A Rússia anunciou, esta terça-feira, que irá bloquear o acesso no país a 81 meios de comunicação europeus, incluindo quatro portugueses (RTP, Público, Expresso e Observador). A medida é uma retaliação à decisão da União Europeia de proibir a atividade de quatro meios de comunicação estatais russos em território europeu.
“Estão a ser introduzidas contramedidas de acesso a partir do território russo a recursos de transmissão de meios de comunicação dos países membros da UE”, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros russo em comunicado.
Portugal reagiu na rede X, com uma publicação de Luís Montenegro. O primeiro-ministro afirma que o governo "repudia fortemente" a decisão russa.
A lista publicada esta terça-feira abrange 81 meios de comunicação de 25 países europeus, incluindo quatro portugueses: RTP, Público, Expresso e Observador. Segundo Moscovo, estes órgãos de comunicação “divulgam sistematicamente informações falsas sobre o desenrolar da operação militar especial” na Ucrânia.
Esta medida surge em retaliação contra a decisão da UE de proibir “qualquer atividade de transmissão” de quatro meios de comunicação russos (RIA Novosti, Izvestia, Rossiyskaya Gazeta e Voice of Europe), que entrou esta terça-feira em vigor. A medida foi aprovada pelos 27 Estados-membros em meados de maio, sob o argumento de que estes quatro meios de comunicação russos disseminam propaganda pró-Kremlin. Desde o início da guerra, a UE também proibiu a emissão de canais russos como o Russia Today (RT), acusando Moscovo de usar estes meios de comunicação para "espalhar a sua propaganda e conduzir campanhas de desinformação".
O país mais afetado pelas restrições russas é a França, com nove meios de comunicação bloqueados, incluindo a agência France-Presse (AFP), os jornais Le Monde e Libèration e os canais LCI e CNews. A lista inclui também os meios de comunicação alemães Der Spiegel, os espanhóis El Mundo e El Pais e a televisão italiana RAI.
“O lado russo tem alertado repetidamente e a vários níveis que o assédio politicamente motivado a jornalistas nacionais e as proibições infundadas aos meios de comunicação social russos na UE não passarão despercebidos”, lê-se ainda no comunicado do ministério russo.
“Apesar disso, Bruxelas e as capitais dos países do bloco optaram por seguir o caminho da escalada, forçando Moscovo a tomar contramedidas espelhadas e proporcionais com outra proibição ilegítima”, acrescenta.
“A responsabilidade por tal desenvolvimento de eventos cabe exclusivamente à liderança da União Europeia e aos países desta associação que apoiaram tal decisão”, afirma Moscovo.
O MNE russo esclarece que “se as restrições aos meios de comunicação russos forem levantadas, o lado russo também reconsiderará a sua decisão em relação aos operadores de meios de comunicação mencionados”.
"Retaliação absurda"
A UE considerou que este bloqueio russo a meios de comunicação europeus é uma “retaliação absurda”.
“Os órgãos de propaganda financiados pela Rússia para espalhar a desinformação no âmbito da doutrina militar russa não são semelhantes aos meios de comunicação independentes. As democracias sabem disso”, escreveu Věra Jourová, vice-presidente da Comissão Europeia para os Valores e Transparência, na sua conta da rede social X, acusando o Kremlin de uma “violação contínua da liberdade dos meios de comunicação”.
Continuous violation of #MediaFreedom by the #Kremlin 👇
— Věra Jourová (@VeraJourova) June 25, 2024
It's a non-sense retaliation. No, propaganda outlets funded by 🇷🇺 to spread #disinformation as part of Russia’s military doctrine are not the same as independent media.
Democracies know that. https://t.co/QIcV0EjzvM pic.twitter.com/Q6QqbORr9W
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Itália também já reagiu ao bloqueio russo, afirmando que a decisão “não apaga nem mitiga os efeitos de uma guerra violenta, devastadora e ilegal”.
"Lamentamos a medida injustificada tomada contra estas emissoras e jornais italianos, que sempre forneceram informações objetivas e imparciais sobre o conflito na Ucrânia", declarou o Ministério.