Lei de extradição. Hong Kong em choque e sob pressão internacional

por Carlos Santos Neves - RTP
A polícia recorreu, na quarta-feira, a balas de borracha e gás lacrimogéneo para dispersar milhares de manifestantes em Hong Kong Thomas Peter - Reuters

Depois de ter vivido a pior vaga de violência desde o regresso à esfera da China, em 1997, Hong Kong é esta quinta-feira uma cidade debaixo de um apertado dispositivo de segurança. Milhares de habitantes da Região Administrativa Especial saíram na véspera às ruas para contestar um projeto de lei que revê as regras de extradição. A polícia reagiu com mão de ferro. O Ocidente exorta à contenção.

Ao amanhecer, eram poucos os manifestantes que permaneciam no coração financeiro de Hong Kong, segundo a estação local RTHK. Os espaços comerciais estão de portas fechadas. Estão também encerradas artérias sensíveis da cidade, assim como a estação de metro do Almirantado, no centro do teatro dos protestos.Os manifestantes expressam o receio de que as extradições para a China exponham os sete milhões de habitantes de Hong Kong a eventuais violações de Direitos Humanos.


A resposta da polícia às manifestações de quarta-feira incluiu o recurso a balas de borracha e granadas de gás lacrimogéneo. Largos milhares de pessoas invadiram as ruas para exigir ao Executivo o recuo num projeto de lei que abre caminho a extradições para a China continental.

Os manifestantes bloquearam, por sua vez, estradas e arremessaram barras de ferro e pedaços de pavimento às forças de segurança. Acercaram-se também do Conselho Legislativo, que acabaria por adiar uma reapreciação do controverso projeto legislativo.

Há notícia de pelo menos 79 pessoas feridas, duas das quais em estado grave.

O diploma tornou-se também alvo de críticas por parte das diplomacias ocidentais. A União Europeia veio nas últimas horas afirmar que “partilha várias preocupações suscitadas pelos cidadãos de Hong Kong”, apelando ao respeito pelos direitos dos manifestantes.

A peça legislativa em causa, acrescentou o bloco europeu, acarreta “consideráveis consequências potenciais para Hong Kong e a sua população, para cidadãos europeus e estrangeiros, assim como para a confiança das empresas em Hong Kong”.

A chefe do Executivo de Hong Kong faz outra leitura dos acontecimentos. Carrie Lam queixa-se de “motins organizados” que “atingem uma sociedade pacífica e ignoram a lei e a disciplina”. Ações que considerou ainda “inaceitáveis para qualquer sociedade civilizada”.
“Uma solução com Pequim”

Na perspetiva das autoridades, o projeto de lei vem preencher um vazio jurídico. E prevenir que Hong Kong, um centro financeiro de escala internacional, se torne um santuário para determinadas formas de criminalidade. Afiançam, por último, que a liberdade de expressão será salvaguardada. Os adversários do projeto receiam isto mesmo.A China veio entretanto denunciar o que considera ser uma "ingerência" da União Europeia.

A partir de Londres, o Governo britânico considerou já “vital” que o projeto de lei não colida com o acordo que entregou à China a antiga possessão colonial.

Ao abrigo do processo de 1997, Hong Kong vive em regime semiautónomo. A fórmula “um país, dois sistemas” significa, por exemplo, a proteção da liberdade de expressão e a independência judicial.

Em Washington, as imagens da repressão em Hong Kong levaram o Presidente dos Estados Unidos a apelar à procura de “uma solução” que envolva o poder de Pequim.

“Compreendo os motivos para estas manifestações, mas estou seguro de que vão encontrar uma solução, espero que sejam capazes de encontrar uma solução com a China”, reagiu Donald Trump.

c/ agências
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