Injeção revolucionária abre caminho ao fim da epidemia de SIDA

por RTP
Cabotegravir, um novo medicamento injetável, contra a infeção por HIV, promete ajudar sobretudo as mulheres e abre caminho ao fim da epidemia Reuters

Testes recentes a um novo medicamento que evita a infeção pelo HIV, chamado Cabotegravir, tiveram tal sucesso que ele está ser encarado como "decisivo", sobretudo para as mulheres. "Para aqueles que, como nós, labutam contra o SIDA em África, este é um sonho tornado realidade. O fim da epidemia está mais perto!" reagiu a epidemiologista Kate Grabowski.

Mulheres e raparigas representaram em 2019 cerca de metade de novos casos de infeção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana [HIV na sigla em inglês], de acordo com dados a UNaids, a organização das Nações Unidas que lidera a luta mundial contra o vírus e a doença que este provoca, a SIDA [Síndrome da Imuno Deficiência Adquirida].

Na África subsahariana, cinco em cada seis novos contágios entre adolescentes dos 15 aos 19 anos, são raparigas. Foi aqui que se realizaram os mais recentes testes clínicos do Cabotegravir, cujos resultados foram anunciados esta segunda-feira e cujo sucesso levou os investigadores a considerarem o novo medicamento revolucionário.

Fabricado pela ViiV Healthcare, o Cabotegravir é injetável e necessita de apenas uma toma a cada dois meses, ao contrário da profilaxia pré-exposição, ou PrEP, mais utilizada atualmente, uma pílula da Gilead, designada Truvada, que deve ser tomada todos os dias.

A conclusão de que um medicamento de média a longa duração poderá prevenir o contágio pelo HIV, em apenas seis doses, em vez das 365 requeridas pelo comprimido diário, foi de tal modo convincente que os testes clínicos ao Cabotegravir terminaram mais cedo do que o previsto.Em dois grupos de mulheres testadas a cada um dos medicamentos, apenas quatro mulheres ficaram infetadas com o HIV ao tomar o Cabotegravir, comparativamente a 34 entre as que tomaram Truvada.

"Se vamos pôr um fim a esta epidemia, temos de fazer alguma coisa para conter esta onda de infeções entre estas mulheres", justificou Kimberley Smith, que lidera a pesquisa e desenvolvimento na ViiV Healthcare. "É por isso que este estudo é tão importante. Dá uma nova e incrivelmente eficaz opção às mulheres".

Testes semelhantes realizados em maio passado, com homens e pessoas transgénero, obtiveram os mesmos resultados e foram igualmente suspensos e pela mesma razão, mas o entusiasmo com o Cabotegravir está mais reservado para as mulheres. Estas enfrentam muitas vezes dificuldades em tomar diariamente a pilula Truvada, o que diminui a sua eficácia. Livra-las desta obrigação poderá também evitar que tenham de esconder ou de negociar com os seus parceiros sexuais a toma da medicação.

"Para as mulheres, é um fator que muda tudo" reagiu o Dr Sigal Yawetz, especialista em infeções com o HIV em mulheres no Hospital Brigham, em Boston, que não participou nos testes. "Estávamos à espera de uma estratégia PrEP que servisse às mulheres e penso que agora temos uma. É muito entusiasmante", reagiu.

"Gostaria que as mulheres tivessem o máximo de opções possíveis, acessíveis e seguras, dependendo das suas necessidades", acrescentou.

Para já, serão necessários mais esforços para tornar o Cabotegravir uma alternativa económica para os países mais pobres.

Até nos Estados Unidos e durante muitos meses, o preço da Truvada tornava-a incomportável a muitos que poderiam ter beneficiado dela. Atualmente já existente uma versão genérica da pilula.
pub