Um alto responsável saudita ameaçou a relatora especial das Nações Unidas para execuções extrajudiciais, Agnès Callamard, responsável pela investigação ao assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Em reunião com colegas da ONU em Genebra, em janeiro de 2020, o funcionário saudita disse ter recebido telefonemas de pessoas que estavam "preparadas para tratar" da investigadora.
Neste encontro de alto nível participaram autoridades das Nações Unidas, diplomatas sauditas e responsáveis sauditas visitantes. Foi nessa ocasião que um alto funcionário saudita disse ter recebido telefonemas de indivíduos que estavam preparados para “tratar ” de Agnès Callamard.
Na entrevista ao jornal The Guardian, Callamard conta que os comentários foram interpretados pelos funcionários da ONU como “uma ameaça de morte”. Ainda durante a reunião, estes responsáveis das Nações Unidas manifestaram preocupação e alarme com as declarações, ao que alguns diplomatas sauditas procuraram desvalorizar o comentário e mostrar que este não devia ser levado a sério.
No entanto, o alto funcionário saudita repetiu a ameaça perante os funcionários das Nações Unidas, revela o Guardian. O responsável voltou a assinalar que conhecia pessoas que estariam dispostas a “tratar do assunto caso vocês não o façam”.
Enquanto relatora da ONU, Callamard foi a primeira autoridade a investigar e a publicar um relatório detalhado sobre o assassinato do jornalista saudita, Jamal Khashoggi, em 2018.
Publicado em julho de 2019, o relatório da especialista em Direitos Humanos concluía que havia “provas credíveis” para concluir que altos responsáveis sauditas, incluindo o príncipe saudita Mohammed bin Salman, eram os responsáveis pela morte de Khashoggi. O jornalista crítico da Casa de Saud foi assassinado no consulado saudita em Istambul em outubro de 2018.
A entrevista surge numa altura em que Agnès Callamard se prepara para sair da ONU e assumir o cargo de secretária-geral da Amnistia Internacional, a partir de 29 de março. Nos últimos anos, a responsável foi também alvo de ameaças por parte do presidente filipino, Rodrigo Duterte.
“Estas ameaças não funcionam comigo. Bom, eu não quero receber mais ameaças. Mas faço o que tenho de fazer. As ameaças não me impedem de agir da forma que considero ser correta”, afirmou nas declarações ao jornal britânico.