Impasse na transição. Membros da Casa Branca passam informações à equipa de Biden

por Joana Raposo Santos - RTP
As comunicações estarão a ajudar a equipa do presidente eleito a compreender melhor os assuntos com os quais terá de lidar após a tomada de posse, a 20 de janeiro. Kevin Lamarque - Reuters

Quase duas semanas depois de Joe Biden ter conseguido a vitória nas eleições norte-americanas, Donald Trump continua sem admitir a derrota e a recusar a transição de poder. Para ultrapassar este impasse, atuais e antigos funcionários da Casa Branca começam agora a tentar chegar à equipa do presidente eleito, transmitindo informações que deveriam estar a ser fornecidas nas tradicionais reuniões de transição, até agora inexistentes.

Um dos atuais membros da Administração Trump revelou à CNN a existência de um contacto informal da sua equipa para com a de Joe Biden. “Nada que nos possa causar problemas. Apenas nos oferecemos para ajudar. Eles sabem qual a nossa intenção e aquilo que podemos e não podemos dizer ou fazer”, adiantou a fonte na quarta-feira.

Segundo este funcionário da atual Administração, esse contacto ainda não resultou em quaisquer conversas substanciais.

Já um ex-membro da equipa de Donald Trump que abandonou há poucos meses a Administração disse à CNN ter enviado um e-mail a alguém que acredita que irá integrar a futura Administração Biden num cargo semelhante ao seu e ofereceu-se para o ajudar.

Outro antigo funcionário do ainda presidente avançou que os contactos estão a ser realizados para cumprir uma obrigação para com o país que está acima de questões partidárias. Segundo a mesma fonte, as conversações não têm sido tão detalhadas quanto as reuniões formais de transição que deveriam estar a ocorrer. As comunicações estarão a ajudar a equipa do presidente eleito a compreender melhor os assuntos com os quais terá de lidar após a tomada de posse, a 20 de janeiro.

Um conselheiro de Joe Biden confirmou à CNN o contacto recebido por parte da atual Administração, mas recusou-se a dar mais pormenores. Outro membro da equipa do democrata afirmou que a ajuda é bem-vinda e que, em vários casos, se trata apenas de um crescimento de relações já existentes em alguns campos.

Apesar disso, a fonte realçou que esta ajuda não é de todo tão robusta quanto seria numa transição de poder tradicional.

“É preciso mais do que antigos funcionários a escolherem dar um passo em frente e a serem prestáveis para assegurar uma transição suave de poder”, considerou Kate Bedingfield, vice-gerente da campanha e conselheira de Joe Biden.

A GSA (Administração de Serviços Gerais dos Estados Unidos) deveria cumprir a lei e verificar os resultados das eleições para que os americanos possam ter uma eficaz e suave transição entre administrações”, defendeu.
Estratégia de Biden contra a Covid-19 suspensa
Com a recusa da Administração de Serviços Gerais dos EUA em reconhecer Joe Biden como presidente e em iniciar uma transição formal, o democrata continua sem poder estabelecer contactos com agências federais e sem ter acesso a verbas para contratar os membros da sua futura Administração.

A demora nesta transição impede também Joe Biden de iniciar os seus prometidos esforços contra a pandemia de Covid-19 e de participar em reuniões com os serviços de inteligência.

A Administração Trump chegou mesmo ao ponto de ordenar ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos - responsável por proteger a saúde dos americanos e fornecer serviços humanos essenciais, estando atualmente focada na luta contra a pandemia de Covid-19 - que não responda a qualquer contacto por parte da equipa de Biden e que alerte o líder desse Departamento caso tal contacto venha a existir.

O secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar, garantiu na quarta-feira que os seus funcionários não irão trabalhar com a equipa de transição de Joe Biden até que a Administração de Serviços Gerais determine que é ele o presidente eleito.

“Já deixámos muito claro que, quando a GSA tomar uma decisão, asseguraremos uma transição e um planeamento profissionais, completos e cooperativos”, declarou o responsável do Governo de Trump. “Nós seguimos as orientações. Estamos prestes a conseguir vacinas e medicamentos para salvarmos vidas. É nisso que estamos agora focados”, acrescentou.
Equipa de Biden contactou ex-membros do Pentágono
Mesmo com a eventual aprovação por parte da Administração de Serviços Gerais, algumas entidades continuarão limitadas a nível daquilo que podem partilhar com a futura Administração Biden.

É o caso do Departamento de Justiça e das agências de inteligência, onde algumas informações só poderão ser transmitidas quando o presidente eleito nomear os membros do seu Governo e as contratações dos mesmos seja autorizada.

Também o Departamento de Defesa se tem abstido de partilhar quaisquer informações com a equipa de Joe Biden. Por essa razão, a equipa do presidente eleito tem contactado com antigos funcionários que trabalharam para o ex-secretário da Defesa, Jim Mattis.

Segundo fontes auscultadas pela CNN, essas conversações têm acontecido para ajudar a equipa de transição a perceber os pormenores do que aconteceu no Departamento ao longo dos últimos quatro anos, na impossibilidade de consultar os atuais funcionários do Pentágono.

O democrata Joe Biden arrecadou a vitória nas eleições presidenciais de 3 de novembro e tomará posse a 20 de janeiro. O agora presidente eleito conseguiu 306 votos eleitorais, contra os 232 alcançados por Donald Trump.
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