou ainda a intenção de expulsar as forças sírias de postos de observação até final de fevereiro.

A intervenção russa desta quinta-feira levou à moderação do discurso oficial turco. O sinal, contudo ficou dado.

Ancara está insatisfeita com os resultados do seu acordo com Moscovo, o qual tem permitido o avanço das tropas sírias sobre Idlib, com a colaboração aérea russa.
Moscovo ou Washington
Nas últimas semanas, a intensificação dos bombardeamentos em Idlib levou à fuga das populações e a um azedar de relações entre os dois Governos.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan acusou mesmo os russos de cumplicidade no "massacre" dos civis ao lado das forças do "regime sírio".

Na resposta, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, fez notar que a Turquia não tem feito nada para "neutralizar os terroristas em Idlib", situação que classificou de "inaceitável".

Os Estados Unidos aproveitaram a tensão para reforçar laços ultimamente enfraquecidos com a Turquia, sua parceira na NATO.

O representante especial norte-americano para a Síria, James Jeffrey, reuniu-se quarta-feira com vários responsáveis turcos e demonstrou-lhes todo o apoio.

Washington, escreveu depois Jeffrey na rede Twitter, está "em acordo total com a Turquia", quanto à sua presença na Síria, "para defender os seus interesses vitais face a afluxo de refugiados e para lutar contra o terrorismo"."Compreendemos e apoiamos a preocupações turcas legítimas justificando a presença das forças turcas na Síria e nomeadamente em Idlib", escreveu o norte-americano, enquanto denunciava "o regime do Presidente Assad, autor de crimes de guerra".

Jeffrey sublinhou ainda que o regime sírio e os seus aliados russos e iranianos deveriam compreender que "não poderão reivindicar uma vitória militar" na Síria.

"Quando a Rússia, o Irão e Assad constatarem que não poderão continuar a progredir sem entrar em conflito connosco ou com a Turquia, irão perceber que está na altura de regressar à mesa das negociações em Genebra para resolver este conflito pela via diplomática", escreveu o norte-americano.
Ganhos ou perdas
Ancara é um dos apoios oficiosos dos grupos armados extremistas islâmicos, que lutam desde 2011 contra o Governo sírio de Bashar al-Assad.

A sua estratégia visava em parte o alargamento da influência territorial ao norte da Síria, objetivo de longa data dos Governos turcos, e o controlo das atividades da minoria curda síria, a qual apoia os curdos-turcos que combatem a hegemonia de Ancara.

Ao abrigo do seu recente acordo com Moscovo, alegadamente para pacificar Idlib e suster vagas sucessivas de refugiados sírios, a Turquia conseguiu instalar as suas forças armadas dentro da Síria.

Tal situação só foi possível graças à influência de Moscovo junto do Presidente Bashar al-Assad. A estratégia permitiu por outro lado aos russos obter garantias de controle do apoio turco aos extremistas islâmicos.

Assad terá anuido ao plano por conseguir através dele uma janela de oportunidade para fazer avançar as suas forças sobre Idlib, de forma a readquirir o controlo das principais rotas de abastecimento e sufocar os grupos que persistem na luta armada.

A provar a estratégia dupla de Moscovo, a ofensiva síria dos últimos meses tem-se realizado, como habitualmente, com o apoio da aviação russa.

A 30 de janeiro, a agência síria de notícias SANA, anunciou que as tropas de Damasco haviam entrado em Maarat al-Numan, uma cidade-chave para as forças rebeldes em Iblib. os dias seguintes ficaram assinalados por combates com forças turcas.

Ao fim de nove anos de conflito civil, incluindo uma guerra internacional contra o grupo islamita Estado Islâmico, Damasco, com auxílio de Moscovo e de Teerão, dominou a revolta, maioritariamente sunita, em praticamente todo o país.

Idlib é o último bastião dos revoltosos.
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