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Liberdade mundial na Internet diminui com avanços da inteligência artificial

por Rachel Mestre Mesquita - RTP
"Os distribuidores de desinformação recorreram a ferramentas de IA para fabricar imagens, áudio e texto, confundindo ainda mais os limites entre a realidade e o engano", denunciou o relatório. Dado Ruvic - Reuters

A liberdade na Internet está a diminuir em todo o mundo pelo 13.º ano consecutivo, impulsionada pelos avanços da inteligência artificial, alerta um novo relatório divulgado esta quarta-feira pela organização Freedom House. O documento destaca os perigos da IA generativa e explica como esta está a impulsionar a disseminação da desinformação e da propaganda, a favor dos governos, nomeadamente da China, apontada como o pior ambiente online, e do Irão, o país em maior declínio.

A organização sem fins lucrativos Freedom House, com sede em Washington, explica que embora os avanços na inteligência artificial ofereçam benefícios para a sociedade, estão a ser aproveitados pelos governos para reforçar controlos de informação, potencializar campanhas de desinformação e aperfeiçoar formas de censura online. "Os distribuidores de desinformação recorreram a ferramentas de IA para fabricar imagens, áudio e texto, confundindo ainda mais os limites entre a realidade e o engano", denunciou o relatório.

Segundo o relatório "Freedom on the Net 2023: The Repression Power of Artificial Intelligence" ou “Liberdade na Internet 2023: O poder de repressão da inteligência artificial”, em português, a repressão na Internet tem vindo a aumentar devido aos avanços na inteligência artificial, com sistemas automatizados que podem gerar texto, áudio e imagens cada vez mais sofisticados, acessíveis e fáceis de utilizar. "A IA pode ser usada para potencializar a censura, a vigilância e a criação e disseminação de desinformação", afirmou o presidente da Freedom House, Michael J. Abramowitz.


Entre junho de 2022 e maio de 2023, o relatório mostra que pelo menos 47 governos, nomeadamente de Rússia, China, Brasil, Índia, Angola, México, Venezuela ou Nigéria, recorreram a comentadores para manipular as discussões online a seu favor, o dobro do número registado há uma década.

Neste período, a inteligência artificial foi utilizada para semear dúvidas, difamar os opositores ou influenciar o debate público em 16 países, entre os quais a China, Brasil, França, Reino Unido, Estados Unidos ou Canadá.

Para o presidente da organização norte-americana Freedom House, “esta é uma questão crítica para o nosso tempo, uma vez que os Direitos Humanos online são um alvo fundamental dos autocratas de hoje".

"Os Estados democráticos devem reforçar a sua regulamentação da IA para proporcionar mais transparência, fornecer mecanismos de supervisão eficazes e priorizar a proteção dos direitos humanos", defendeu Michael J. Abramowitz.
Maiores repressores de liberdade na Internet
Ainda segundo o relatório "Freedom on the Net 2023”, a repressão digital intensificou-se no Irão, o país que registou o maior declínio do ano, com as autoridades iranianas a encerrarem o serviço de Internet, a bloquearem redes sociais como o WhatsApp e o Instagram e a aumentarem a vigilância numa tentativa de reprimir protestos contra o governo. "O maior declínio ocorreu no Irão, seguido pelas Filipinas e depois pela Bielorrússia, Costa Rica e Nicarágua ", segundo a organização.

No entanto, apesar do declínio acentuado da liberdade no Irão, é na China que se constata o pior ambiente do mundo para a liberdade na Internet, pelo nono ano consecutivo. Apesar de o Myanmar ter estado perto de ultrapassar a China como o país com as piores condições para a liberdade na Internet.

O relatório expõe que tanto o regime autoritário do Irão como o do Myanmar executaram sentenças de morte contra pessoas condenadas por crimes relacionados com a expressão online. E que também na Bielorrússia e no Nicarágua, a liberdade caiu drasticamente, onde cidadãos foram condenados a “penas de prisão draconianas” por falarem online. As condições deterioram-se em 29 dos países analisados e melhoraram em outros vinte, apesar dos ataques à liberdade de expressão se terem verificado em todo o mundo, segundo o relatório.

Num número recorde de 55 dos 70 países abrangidos, cidadãos enfrentaram repercussões legais por se expressarem online, enquanto outros enfrentaram agressões físicas ou morreram devido aos seus comentários na Internet em 41 países.

Esta edição do relatório sublinha que, apesar das inovações nas tecnologias de inteligência artificial contribuírem pelo 13.º ano consecutivo para o declínio mundial da liberdade na Internet, as formas mais antigas de repressão continuam a proliferar.

O “Freedom on The Net” é um projeto que avalia todos os anos a liberdade na Internet em 70 países, que representam 88 por cento dos internautas em todo o mundo.
A avaliação é feita através de uma metodologia padrão utilizada para determinar a pontuação de liberdade na Internet de cada país numa escala de 100 pontos, com 21 indicadores separados relativos a obstáculos ao acesso, limites de conteúdo e violações dos direitos dos utilizadores.
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