Londres acusa China de fornecer "ajuda letal" à Rússia, Washington não confirma

por Carla Quirino - RTP
Grant Shapps, secretário de Estado britânico da Defesa Isabel Infantes - Reuters

A China está a enviar "ajuda letal" à Rússia para impulsionar o esforço de guerra contra a Ucrânia, acusa o ministro britânico da Defesa, Grant Shapps, uma declaração sem precedentes e em aparente dissonância com os Estados Unidos.

É a primeira vez que a Grã-Bretanha acusa a China de fornecer à Rússia armas para utilização na Ucrânia. Informações dos serviços secretos da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos estariam na base das declarações de Grant Shapps, o ministro da Defesa do Reino Unido. Todavia, o conselheiro de Segurança Nacional da Administração Biden veio entretanto temperar as alegações do governante britânico.

“Hoje posso revelar que temos provas de que a Rússia e a China estão a colaborar em equipamento de combate para uso na Ucrânia”, afirmou Shapps na quarta-feira.

Durante um discurso perante a Conferência de Defesa de Londres e como parte de um apelo à NATO para “acordar”, o ministro britânico instou a um reforço dos gastos em 2,5 por cento do Produto Interno Bruto na defesa dos países-membros da Aliança Atlântica.“É hora de o mundo acordar. E isso significa traduzir este momento em planos e capacidades concretas. E isso começa com o estabelecimento das bases para um aumento de gastos em toda a aliança na nossa dissuasão coletiva”, acentuou o ministro britânico da Defesa.

Shapps sublinhou que “os serviços de informações militares de dos EUA e do Reino Unido podem revelar que a ajuda letal está agora a voar da China para a Rússia e para a Ucrânia”.

“E esta é uma nova informação que me leva a sair do sigilo e revelar este facto hoje. Acho que é bastante significativo”, acrescentou.

Shapps não forneceu provas para apoiar sua afirmação e apenas citou os serviços secretos dos dois países aliados. Porém, argumentou com dados que apontam um aumento de 64 por cento no crescimento do comércio entre os Rússia e China, desde o início da invasão da Ucrânia.

“Eles estão a proteger-se um ao outro”, sustentou. "Devíamos estar preocupados com isso porque nos primeiros dias desta guerra a China demonstrou interesse em apresentar-se como influência moderadora sobre" o presidente russo, Vladimir Putin, rematou Shapps.
Jake Sullivan contraria acusação
O conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, já veio contrariar as declarações de Shapps, afirmando que não houve, ainda, sinal de transferência direta de armas entre Pequim e Moscovo.

“A possibilidade de a China fornecer diretamente assistência letal à Rússia” tinha sido uma preocupação colocada em cima da mesa. “Não vimos essa manobra até agora”, realçou Sullivan.

O responsável não esconde, todavia, que os EUA mantêm a “preocupação com o que a China está a fazer para alimentar a máquina de guerra da Rússia, não fornecendo armas diretamente, mas fornecendo outros bens (matérias primas) para a base industrial de defesa da Rússia”.

Por exemplo, a compra de petróleo e gás russo por parte de Pequim ajudou a impulsionar a economia do país de Putin, assim como o fornecimento de tecnologia de drones e mísseis, imagens de satélite e máquinas, disseram altos funcionários dos EUA no mês passado.

De acordo com a agência Reuters, a embaixada chinesa em Londres ainda não respondeu a um pedido de comentário sobre as acusações de Shapps.

As últimas reações da embaixada aconteceram no mês passado, quando esta argumentou que Pequim não forneceu armamento e que “não é um produtor ou parte envolvida na crise da Ucrânia”.
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