Impeachment. Democratas anunciam novas provas contra Donald Trump

por Joana Raposo Santos - RTP
Os democratas pretendem enviar todas as novas provas ao Senado Foto: Michael Reynolds - EPA

A Câmara dos Representantes dos Estados Unidos reuniu novos documentos relacionados com a alegada pressão que Donald Trump terá exercido sobre a Ucrânia para que esta investigasse o rival Joe Biden. Os democratas da Câmara aprovaram entretanto, esta quarta-feira, o envio dos artigos de acusação contra Trump ao Senado, e esperam que as novas provas ajudem a entidade de maioria Republicana a decidir sobre a eventual destituição do Presidente norte-americano.

As novas provas incluem dezenas de páginas com comunicações, incluindo mensagens de texto, cartas e notas, efetuadas entre Rudy Giuliani, advogado de Donald Trump, e o seu associado Lev Parnas, nascido na Ucrânia.

Os contactos entre ambos sugerem que terão agido em nome do Presidente norte-americano para tentar obter informações sobre a família Biden, que Trump queria ver investigada. Para além de manter contactos regulares com Giuliani, Parnas terá também falado frequentemente com funcionários do Governo ucraniano.

Uma nota escrita à mão por Parnas, que no ano passado enfrentou acusações de conspiração, menciona mesmo um eventual pedido ao Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, para que este anunciasse uma investigação sobre “o caso Biden”.

Existe também uma carta de Giuliani para Zelensky na qual o advogado de Trump pede que seja marcada uma reunião entre os dois presidentes. “O Presidente Trump tem conhecimento e consentiu” com este pedido, afirmou o advogado.
Embaixadora na Ucrânia sob vigilância
As provas sugerem ainda que a antiga embaixadora norte-americana na Ucrânia, Marie Yovanovitch, foi colocada sob vigilância e que Parnas discutiu com Giuliani a eventual demissão da mesma.

A embaixadora acabou mesmo por ser demitida, por razões que nunca foram tornadas públicas. Na altura, Marie Yovanovitch disse que a demissão se deveu a “falsas alegações” por parte de pessoas com “motivações questionáveis”.

De acordo com os democratas, Lev Parnas estava a receber atualizações frequentes sobre a localização e registos telefónicos da embaixadora através de um homem chamado Robert F. Hyde, republicano e patrocinador da campanha eleitoral de Donald Trump.

“Ela falou com três pessoas. O telemóvel está desligado. O computador está desligado. Vão informar-me quando ela se deslocar”, lê-se numa das mensagens de texto enviadas por Hyde e agora obtidas pelos democratas.

A razão pela qual Washington demitiu a embaixadora poderá estar relacionada com a possibilidade de esta estar a par do plano para investigar a família Biden. A hipótese parece ter sido confirmada pelo procurador ucraniano Yuriy Lutsenko, que se queixou a Parnas da demora na demissão de Yovanovitch.

“Se não tomarem uma decisão sobre a senhora, estão a colocar em causa todas as minhas alegações. Incluindo sobre B”, escreveu o procurador numa mensagem de WhatsApp a Parnas.

Os democratas pretendem enviar todas as novas provas ao Senado, juntamente com os artigos de acusação contra o Presidente. O julgamento de Trump no Senado deverá começar já na próxima semana e poderá durar até cinco semanas, prevendo-se que o Presidente não seja destituído, tendo em conta a maioria republicana nessa instituição.

O Presidente dos EUA já reagiu à existência de novas provas, considerando-as "mais uma vigarice" dos democratas e defendendo que não deveria caber ao Senado uma nova investigação do caso.


Câmara dos Representantes vai enviar artigos ao Senado

Esta quarta-feira, a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos aprovou o envio dos dois artigos de acusação contra Donald Trump ao Senado, abrindo portas a um novo julgamento que culminará com a decisão de destituir, ou não, o Presidente norte-americano.

Foram 228 os votos a favor e 193 os votos contra o envio ao Senado dos artigos de acusação por abuso de poder e obstrução aos trabalhos do Congresso.

A Câmara dos Representantes aprovou ainda que sete democratas dessa instituição passem a gerir o caso contra Donald Trump.

O julgamento de Trump no Senado deverá começar já na próxima terça-feira e poderá durar até cinco semanas, prevendo-se que o Presidente não seja destituído, tendo em conta a maioria republicana nessa instituição.

Em julho de 2019, Donald Trump realizou uma chamada telefónica com o seu homólogo ucraniano durante a qual lhe pediu que conduzisse uma investigação sobre Joe Biden, principal rival do atual Presidente norte-americano nas eleições deste ano. Pediu ainda que Hunter Biden e a empresa de gás Burisma fossem investigados.

Trump terá feito o pedido por acreditar que a família Biden está envolvida em crimes de corrupção na Ucrânia – onde Hunter Biden trabalhou na Burisma – e na China. O Presidente dos Estados Unidos veio mais tarde, aliás, afirmar que também a China deveria investigar os Biden.

O telefonema veio a público em setembro, quando alguém o denunciou anonimamente. Desde então multiplicaram-se as críticas contra Trump por este ter alegadamente tentado interferir nas eleições presidenciais que se avizinhavam.
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