Dezenas de mortos em ataque a centro de detenção de migrantes na Líbia

por Carlos Santos Neves - RTP
Migrantes africanos fotografados no complexo de detenção de Tajura, no noroeste da Líbia Ismail Zitouny - Reuters

Um bombardeamento aéreo sobre um centro de detenção de migrantes nos arredores de Tripoli fez mais de 40 mortos. O ataque está a ser atribuído às forças do marechal Khalifa Haftar, que há três meses procura apoderar-se da capital da Líbia, controlada pelo Governo reconhecido pelas chancelarias internacionais.

Às primeiras horas desta quarta-feira, os socorristas ainda procuravam possíveis sobreviventes entre os escombros do complexo que servia de centro de detenção de migrantes, segundo a France Presse. Cento e vinte pessoas ocupavam o espaço.O Alto Comissariado da ONU para os Refugiados já veio instar a uma investigação ao bombardeamento na capital líbia.

O balanço de vítimas do bombardeamento da véspera é ainda provisório. Citada pela Reuters, a missão da ONU na Líbia refere 44 vítimas mortais e mais de 130 feridos.

O Governo de União Nacional emitiu entretanto um comunicado a denunciar “um crime odioso”. E a atribuir o bombardeamento a Khalifa Haftar, o marechal que domina o leste do país magrebino e cujo bastião é a cidade de Bengazi. As autoridades de Tripoli classificam-no mesmo como “criminoso de guerra”.

A autoria do raid sobre o centro de migrantes não foi ainda reclamada. Contudo, os meios de comunicação conotados com Khalifa Haftar davam contam, na última noite, de “uma série” de bombardeamentos em Tripoli e Tajura, no noroeste da Líbia.

As forças de Haftar – denominadas Exército Nacional Líbio - ameaçaram acentuar esta semana a ofensiva contra o Governo de União Nacional. Isto depois de terem perdido o controlo de Gharyan, a 100 quilómetros da capital.ACNUR “extremamente preocupado”
Na rede social Twitter, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados exprimiu preocupação com as informações saídas da Líbia.
“O ACNUR está extremamente preocupado com as notícias de ataques aéreos contra o centro de detenção de Tajura, a leste de Tripoli, e os relatos de refugiados e migrantes mortos. Os civis nunca deveriam ser um alvo”, lê-se na conta do organismo da ONU.

Adiante, o Alto Comissariado enuncia “três mensagens-chave”: migrantes e refugiados “não devem ser detidos”; a Líbia “não é um local de regresso seguro”; os países com poder de influência “devem cooperar para acabar com o conflito, ao invés de o alimentarem”.

As forças beligerantes na Líbia acusam-se mutuamente do recurso a combatentes mercenários e meios aéreos de potências estrangeiras. O Exército Nacional Líbio de Haftar estará a contar com o apoio continuado dos Emirados Árabes Unidos e do Egito, ao passo que as forças leais ao Governo de União Nacional têm sido abastecidas pela Turquia.

A Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (UNSMIL, na sigla inglesa) alerta repetidamente para a situação precária de aproximadamente 3500 migrantes e refugiados “em perigo” nos “centros de detenção situados perto de zonas de conflito” da Líbia.

Em comunicado, o Ministério português dos Negócios Estrangeiros veio condenar “veementemente” o bombardeamento sobre o centro de detenção de migrantes.

“Este novo acontecimento trágico reforça a convicção do Governo português de que urge acordar um cessar-fogo entre todas as partes atualmente envolvidas no conflito militar na Líbia e retomar as negociações políticas conduzidas sob a égide das Nações Unidas”, escrevem as Necessidades.

c/ agências
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