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Guerra no Médio Oriente. A escalada do conflito ao minuto

Investigador vê ataques em Moçambique como prova de vida do jihadismo

por RTP
Grant Neuenburg, Reuters

O especialista em estudos africanos do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL Fernando Jorge Cardoso acredita que os ataques que têm atingido a população civil no Norte de Moçambique são financiados pelos “radicais islâmicos” instalados no Médio Oriente que num mesmo passo fazem prova de vida e procuram desestabilizar uma zona fortemente económica da costa do país. O investigador afasta contudo a possibilidade de germinar “um movimento endógeno de longo prazo”.

Fernando Jorge Cardoso falava na tarde desta quarta-feira aos jornalistas, à margem da cerimónia de inauguração em Lisboa da sede do G7+, organização de países que saíram de ou vivem conflitos e conta com 20 membros da Ásia, Pacífico, África e Caribe, abrangendo uma população total de 1,5 mil milhões de pessoas.Fernando Jorge Cardoso é especialista em estudos africanos do ISCTE-IUL, coordenador de estudos estratégicos da ONG Instituto Marquês de Valle Flôr e diretor-executivo do Clube de Lisboa.


“Não tenho a mínima dúvida que neste momento há financiamento de radicais islâmicos, através do Médio Oriente, interessados na instabilidade no leste africano e que cada vez têm mais ligação ao longo do litoral leste de África”, afirmou o investigador do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL.

Para Fernando Jorge Cardoso, reproduz-se em Moçambique o modus operandi da recrutmento dos movimentos radicais islâmicos, em que é aproveitada a falta de esperança de uma franja jovem da população, sem perspectivas de vida, com um acentuado desenquadramento social, económico e profissional.

O académico refere essa “insatisfação, particularmente de parte da população jovem na zona litoral, que vê a perspetiva de grandes investimentos a serem realizados, mas que não viu até agora nenhuma possibilidade de melhoria do nível de vida”.Os ataques são preocupantes por atingirem civis e “desestabilizarem toda uma área, particularmente na zona norte litoral, perto das grandes jazidas de gás”.

“Há claramente um movimento de desestabilização que encaixa nessa insatisfação e que é financiado do exterior”.

O especialista em assuntos africanos deixa, contudo, uma ressalva, sublinhando que, em relação aos ataques dos últimos meses na região de Cabo Delgado, norte do país, essa insatisfação, “por si só, não leva à morte de pessoas e ao vandalismo sobre civis”.

E não acredita, da mesma forma, que haja “condições no interior de Moçambique para a criação de um movimento endógeno de longo prazo”.
Num contexto de revezes no Médio Oriente
As razões dos ataques foi outro dos temas abordados por Fernando Jorge Cardoso, que aponta duas motivações da liderança destes grupos terroristas: a desestabilização da zona e a necessidade de fazer prova de vida numa altura em que o radicalismo islâmico sofreu fortes reveses no Médio Oriente, na Síria e Iraque.

“[O objetivo é] desestabilizar, chamar a atenção e criar uma visibilidade maior e dar a aparência de que este movimento jihadista não foi aniquilado, apesar de tudo o que está a acontecer ao designado Estado Islâmico e à Al Qaeda”.

O investigador não menospreza a importância dos ataques, mas sempre foi explicando que a violência por parte dos radicais contra a população civil se circunscreve a uma faixa de 100 quilómetros da costa leste, quando Moçambique tem 2.750 km de linha litoral.Desde 27 de maio, morreram pelo menos 29 habitantes, 11 jihadistas e dois elementos das forças de segurança.

“Não deixa de ser grave e preocupante e afeta sem dúvida a exploração de gás, mas as grandes companhias que lá operam estão habituadas a este tipo de movimentação. Não acredito que este tipo de movimentos seja capaz de parar o desenvolvimento da exploração de gás”, acrescentou.

Fernando Jorge Cardoso fez ainda questão de sublinhar que estes ataques “nada têm a ver com os conflitos anteriores entre a Frelimo (no poder) e a Renamo (principal partido da oposição)”. Pelo contrário, Frelimo e Renamo “não veem com bons olhos, de forma alguma, para o que se está a passar”.


c/ Lusa
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