Mundo
Guerra no Médio Oriente
Israel invoca "direito histórico" para avançar com mais 22 colonatos na Cisjordânia
Israel anunciou esta quinta-feira a criação de 22 novos colonatos judaicos na Cisjordânia ocupada, correndo o risco de deteriorar ainda mais as relações com grande parte da comunidade internacional, crescentemente prejudicadas pela guerra na Faixa de Gaza.
“Sob a direção do ministro da Defesa, Israel Katz, e do ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, o gabinete político-segurança aprovou uma decisão histórica (...) de criar 22 novos colonatos em toda a Judeia-Samaria”, anunciaram Israel Katz e Bezalel Smotrich numa declaração conjunta.Smotrich, um colono de extrema-direita, é ministro
das Finanças e também responsável pela gestão civil da Cisjordânia, ou
seja, pela gestão dos colonatos.
O ministro israelita da Defesa, Israel Katz, afirmou que a decisão sobre os colonatos “reforça o domínio sobre a Judeia e Samaria”, utilizando o termo bíblico para designar a Cisjordânia, “consolida o direito histórico à Terra de Israel e constitui uma resposta esmagadora ao terrorismo palestiniano”.
Trata-se também de “uma medida estratégica que impede a criação de um Estado palestiniano que colocaria Israel em perigo”.
A ONG israelita anti colonização Peace Now condenou a decisão, afirmando que o Governo israelita já não esconde os seus objetivos de anexação.
“O Governo israelita já não finge o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos colonatos são o seu principal objetivo”, declarou a organização em comunicado.Segundo a Peace Now, “em julho de 2024, Israel aprovou a maior apropriação de terras na Cisjordânia ocupada em mais de três décadas”, Na altura, o governo israelita aprovou a apropriação de 12,7 km2 de terra no vale do Jordão.
“A decisão do Conselho de Ministros de criar 22 novos colonatos - a maior iniciativa do género desde os Acordos de Oslo, nos termos dos quais Israel se comprometeu a não criar novos colonatos - irá remodelar dramaticamente a Cisjordânia e reforçar ainda mais a ocupação”, acrescenta o texto.
A colonização israelita é regularmente denunciada pela ONU como ilegal ao abrigo do direito internacional e como um dos principais obstáculos a uma solução de paz duradoura entre israelitas e palestinianos, na medida em que impede a criação de um Estado palestiniano viável.
A França, juntamente com a Arábia Saudita, deverá presidir, em junho, a uma conferência da ONU destinada a promover uma solução de paz com “dois Estados”: Israel e uma Palestina independente e plenamente soberana, vivendo lado a lado e em harmonia.
“Legado dos nossos antepassados”
De acordo com um mapa publicado pelo Likud, o partido de direita do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, os 22 colonatos planeados estão espalhados por toda a Cisjordânia, de norte a sul, passando pelo centro, fragmentando ainda mais um território dividido por colonatos judeus.
Em maio de 2023, Smotrich, tinha afirmado que a sua “missão de vida é impedir a criação de um Estado palestiniano”, e deu instruções aos ministérios do governo israelita para se prepararem para a instalação de mais 500 mil colonos israelitas na Cisjordânia ocupada.Cerca de 500 mil israelitas vivem em colonatos na Cisjordânia, entre três milhões de palestinianos. Os colonos têm cidadania israelita.
Os colonatos variam de pequenos postos no topo de colinas a comunidades totalmente desenvolvidas com blocos de apartamentos, centros comerciais, fábricas e parques públicos.
O Governo tenciona utilizar os 22 colonatos para reforçar a presença israelita em torno da estrada 443, que liga Jerusalém a Telavive via Modiin, e que foi descrita por Israel Ganz, presidente do conselho de Yesha, que agrupa os municípios judeus da Cisjordânia, como “a decisão mais importante desde 1967”.
Formado em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, o Governo de Netanyahu é um dos mais à direita da história de Israel.
De acordo com as ONG de defesa dos Direitos Humanos e anticolonização, na vigência deste Governo foram feitos mais progressos no terreno no sentido da anexação, pelo menos de facto, da Cisjordânia do que nunca, em especial desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes a Israel a partir da Faixa de Gaza pelo movimento islamista palestiniano Hamas.
Armazém do Programa Alimentar saqueado em Gaza
Milhares de palestinianos saquearam um armazém do Programa Alimentar Mundial (PAM) em Gaza, na quarta-feira à noite, um dia depois de uma distribuição caótica de ajuda no enclave devastado pela guerra entre Israel e o Hamas. A multidão não deixou nada para trás, levando sacos de comida, paletes de madeira e tábuas, enquanto se ouviam tiros.
“Uma multidão de pessoas famintas irrompeu no armazém (...) em busca de alimentos que tinham sido pre-posicionados para distribuição”, lamentou o PAM num comunicado que apela a um “acesso humanitário seguro e sem entraves”.Duas pessoas foram mortalmente esmagadas e outras duas morreram de ferimentos de bala depois de a multidão ter forçado a entrada no armazém do Programa Alimentar Mundial em Deir al-Balah, na tarde de quarta-feira, segundo as autoridades sanitárias.
“O PAM tem alertado repetidamente para a deterioração da situação (...) e para os riscos de limitar a ajuda humanitária às pessoas famintas que necessitam desesperadamente de assistência”, acrescenta o comunicado.
Na semana passada, Israel levantou parcialmente o bloqueio total da ajuda a Gaza, imposto desde 2 de março, oficialmente para forçar o Hamas a libertar os seus últimos reféns. Desde então, o país afirma ter autorizado a passagem de várias centenas de camiões humanitários.
Na véspera, uma operação de distribuição caótica deixou 47 feridos num centro da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) - uma nova organização criada com o apoio de Israel e dos Estados Unidos, que instaurou um sistema que a ONU considera contrário aos princípios humanitários.
O embaixador israelita na ONU, Danny Danon, disse no Conselho de Segurança que o Hamas era responsável pelo caos, acusando-o de tentar “bloquear” o acesso ao centro de distribuição com barreiras nas estradas.
E “a ONU juntou-se agora ativamente ao Hamas na tentativa de bloquear esta ajuda”, afirmou. “A ONU está a utilizar ameaças, intimidações e represálias contra as ONG que decidiram participar no novo mecanismo humanitário”, acrescentou.
Já Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, reiterou na quarta-feira a recusa da ONU em trabalhar com a nova fundação, cujas operações, frisou, “não respeitam os nossos princípios humanitários”.O porta-voz garantiu ainda que a ONU está a fazer todos os possíveis para recuperar a ajuda que chegou através da passagem de Kerem Shalom.
“Desde a semana passada, cerca de 900 camiões foram submetidos a Israel para aprovação, 800 foram aprovados, mas apenas 500 puderam ser descarregados no lado israelita de Kerem Shalom e ainda menos puderam atravessar para o lado palestiniano, onde nós e os nossos parceiros pudemos recolher pouco mais de 200 deles, dificultados pela insegurança e pelo acesso restrito”, sublinhou Dujarric.
Stéphane Dujarric insistiu que “se não conseguimos recolher estas mercadorias, posso dizer-vos uma coisa, não é porque não estejamos a tentar”.
O ministro israelita da Defesa, Israel Katz, afirmou que a decisão sobre os colonatos “reforça o domínio sobre a Judeia e Samaria”, utilizando o termo bíblico para designar a Cisjordânia, “consolida o direito histórico à Terra de Israel e constitui uma resposta esmagadora ao terrorismo palestiniano”.
Trata-se também de “uma medida estratégica que impede a criação de um Estado palestiniano que colocaria Israel em perigo”.
A ONG israelita anti colonização Peace Now condenou a decisão, afirmando que o Governo israelita já não esconde os seus objetivos de anexação.
“O Governo israelita já não finge o contrário: a anexação dos territórios ocupados e a expansão dos colonatos são o seu principal objetivo”, declarou a organização em comunicado.Segundo a Peace Now, “em julho de 2024, Israel aprovou a maior apropriação de terras na Cisjordânia ocupada em mais de três décadas”, Na altura, o governo israelita aprovou a apropriação de 12,7 km2 de terra no vale do Jordão.
“A decisão do Conselho de Ministros de criar 22 novos colonatos - a maior iniciativa do género desde os Acordos de Oslo, nos termos dos quais Israel se comprometeu a não criar novos colonatos - irá remodelar dramaticamente a Cisjordânia e reforçar ainda mais a ocupação”, acrescenta o texto.
A colonização israelita é regularmente denunciada pela ONU como ilegal ao abrigo do direito internacional e como um dos principais obstáculos a uma solução de paz duradoura entre israelitas e palestinianos, na medida em que impede a criação de um Estado palestiniano viável.
O anúncio do Executivo israelita surge depois de o enviado especial do presidente dos EUA, Donald Trump, para o Médio Oriente, Steve Witkoff, ter dito na quarta-feira que tinha um “muito bom pressentimento” sobre a possibilidade de concluir uma trégua em Gaza, após 600 dias de guerra entre Israel e o Hamas, e enquanto a escalada militar de Israel em Gaza atrai cada vez mais críticas no estrangeiro, incluindo dos aliados mais próximos do Estado hebraico.Israel ocupou a Cisjordânia, capturando-a à
Jordânia, na guerra dos seis dias de 1967. Desde então, sucessivos
governos têm tentado cimentar o controlo sobre
o território, declarando partes deste como “terras do
Estado”, o que impede a propriedade palestiniana.
“Legado dos nossos antepassados”
De acordo com um mapa publicado pelo Likud, o partido de direita do primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, os 22 colonatos planeados estão espalhados por toda a Cisjordânia, de norte a sul, passando pelo centro, fragmentando ainda mais um território dividido por colonatos judeus.
Dois dos 22 colonatos anunciados, Homesh e Sa-Nur, são particularmente simbólicos: situados no norte da Cisjordânia, são de facto reinstalações, tendo sido evacuados em 2005 no âmbito do plano israelita de retirada da Faixa de Gaza promovido na altura pelo primeiro-ministro Ariel Sharon.
O colono Bezalel Smotrich não esconde esse facto. “Não tomámos terras estrangeiras, mas a herança dos nossos antepassados”, declarou na rede social X, “o passo seguinte é a soberania”.
Em maio de 2023, Smotrich, tinha afirmado que a sua “missão de vida é impedir a criação de um Estado palestiniano”, e deu instruções aos ministérios do governo israelita para se prepararem para a instalação de mais 500 mil colonos israelitas na Cisjordânia ocupada.Cerca de 500 mil israelitas vivem em colonatos na Cisjordânia, entre três milhões de palestinianos. Os colonos têm cidadania israelita.
Os colonatos variam de pequenos postos no topo de colinas a comunidades totalmente desenvolvidas com blocos de apartamentos, centros comerciais, fábricas e parques públicos.
O Governo tenciona utilizar os 22 colonatos para reforçar a presença israelita em torno da estrada 443, que liga Jerusalém a Telavive via Modiin, e que foi descrita por Israel Ganz, presidente do conselho de Yesha, que agrupa os municípios judeus da Cisjordânia, como “a decisão mais importante desde 1967”.
Formado em dezembro de 2022 com o apoio de partidos ultraortodoxos e de extrema-direita, o Governo de Netanyahu é um dos mais à direita da história de Israel.
De acordo com as ONG de defesa dos Direitos Humanos e anticolonização, na vigência deste Governo foram feitos mais progressos no terreno no sentido da anexação, pelo menos de facto, da Cisjordânia do que nunca, em especial desde o início da guerra desencadeada em 7 de outubro de 2023 pelo ataque sem precedentes a Israel a partir da Faixa de Gaza pelo movimento islamista palestiniano Hamas.
Armazém do Programa Alimentar saqueado em Gaza
Milhares de palestinianos saquearam um armazém do Programa Alimentar Mundial (PAM) em Gaza, na quarta-feira à noite, um dia depois de uma distribuição caótica de ajuda no enclave devastado pela guerra entre Israel e o Hamas. A multidão não deixou nada para trás, levando sacos de comida, paletes de madeira e tábuas, enquanto se ouviam tiros.
“Uma multidão de pessoas famintas irrompeu no armazém (...) em busca de alimentos que tinham sido pre-posicionados para distribuição”, lamentou o PAM num comunicado que apela a um “acesso humanitário seguro e sem entraves”.Duas pessoas foram mortalmente esmagadas e outras duas morreram de ferimentos de bala depois de a multidão ter forçado a entrada no armazém do Programa Alimentar Mundial em Deir al-Balah, na tarde de quarta-feira, segundo as autoridades sanitárias.
“O PAM tem alertado repetidamente para a deterioração da situação (...) e para os riscos de limitar a ajuda humanitária às pessoas famintas que necessitam desesperadamente de assistência”, acrescenta o comunicado.
Na semana passada, Israel levantou parcialmente o bloqueio total da ajuda a Gaza, imposto desde 2 de março, oficialmente para forçar o Hamas a libertar os seus últimos reféns. Desde então, o país afirma ter autorizado a passagem de várias centenas de camiões humanitários.
Na véspera, uma operação de distribuição caótica deixou 47 feridos num centro da Fundação Humanitária de Gaza (GHF) - uma nova organização criada com o apoio de Israel e dos Estados Unidos, que instaurou um sistema que a ONU considera contrário aos princípios humanitários.
O embaixador israelita na ONU, Danny Danon, disse no Conselho de Segurança que o Hamas era responsável pelo caos, acusando-o de tentar “bloquear” o acesso ao centro de distribuição com barreiras nas estradas.
E “a ONU juntou-se agora ativamente ao Hamas na tentativa de bloquear esta ajuda”, afirmou. “A ONU está a utilizar ameaças, intimidações e represálias contra as ONG que decidiram participar no novo mecanismo humanitário”, acrescentou.
Já Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, reiterou na quarta-feira a recusa da ONU em trabalhar com a nova fundação, cujas operações, frisou, “não respeitam os nossos princípios humanitários”.O porta-voz garantiu ainda que a ONU está a fazer todos os possíveis para recuperar a ajuda que chegou através da passagem de Kerem Shalom.
“Desde a semana passada, cerca de 900 camiões foram submetidos a Israel para aprovação, 800 foram aprovados, mas apenas 500 puderam ser descarregados no lado israelita de Kerem Shalom e ainda menos puderam atravessar para o lado palestiniano, onde nós e os nossos parceiros pudemos recolher pouco mais de 200 deles, dificultados pela insegurança e pelo acesso restrito”, sublinhou Dujarric.
Stéphane Dujarric insistiu que “se não conseguimos recolher estas mercadorias, posso dizer-vos uma coisa, não é porque não estejamos a tentar”.