Líder indígena do povo Karipuna garante resistência contra quem quer destruir floresta

por Lusa

Cidade do Vaticano, 05 out 2019 (Lusa) -- O líder do povo indígena Karipuna, na Amazónia brasileira, prometeu hoje resistência e existência contra quem quer destruir a maior floresta tropical do mundo.

"Nós vivemos e vamos continuar sempre a lutar, a resistir e a existir para proteger a floresta amazónica como um todo", afirmou à agência Lusa Adriano Karipuna, de 33 anos, líder do povo Karipuna, no Estado brasileiro da Rondónia.

No Vaticano, onde se encontra, para participar no Sínodo dos Bispos sobre a Amazónia, que começa no domingo, Adriano Karipuna criticou o Presidente brasileiro por desrespeitar as populações indígenas.

"Ele diz que tem de se acabar com a floresta amazónica do Brasil e também os rios e toda a biodiversidade", declarou o líder indígena, acusando Jair Bolsonaro de discriminar "os povos indígenas que são verdadeiros guardiões da floresta".

Líder de um povo de 58 pessoas que defende um território de 150 mil hectares desde 1976, Adriano Karipuna pede mais atenção para a Amazónia.

"O que o mundo precisa é olhar para a Amazónia e para os povos indígenas com mais atenção e deixar de discriminar os povos indígenas", apelou, deixando um pedido particular à União Europeia: "[Que] veja com muita atenção, com muito cuidado" o acordo com o Mercosul.

"Nós sabemos que as florestas estão a acabar-se por conta da agropecuária e exportação de grão [soja]", declarou, referindo que a situação está "a matar os povos indígenas que vivem dentro da floresta e que protegem a floresta amazónica".

Sobre Bolsonaro, que após ser eleito chefe de Estado garantiu que "não haverá delimitação de terras indígenas", pois "os índios não podem ser confinados a uma reserva, como um animal num zoológico", Adriano Karipuna não tem dúvidas de que o Presidente do país "não é bom para os povos indígenas".

"Ele é maldoso, diz que os indígenas não trabalham, não precisam da floresta. Isso é uma falácia, é uma conversa sem nexo", salientou o líder Karipuna, considerando que afirmações como esta ajudam "as pessoas que já querem acabar com a floresta", como "os grandes fazendeiros" ou "os grandes plantadores de grão".

Sobre o Sínodo dos Bispos dedicado à Amazónia, que foi convocado pelo Papa, Adriano Karipuna considera que Francisco está a dizer que "os povos originários do Brasil precisam de ser respeitados, cuidados", além de eliminar o "preconceito de que os povos indígenas têm de ser massacrados e exterminados".

Vestindo uma `t-shirt` na qual se lê "A causa indígena é de todos nós!", Elza Nâmnâdi Xerente, do povo índio Xerente, do Estado brasileiro de Tocantins, que também vai participar no sínodo, afirmou estar presente em Roma para defender a Amazónia que, "este ano, queimou muito".

"Morreram muitos animais e os povos indígenas sentem muito. (...) Todo o ser humano devia defender os animais como os povos indígenas. Nós amamos muito a nossa floresta, árvore e terra", acrescentou.

A Amazónia, que tem a maior biodiversidade registada numa área do planeta, tem cerca de 5,5 milhões de quilómetros quadrados e inclui territórios do Brasil, Peru, Colômbia, Venezuela, Equador, Bolívia, Guiana, Suriname e Guiana Francesa (pertencente à França). Foi fustigada por incêndios em agosto.

Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) a desflorestação da Amazónia aumentou 222% em agosto em relação ao mesmo mês de 2018.

De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), entidade coordenadora e principal executora da política para os indígenas do Governo do Brasil, a população indígena do país é de 817.963 pessoas, das quais 502.783 vivem em zonas rurais e 315.180 habitam as zonas urbanas.

O Papa Francisco anunciou um sínodo especial sobre a Amazónia em 15 de outubro de 2017, que arranca no domingo e termina no dia 27. Tem como tema "Amazónia: Novos caminhos para a Igreja e por uma ecologia integral".

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