Irão considera sanções unilaterais dos EUA e aliados "crimes contra a humanidade"

O Irão declarou hoje que as sanções unilaterais dos Estados Unidos e aliados devem ser reconhecidas como "crimes contra a humanidade" e apelou aos esforços conjuntos dos países sancionados para forjar "uma resposta unificada".

Lusa /
Seyed Abbas Araqchi, Ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano José Sena Goulão - Lusa

"É tempo de as sanções desumanas impostas pelos Estados Unidos e pelos seus cúmplices serem reconhecidas como crimes contra a humanidade", escreveu na rede social X o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Abbas Araqchi, citando um novo estudo publicado na revista médica britânica The Lancet, que, segundo o responsável, demonstra a letalidade das medidas coercivas.

Araqchid instou os países sujeitos a sanções a coordenarem esforços para elaborarem "uma resposta unificada e coletiva" a que chamou de "mecanismo de pressão política que mina os direitos humanos".

O chefe da diplomacia iraniana afirmou que, desde a década de 1970, cerca de 500 mil pessoas, na maioria crianças e idosos, perderam a vida anualmente devido às sanções.

A The Lancet chama a atenção no seu editorial de agosto para uma investigação segundo a qual o efeito letal das sanções impostas pelos Estados Unidos e pela União Europeia, sustentando que estão associadas a 564.258 mortes anualmente entre 1971 e 2021, um número superior ao número anual de vítimas relacionadas com combates (106.000 mortes).

A conclusão, chama ainda a atenção a prestigiada publicação médica britânica, está em consonância com um artigo anterior publicado na The Lancet Global Health, que mostra os efeitos letais das sanções à ajuda - ou seja, sanções económicas que visam especificamente a ajuda ao desenvolvimento em países de rendimento baixo ou médio -, que resultaram num aumento de 3,1% na mortalidade infantil e de 6,4% na mortalidade materna anualmente entre 1990 e 2019.

"Os regimes ocidentais há muito que afirmam que as sanções são uma alternativa sem sangue à guerra. A realidade é que podem ser tão letais como a guerra", denunciou.

O Irão está sujeito a sanções norte-americanas desde a tomada da embaixada dos EUA na sequência da Revolução Islâmica de 1979. Em resposta, Washington congelou os ativos iranianos e proibiu o comércio bilateral.

As restrições agravaram-se ao longo das décadas, especialmente em relação ao programa nuclear iraniano, com embargos ao petróleo e ao setor financeiro do Irão, não só por parte dos EUA, mas também com sanções aprovadas pela ONU.

Em 2015, a assinatura do acordo nuclear entre o Irão e as potências mundiais levou ao levantamento parcial das sanções.

No entanto, em 2018, os Estados Unidos retiraram-se do acordo nuclear e voltaram a impor severas sanções económicas ao abrigo da estratégia de "pressão máxima", afetando gravemente a economia iraniana e o acesso a bens essenciais.

Entretanto, os países europeus fizeram um ultimato para ativar o mecanismo que restabelece automaticamente as sanções internacionais contra Teerão até ao final de agosto, caso o país persa não chegue a um acordo com o Ocidente sobre programa atómico.

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