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Kim Sawyer. "As mulheres dos mercados também são empreendedoras"

por Catarina Marques Rodrigues - RTP
Mercado municipal da cidade da Praia, ilha de Santiago Cabo Verde DR

Depois de Lisboa, Porto e Açores, é a vez de Cabo Verde. Kim Sawyer leva o Connect to Sucess para o arquipélago graças ao "sucesso" que o programa de empreendedorismo para mulheres teve em Portugal.

"Empreendedorismo" é uma palavra altamente propagada em conferências sobre novos talentos, em vídeos publicitários sobre a renovada Lisboa e em artigos sobre projetos recém-nascidos. O dicionário Priberam diz-nos que empreendedorismo é a "atitude de quem realiza ações com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços".

Se assim for, neste conceito cabem mais do que start-ups fulgurantes e famosos eventos de tecnologia. Cabem também as mulheres do mercado municipal e do mercado de Sucupira da Praia, Cabo Verde, que todos os dias labutam por vender os seus doces, legumes, especiarias e variedades de peixe. Mas estas mulheres têm dificuldade em qualificar de "empreendedorismo" a luta diária pelo sustento. "Elas não se veem como empreendedoras. Elas sabem que têm uma família para alimentar e, portanto, a a resiliência, a determinação e a força para elas são normais. Não há outra hipótese", constata Kim Sawyer. 

A antiga embaixatriz dos EUA em Portugal esteve em Cabo Verde a convite do Governo do país para começar a implementar o Connect to Success, o programa de empreendedorismo para mulheres que apoiou 1100 mulheres em Portugal (mais de 50 delas nos Açores) nos três anos em que Robert Sherman foi embaixador. Os números obtidos em Portugal despertaram o interesse do primeiro-ministro Ulisses Correia e Silva e do secretário de Estado para a Inovação e Formação Profissional, Pedro Lopes. 

Mercado municipal da Praia, Santiago, Cabo Verde

O programa tem três componentes: o Corporate Mentoring, em que os profissionais de uma empresa são mentores de uma mulher no seu negócio, os Workshops, que dão competências de finanças, construção de plano de negócios, liderança e autoconfiança e o Masters Consulting Program, em que estudantes de mestrado nas áreas de Gestão, Negócios, Economia ou Empreendedorismo ajudam uma mulher durante um semestre a desenvolver o seu negócio. Kim Sawyer defende que, neste ultimo componente, as mulheres ganham consultoria de forma gratuita e os alunos treinam competências que usarão depois no mercado de trabalho.

"Vários estudantes portugueses contaram-nos que se destacaram face a outros estudantes no processo de seleção para um emprego por terem tido a experiência de ajudarem a gerir os negócios destas mulheres. Esta experiência prática foi valorizada pelo empregador", sublinha a empresária. 

E, afinal, o que une as empreendedoras portuguesas às empreendedoras cabo-verdianas? "São resilientes e vão à luta. Mas as empreendedoras cabo-verdianas, tal como as portuguesas, precisam de mais auto-confiança", analisa Kim Sawyer.

O ecossistema é diferente nos dois países. Em Cabo Verde parecem existir dois mundos sem um meio-termo: "Na ilha de Santiago conheci mulheres muito bem sucedidas na área da tecnologia, da restauração e hotelaria. Mas a maioria das mulheres responsáveis por negócios são as mulheres que todos os dias vendem nos mercados e nos espaços de comércio na cidade", remata. 

Como advogada e empresária que recentemente vendeu The Locator Services Group (TLSG), empresa de serviços financeiros da qual foi fundadora e presidente, considera que as grandes falhas no sucesso do negócio continuam a estar na falta de networking, de partilha entre empreendedores e de utilização inteligente de ferramentas como as redes sociais e a tecnologia.

"Mais: as mulheres nunca vão atingir totalmente o seu potencial sem uma mudança cultural de pensamento, que as liberte da responsabilidade familiar que elas carregam todos os dias", defende a responsável.

No próximo ano o programa que nasceu em Portugal deverá arrancar na cidade da Praia, em Santiago, unindo as empresárias e empreendedoras às empresas e universidades cabo-verdianas. 
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