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Líbia. Guardas acusados de alvejar migrantes em fuga a bombardeamento

por Carlos Santos Neves - RTP
No centro de detenção de Tajura permanecem perto de 500 pessoas Ismail Zitouny - Reuters

Migrantes e refugiados detidos no complexo de Tajura, nos arredores de Tripoli, terão sido alvo de disparos dos guardas líbios ali destacados, quando tentavam escapar a um bombardeamento aéreo. É o que sugerem relatos recolhidos pelo Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas. O primeiro relatório foi agora revelado, dois dias após o ataque.

Segundo o relatório com a chancela da ONU, na noite de terça-feira foram levadas a cabo duas vagas de bombardeamentos. A primeira atingiu uma garagem desocupada no centro de detenção de Tajura, subúrbio a leste da capital da Líbia. A segunda visou um hangar com 120 migrantes e refugiados.

Morreram pelo menos 53 pessoas, entre as quais seis crianças. Outras 130 pessoas ficaram feridas.Para já, o Governo de União Nacional – reconhecido internacionalmente – mantém-se em silêncio face ao relatório da ONU.


O Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários revela ter recolhido informações a dar conta de disparos efetuados pelos guardas líbios do complexo sobre “alguns refugiados e migrantes”, no momento em que estes “tentavam escapar”.

“Esta não é a primeira vez que o centro de detenção de Tajura é atingido, devido à sua proximidade direta a uma base militar e à sua localização. Dois indivíduos dentro do centro de detenção ficaram feridos a 7 de maio quando um bombardeamento aéreo contra forças do Governo de União Nacional próximas impactou o centro”, lê-se no documento.

“Apesar disto, as autoridades continuaram a transferir refugiados e migrantes para Tajura. Mais de 600 refugiados e migrantes, incluindo mulheres e crianças, estavam a ser mantidos contra a sua vontade no centro de detenção de Tajura no momento do ataque”, acrescenta a estrutura das Nações Unidas.

No relatório, lê-se também que as autoridades líbias continuam a retirar corpos dos escombros do complexo de Tajura, pelo que deverá aumentar o número de vítimas do ataque atribuído ao Exército Nacional Líbio, do marechal sublevado Khalifa Haftar, que domina o leste do país magrebino e cujo bastião é a cidade de Bengazi.

No centro de detenção de Tajura permanecem perto de 500 pessoas. Para esta quinta-feira estava prevista a libertação de quatro migrantes nigerianos. Há também a promessa de transferência de 31 mulheres e crianças para instalações do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados na Líbia.
“Número de baixas quase duplicou”

O balanço de vítimas do bombardeamento de terça-feira é o mais elevado desde o início, há três meses, da ofensiva terrestre e aérea das forças de Haftar sobre Tripoli.

“O número de baixas civis causadas pelo conflito quase duplicou em resultado deste único ataque”, sublinha o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários.

O ministro líbio do Interior, Fathi Ali Bashagha, afirmou que Tripoli está a ponderar o encerramento da totalidade dos centros de detenção de migrantes. Só em complexos da capital estão nesta altura retidas milhares de pessoas.

A Líbia é um dos pontos de partida para migrantes africanos que procuram chegar a Itália. Muitos são intercetados durante a travessia e de novo transportados para solo líbio, com o assentimento europeu. Foi o que aconteceu a 12 de maio, ainda segundo o relatório, a 108 refugiados e migrantes recolhidos pela Guarda Costeira líbia: acabaram retidos em Tajura.

c/ agências
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