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Inglaterra. Fratura hidráulica afeta áreas ambientalmente protegidas

por Joana Raposo Santos - RTP
Quase metade das licenças de fracking concedidas em Inglaterra estão em Yorkshire. Hannah McKa - Reuters

As licenças para a extração de combustíveis líquidos e gasosos através da fratura hidráulica (técnica conhecida por fracking) estão a afetar algumas das áreas mais ambientalmente protegidas de Inglaterra, incluindo parques nacionais e áreas de "grande beleza natural". A conclusão é de uma investigação do Guardian e chega depois de o Governo britânico ter suspendido a proibição dessa perfuração. Entretanto, a primeira-ministra Liz Truss pode vir a designar os locais de fracking como "projetos de infraestruturas significativas a nível nacional", o que teria consequências para o ambiente e para as comunidades.

Neste momento existem 151 licenças de exploração e desenvolvimento de petróleo concedidas a empresas que poderão, assim, prosseguir com o fracking em locais como Surrey, Sussex, Derbyshire, ou Lancashire.

Segundo o Guardian, que analisou onde a perfuração poderá ocorrer nos próximos meses e anos, as zonas abrangidas por essas licenças são sobrepostas ou adjacentes às principais áreas protegidas de Inglaterra.

Quase metade das licenças concedidas estão em Yorkshire, com algumas delas em partes do parque nacional North York Moors, que no total possui uma área de 1.436 quilómetros quadrados.

Também em Peak District, perto da cidade de Manchester, foram concedidas licenças de exploração adjacentes ao parque nacional.

Outras das licenças sobrepõem-se a algumas das zonas mais ambientalmente protegidas da Europa, anteriormente conhecidas como Natura 2000, que são projetadas para proteger as espécies e habitats ameaçados.

Para além de afetarem parques nacionais, parte destas licenças de exploração atinge áreas consideradas de “grande beleza natural”, incluindo Lincolnshire Wolds e Quantock Hills, onde florestas de carvalhos são também áreas especialmente protegidas.
"Insultuoso" e "cobarde"
Antes da suspensão da fratura hidráulica, introduzida em 2019 depois de algumas investigações levantarem preocupações com possíveis terramotos, as proteções contra a perfuração em áreas ambientalmente protegidas eram escassas.

Nunca chegou a existir uma proibição total de perfuração em áreas protegidas, como parques nacionais ou locais de especial interesse científico. As regras permitiam o fracking a 1.200 metros de distância de parques nacionais, mesmo depois de uma promessa anterior do Governo britânico sobre a proibição total desta técnica de extração de de combustíveis líquidos e gasosos nessas áreas.

“Colocar as joias da coroa da paisagem inglesa em risco de danos colaterais do fracking é insultuoso. E é particularmente cobarde à luz do compromisso anterior do Governo de melhorar o nosso ambiente natural e incentivar mais pessoas a visitar o campo”, considerou ao Guardian o diretor de campanhas e políticas da instituição de caridade rural CPRE, Tom Fyans.

As preocupações ambientais sobre o fracking incluem o risco de terramoto, o aumento da poluição do ar e a potencial contaminação das águas subterrâneas. A rede de organizações ambientais Amigos da Terra alerta também para a libertação de dióxido de carbono quando o gás de xisto é queimado, assim como para a libertação de metano, um gás 25 vezes mais potente que o CO2 na retenção de calor na atmosfera.

Em janeiro de 2019, investigadores da Universidade de Manchester descobriram que foram libertadas 4,2 toneladas de metano ao longo de seis dias no local de fracking de Preston New Road, o equivalente a 142 voos transatlânticos.
Liz Truss pode quebrar promessa eleitoral
Ao mesmo tempo que a investigação do Guardian foi divulgada, o diário britânico avançou que a primeira-ministra Liz Truss está a considerar designar locais de fracking como infraestruturas importantes a nível nacional.

Se a intenção se confirmar, há o risco de deslocação de comunidades locais e é quebrada uma das promessas eleitorais de Truss.

Durante a sua campanha para a liderança do Partido Conservador, a agora primeira-ministra afirmou que só seriam implementados novos locais de extração com o consentimento local. No entanto, fontes do Governo britânico dizem ter havido discussões sobre avançar com locais de fracking mesmo sem aprovação local, designando-os como “projetos de infraestruturas significativas a nível nacional”.

Geralmente, esta designação é utilizada para infraestruturas como estradas, aeroportos e locais de energia.
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